Evangélicos pressionam por reabertura de templos; Dra. Silvana mostra insatisfação com Camilo
Em reunião com governador, líderes religiosos pediram reabertura de templos. Na Assembleia, deputados ligados a igrejas se sentem contrariados com determinações
17:58 | Abr. 28, 2020
Lideranças evangélicas no Ceará têm reforçado articulação junto ao governador do Estado Camilo Santana (PT) pela reabertura de templos evangélicos fechados por decreto com diretrizes de combate à pandemia do novo coronavírus, que se alastra pelo Estado. A administração estadual ouviu reivindicações de pastores por meio de videoconferência na última sexta-feira, 24.
No mesmo dia da reunião, membros da Ordem dos Ministros Evangélicos do Ceará (Ormece) assinaram nota pedindo a retirada dos templos do decreto estadual que estampa série de restrições ao convívio social. A alegação central deles é de que a determinação vai na contramão do princípio constitucional que assegura o exercício de cultos religiosos e a proteção aos locais de prática da fé.
"Se o vírus ataca o corpo, o pânico, a fobia, a depressão, a solidão, a desorientação e o desespero surgem também nesse momento. Pessoas têm cometido ou tentado suicídio", argumentam os pastores em um dos trechos do documento. Os religiosos têm o apoio político dos deputados estaduais protestantes Dra. Silvana (PL), David Durand (Republicanos) e Apóstolo Luiz Henrique (PP). Deputado federal e esposo de Silvana, Jaziel Pereira reforça o pleito dos aliados.
O vice-presidente da Convenção das Assembleias de Deus do Ceará (Conadec), João Gonçalves, afirmou diretamente a Camilo na reunião que "nosso povo é obediente" e as igrejas podem coordenar a ida dos fiéis às igrejas seguindo protocolos de segurança e saúde. Para isso, de acordo com a sugestão dele, as celebrações podem ocorrer até mesmo com público reduzido.
"Se o senhor (Camilo) determinar que cada culto funcione com cinquenta pessoas, vai funcionar, sim, cada culto com 20 pessoas, vai acontecer", propôs Gonçalves de acordo com vídeo obtido por O POVO.
Base de Camilo
A presença dos templos no conjunto de restrições determinadas pelo Governo do Ceará desagrada Dra. Silvana. Ela e Durand, antes governistas, agora se movimentam para fora da base da Camilo na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE). Além da crise de saúde, os dois também apoiarão Capitão Wagner (Pros) na disputa à Prefeitura de Fortaleza, que é opositor do grupo político do petista.
"Eu vi com muita insatisfação a condução do Comitê de Crise. Fui atendida com a reunião depois de muito insistir. A minha visão é a de muitos pastores, aponta pra o entendimento que as igrejas deveriam desde o começo entrar cooperando e não sendo impostas por decreto. (...) A igreja deseja ser o que sempre foi na história da humanidade: protagonista para ajudar a sociedade e o Estado", disse Silvana, que é presidente da Comissão de Saúde da Assembleia, ao O POVO.
"Entendemos que as igrejas estão sofrendo abusos. Inclusive as Constituições Federal e Estadual estão sendo descumpridas. O papel social das igrejas está sendo renegado e o papel religioso impedido. As igrejas são sagradas", corroborou Durand, em nota enviada via assessoria de comunicação. Conforme frisou em maiúsculas, o Republicanos tem linha "imparcial e independente" dentro do Legislativo e "assim irá se manter".
O Governo do Ceará, por sua vez, se move no sentido de definir um modelo de flexibilização das medidas de isolamento social, seguindo o que outros estados estão fazendo. Vários setores já foram ouvidos para a definição de novas regras. Os templos religiosos trabalham para pelo menos estarem inseridos no novo decreto, caso não sejam contemplados anteriormente. As atuais diretrizes são válidas até o próximo dia 5.
Fonte do Abolição já havia dito reservadamente ao O POVO que a "palavra final" será do titular da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa-CE), o médico Dr. Cabeto. Até 9h20min desta terça-feira, já são 6,9 mil infectados e 415 mortes por Covid-19 confirmadas, de acordo com números da pasta.
Como O POVO já mostrou, integrantes da bancada evangélica na Assembleia apresentaram projetos de lei para que a atividade religiosa seja caracterizada como essencial, como é o funcionamento de supermercados ou farmácias. Vitor Valim (Pros) foi no mesmo sentido e, no último dia 13, protocolou proposta de mesmo teor.
"Estamos administrando alternativa", diz secretário
Nelson Martins, secretário de Relações Institucionais do Governo e um dos encarregados pelo diálogo com o Legislativo estadual, afirmou que todos os parlamentares receberão atenção do Governo, sejam ou não apoiadores de Camilo.
"Estamos administrando uma alternativa em relação a isso. Problema é que estamos dentro de uma pandemia, onde os casos em Fortaleza estão crescendo muito. Estamos aguardando até o dia 5 de maio (quando expira o decreto do governador), que é quando teremos nova decisão em relação à continuidade das medidas", afirmou o secretário.
Martins ainda frisou que a importância de todas as igrejas é reconhecida pela gestão, com a ponderação de que Camilo tem trabalhado com base nas orientações técnicas. Martins lembrou que uma das alternativas buscadas tanto por católicos como por evangélicos é a realização de cultos online.