No aniversário do Golpe de 64, famosos relatam perseguição durante a Ditadura Militar
O regime ficou marcado pela tortura e pelas execuções contra adversários políticosA Ditadura Militar se caracterizou como uma das faces mais cruéis da história brasileira. Ao longo de seus 21 anos, entre 1964 a 1985, o regime arbitrou, torturou e executou centenas de adversários políticos. Neste domingo, 31, aniversário de 55 anos do golpe, famosos relataram perseguição sofrida durante o período antidemocrático.
Ex-jogador do Ceará Sporting Club, Nando Antunes contou que foi preso e torturado durante a ditadura. Irmão do ídolo flamenguista Zico, ele teve relato divulgado pelo UOL em que narra o horror vivido enquanto se aventurou na carreira de professor pelo Programa Nacional de Alfabetização, do Ministério da Educação, instalado pelo educador Paulo Freire.
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Nando relembrou que, no final dos anos 1960, foi levado juntamente com primos aos porões do Batalhão de Polícia do Exército, no Rio de Janeiro. “Botaram a gente num corredor onde tinha meia dúzia de celas… celas, não: aquela porra era uma jaula”, asseverou.
“A gente ficou no corredor, que era um lugar estreito, a noite inteira, até de manhã, com as mãos na cabeça, com a cara na parede. Quando o braço descia de cansaço, vinham com um mosquetão e diziam: 'Filho da puta, eu vou furar você, levanta a porra desse braço'”, memorizou.
O ex-atleta confirmou ter ficado sob o poder dos militares por quatro dias, tempo suficiente para marcar sua vida. “De noite era um negócio terrível. O grito das mulheres sendo torturadas é uma coisa que até hoje não sai da minha cabeça”.
Também no âmbito esportivo, o Sport Club Corinthians Paulista bateu de frente contra o regime. Nesta tarde, em seu perfil oficial no Twitter, o clube compartilhou foto da camisa usada em 1982 com os dizeres “Democracia Corinthiana”. À época, o movimento politizado era liderado pelos jogadores Sócrates, Wladimir, Casagrande e Zenon.
Na legenda da foto foi colocado m emoji de punho cerrado, em provável alusão às comemorações do ídolo Sócrates, um dos principais símbolos daquele time.
O escritor Paulo Coelho compartilhou seu sofrimento em artigo publicado no jornal estadunidense The Washington Post. À época compositor, o brasileiro relata que teve o apartamento, no Rio, invadido no dia 28 de maio de 1974. Levado ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), ele afirmou ter sido “fichado” sem ao menos saber o porquê. “Pergunto o que fiz, ele (tenente do Dops) diz que ali quem pergunta são eles”, escreveu.
Autor de O Alquimista – livro brasileiro mais vendido de todos os tempos –, Coelho revela que foi falsamente liberado após interrogatório, mas capturado em seguida. Ele destaca que “rodou” por meia hora em um carro até chegar a um destino desconhecido, pois estava encapuzado.
“Sou retirado e espancado enquanto ando por aquilo que parece ser um corredor. Grito, mas sei que ninguém está ouvindo, porque eles também estão gritando. ‘Terrorista’, dizem. ‘Merece morrer’”, mencionou o escritor, que depois foi colocado na “geladeira”, que seria uma sala em que só há “escuridão, frio e uma sirene que toca sem parar”.
Tendo perdido a noção de tempo, Paulo Coelho diz ter ficado naquele lugar por uma “eternidade” até ser liberado, em uma praça do Rio. “E são essas décadas de chumbo que o presidente Jair Bolsonaro – depois de mencionar no Congresso um dos piores torturadores como seu ídolo – quer festejar neste dia 31 de março”, pontuou.
A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) também se pronunciou contrária à ditadura, a qual classificou como “triste lembrança”. Presa e torturada pelo regime, a petista criticou a postura de Bolsonaro, que determinou ao Ministério da Defesa que fizesse as “devidas comemorações” neste 31 de março. “Os 55 anos do golpe militar no Brasil são, para todos nós que lutamos contra o arbítrio, pelas liberdades e pelos direitos humanos e sociais, uma triste lembrança”, complementou.
Candidato à Presidência pelo Psol nas últimas eleições, Guilherme Boulos relembrou de momento ocorrido durante debate da Rede Globo em que relatava sua preocupação com aquilo que ele sinaliza como “tão perto”, mesmo após passados 30 anos. “Se nós estamos aqui hoje, discutindo o futuro do Brasil, é porque teve gente que derramou sangue para ter democracia”, afirmou na ocasião.
“Quando eu nasci, o Brasil estava numa ditadura. Eu não quero que minhas filhas cresçam em um país com uma ditadura. Acho que temos de dar um grito neste momento, colocar a bola no chão e dizer 'ditadura nunca mais'”, enfatizou.
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