Presidentes de comissões participam de "posse popular" na OAB-CE

Com auditório repleto de representantes de movimentos sociais, presidente da Ordem no Ceará diz que Brasil passa por "verdadeiro retrocesso social". "As pessoas não estão mais com vergonha de dizer que são idiotas"

23:21 | Abr. 02, 2019

Por: Wanderson Trindade
Presidente da OAB-CE, Erinaldo Dantas: "As pessoas não estão mais com vergonha de dizer que são idiotas" (foto: Natália Rocha / OAB-CE)

Com direito à entrega de anel simbólico e ao som de cantigas indígenas, três presidentes de comissões da seccional cearense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-CE) participaram de cerimônia de “posse popular” na tarde desta terça-feira, 2. Em evento com a presença de representantes de diversos movimentos sociais, o presidente Erinaldo Dantas comemorou a retomada de ocupação da OAB-CE “pelo povo”.

“É muito importante que a gente tenha na OAB-CE todas as representações de pensamento humano. E é fundamental receber o retorno dos movimentos sociais à Ordem, para que ela volte a ter participação em todos os setores da sociedade, principalmente naqueles que trabalham com a advocacia mais progressista”, declarou Erinaldo.

Em auditório na sede da OAB-CE, no bairro Patriolino Ribeiro, estiveram presentes integrantes de movimentos como: dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); dos Trabalhadores Sem Teto (MTST); de Pescadores e Pescadoras Artesanais; SOS Cocó; Pró Árvore; e Instituto Negra do Ceará. Representantes dos povos indígenas também participaram.

Toda essa multiplicidade foi posta na mesa do evento, o primeiro do tipo nesta gestão da OAB-CE, de Erinaldo Dantas. De acordo com ele, a diversidade é fator importante a ser discutido no Brasil atual, que estaria vivendo “verdadeiro retrocesso social”. “As pessoas não estão mais com vergonha de dizer que são idiotas e não conseguem entender que quem pensa diferente delas não significa que estejam errado”, enfatizou.

Erinaldo declarou ainda que aqueles que compõem a Ordem não estão lá para serem contrários ou favoráveis a qualquer governo. “Mas a favor da advocacia e do Estado Democrático e de Direito”, conceituou, complementando: “É fundamental que a gente entenda que pensar diferente não significa estar contra e, sim, que é preciso conversar mais e alinhar os pensamentos. Seria muito triste se no mundo todos pensassem igual”.

A cerimônia desta tarde empossou popularmente os presidentes de comissões: Virginia Porto (nos direitos humanos); João Alfredo (no direito ambiental); e Nadja Furtado Bortolotti (na defesa dos direitos da criança e do adolescente). Esta última explicou que cada comissão é considerada um “braço temático” da OAB-CE. “Por meio da nossa atuação, queremos ser um canal em que as pessoas possam procurar para, por exemplo, trazer denúncias de violação. O objetivo é de estar perto do povo e dos movimentos sociais”, afirmou.

Com o desafio de enfrentar, por meio da profissão, obstáculos do âmbito local ao nacional, como tentar criar mecanismos para diminuir a violência contra os jovens e “barrar” propostas de redução da maioridade penal, Nadja recorda a necessidade de ampliar a concepção de justiça na sociedade. “O advogado é também um dos instrumentos essenciais de acesso à Justiça e a gente quer ampliar essa concepção, que não é só o judiciário. É preciso o acesso aos direitos e a uma justiça que promova igualdade e a equidade social”, compara.