"Não entrei no governo para servir a um mestre", diz Moro à revista ‘Time’

O ex-ministro também disse que viu o convite para ingressar no governo Bolsonaro como uma "oportunidade para consolidar as conquistas da Lava Jato e fortalecer permanentemente a lei em Brasília"

10:15 | Mai. 22, 2020

Por: Redação O POVO
De acordo com o ministro, o assunto ganha repercussão por causa dos "arroubos retóricos" do presidente Jair Bolsonaro (foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasi)

Em entrevista à revista norte-americana "Time", o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro disse que não entrou no governo Jair Bolsonaro "para servir um mestre", mas sim para "servir ao País, à Lei". O ex-juiz da Lava Jato relatou à publicação sua passagem pelo primeiro escalão do Executivo que fez ao renunciar ao cargo no fim de abril

Moro disse que não teve a intenção de atingir o Governo com a renúncia. "Mas eu não me sentiria confortável com minha consciência sem explicar porque eu estava saindo", disse. As informações são do Estadão.

Ao anunciar a saída do governo, o ex-ministro acusou Bolsonaro de tentar interferir no comando da PF para obter informações sigilosas. A declaração levou à abertura de um inquérito, atualmente voltado para a divulgação de gravação de reunião ministerial do dia 22 de abril, encontro no qual, segundo Moro, o presidente afirmou que iria interferir em todos os ministérios para obter relatórios de inteligência.

Leia também | Vídeo revela que Bolsonaro queria mudar comando da PF para proteger familiares, dizem jornais

De acordo com um trecho transcrito pela Advocacia-Geral da União, Bolsonaro teria dito: “Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o Ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”.

O Planalto alega que o uso da palavra ‘segurança’ se trata da segurança pessoal do presidente – mas Moro afirma que se trata da chefia da Polícia Federal no Rio, foco de interesse da família presidencial.

"Falei que seria uma interferência política, ele disse que seria mesmo", afirma Moro sobre relação do presidente com PF  

Nessa entrevista à Time, Moro disse que viu o convite para ingressar no governo Bolsonaro como uma "oportunidade para consolidar as conquistas da Lava Jato e fortalecer permanentemente a lei em Brasília". No entanto, após sucessivas derrotas no comando da Justiça ocasionadas até pela falta de apoio do Planalto, sua permanência no governo passou a "perder o sentido".

O sentimento teria se agravado após a aproximação de Bolsonaro com parlamentares do Centrão: “Eu não posso estar em um governo se não tenho um compromisso sério contra a corrupção e o Estado de Direito”, disse.

Ao ser questionado se aceitaria o posto em uma eventual vitória petista em 2018, Moro respondeu que isso ‘não seria possível sem que o PT reconheça seus erros passados’. “Precisa ser um compromisso sério”, afirmou. “Infelizmente, o governo que foi eleito também não tinha isso.”

Leia também | "Faça a coisa certa", diz Moro no Twitter, no dia seguinte à demissão