Meio ambiente, combate ao socialismo e "ideologia de gênero" marcam discurso de Bolsonaro na ONU
Os discursos na ONU diante de líderes de 192 países têm valor simbólico e são utilizados por representantes dos governos para ressaltar prioridades de seus países, buscando se destacar no cenário globalJair Bolsonaro fez nesta terça-feira, 24, o discurso de abertura na Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos. Em pouco mais de 30 minutos, Bolsonaro diz ter apresentado ao mundo um País "reconstruído a partir dos anseios e ideais de seu povo". Meio ambiente, socialismo, ideologias de esquerda e "ideologia de gênero" estiveram presentes na fala do presidente, que buscou mostrar uma quebra marcante entre seu governo e o de seus antecessores.
Os discursos na ONU diante de líderes de 192 países têm valor simbólico e são utilizados por representantes dos governos para ressaltar prioridades de seus países, buscando se destacar no cenário global. Confira alguns dos principais pontos tratados por Bolsonaro nesta terça-feira.
Mais Médicos e Foro de São Paulo
O pesselista iniciou sua fala afirmando apresentar "um novo Brasil, que ressurge depois de estar à beira do socialismo". Segundo ele, seu governo está "trabalhando para conquistar a confiança do mundo, diminuindo o desemprego, a violência e o risco para os negócios". O imaginário socialista criado pelos conservadores sobre os governos alinhados à esquerda na América Latina foi atacado pelo presidente.
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AssineBolsonaro citou explicitamente Cuba e Venezuela e fez referências às gestões de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva. As críticas recaíram inclusive sobre o Programa Mais Médicos e o Foro de São Paulo. Diante dos ataques, a delegação cubana deixou o parlamento da ONU.
Segundo o Estadão, a delegação de Cuba fez diversas anotações enquanto o presidente discursava criticando o regime cubano. Depois de cerca de cinco minutos, os representantes se retiraram da sala e deixaram as cadeiras vazias até o fim do discurso. Já os representantes da Venezuela liam documentos particulares enquanto o Bolsonaro falava. Em alguns momentos, teceram comentários entre si.
O Foro de São Paulo é uma organização criada em 1990, pouco após a queda do Muro de Berlim, a fim de reunir partidos políticos e organizações de esquerda da América Latina e do Caribe para promover "alternativas às políticas neoliberais dominantes na região na época". O Foro se tornou plataforma de ataque de apoiadores de Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018. Na prática, e diferentemente dos discursos combativos conservadores, a organização teve pouca influência nas políticas brasileiras.
Meio ambiente
No discurso, Bolsonaro disse ainda que seu governo tem compromisso com a preservação do meio ambiente. "A Amazônia não está sendo devastada", afirmou. Ao dizer que a área segue "praticamente intocada", o governante criticou posicionamentos do G7 e afirmou qualquer iniciativa de ajuda ou apoio deve ser tratada com respeito à soberania brasileira.
O presidente reafirmou sua oposição a iniciativas internacionais que se oponham à soberania brasileira na Amazônia e rechaçou “tentativas de instrumentalizar a questão ambiental e políticas indigenistas” em prol de interesses externos. O governante disse que indígenas têm o direito de não viver isolados em povoados sobre terras alegadamente improdutivas. O argumento foi utilizado para justificar a não ampliação das terras demarcadas no País e incentivar a extração mineral.
"É uma falácia dizer que a Amazônia é a herança da humanidade, e um equívoco confirmado pelos cientistas dizer que nossas florestas são os pulmões do mundo", afirmou.
Bolsonaro ainda criticou a imprensa internacional pela publicação do que classificou como informações “sensacionalistas” sobre os incêndios na floresta e disse que é “falácia” afirmar que Amazônia é patrimônio da humanidade.
Apesar de afirmar que preza pela defesa do meio ambiente, o governo pesselista vem tomando atitudes que indicam intenções contrárias. Entre outras ações, até o fim de junho, foram liberados ao menos 262 agrotóxicos, alguns comprovadamente danosos à saúde e ao meio ambiente. A política ambiental do governo preocupa especialistas e põe acordos comerciais sob ameaça. Em junho, o desmatamento na Amazônia cresceu 88%
"Ideologia de gênero"
Bolsonaro atacou a invasão da ideologia na cultura e na educação, criticou o domínio do politicamente correto sobre o debate público e atribuiu o ataque que sofreu de Adélio Bispo de Oliveira à influência de ideologias.
Segundo ele, "a ideologia se instalou no terreno da cultura, da educação e da mídia, dominando meios de comunicação, universidades e escolas". "A ideologia invadiu nossos lares para investir contra a célula mater de qualquer sociedade saudável, a família".
No início do mês, o ministro da Cidadania, Osmar Terra, afirmou que o nome para a presidência da Agência Nacional de Cinema (Ancine) será conservador. Dias depois, a Agência voltou atrás em um edital do governo e cortou ajuda de custo para filmes com temáticas LGBT.
Bolsonaro ainda disse que o Brasil "reafirma seu compromisso intransigente com os mais altos padrões de direitos humanos, com a defesa da democracia e da liberdade de expressão religiosa e de imprensa". Segundo ele, esse é um compromisso que caminha junto com o combate à corrupção e à criminalidade. Exílio político, combate à perseguição religiosa e planos de liberdade econômica também foram abordados pelo presidente.