Lula depõe por quase três horas e volta à PF
Vídeos da audiência serão divulgados hoje
17:11 | Nov. 14, 2018
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já retornou à superintendência da Polícia Federal em Curitiba, de onde saiu pela primeira vez nesta quarta-feira, 11, para prestar depoimento. O ex-presidente foi interrogado na sede da Justiça Federal na capital paranaense sobre reformas feitas em um sítio em Atibaia, investigadas pela operação "Lava Jato". Na sede da PF, Lula cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão.
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A audiência, fechada à imprensa e sem transmissão ao vivo, estava marcada para as 14 horas (horário de verão, 13 horas em Fortaleza), a cargo da juíza Gabriela Hardt, substituta de Sérgio Moro, que se afastou das atividades de juiz após aceitar o convite do presidente eleito Jair Bolsonaro para ser ministro da Justiça. Lula começou a depor por volta das 15 horas (14 horas em Fortaleza) e deixou o local às 17h50min (16h50min em Fortaleza).
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Antes do ex-presidente, foi interrogado por cerca de uma hora o pecuarista José Carlos Bumlai, acusado de lavagem de dinheiro no âmbito do mesmo processo, que abrange 13 pessoas.
Lula, de 73 anos, chegou à sede da Justiça Federal em um carro da Polícia Federal às 13h40min. Uma forte operação de segurança acompanhou a caravana que deixou a superintendência da PF, em frente à qual dezenas de militantes cantavam e agitavam bandeiras de apoio ao ex-presidente (2003-2010).
O comboio deixou o prédio por uma porta traseira. "Sabíamos que não iam dar o gosto a Lula de nos ver, mas mandamos ânimo a ele do mesmo jeito para que sinta nossa companhia", disse Susi Montserrate, na vigília que se instalou em um terreno vizinho desde que Lula foi preso, em 7 de abril.
Pela manhã, o líder da esquerda recebeu seus advogados e Fernando Haddad, candidato do PT derrotado nas presidenciais de outubro, nas quais foi eleito Jair Bolsonaro com 55% dos votos.
Deputados e senadores do PT acompanharam a manifestação, assim como grupos mais numerosos de pessoas que foram até a sede da Justiça Federal do Paraná.
"Tínhamos muita expectativa de vê-lo. Faz 222 dias que está preso", disse Regina Cruz, líder sindical, em frente à sede da Justiça Federal.
Em um dia que começou com temperaturas elevadas e seguiu sob fortes chuvas, os manifestantes prometeram se manter ali até o final do interrogatório.
"Ele está preso sendo inocente, é um preso político, não houve provas, apenas montaram um circo este ano para impedi-lo de participar das eleições porque seria presidente de novo", afirmou Célia Pontkievicz.
Outros processos
Nesta ação, Lula responde por supostamente ter se beneficiado de reformas pagas pelas empreiteiras OAS e Odebrecht entre 2010 e 2014 em um sítio em Atibaia, interior de São Paulo. A promotoria o acusa de ser proprietário de fato do imóvel e de ter retribuído estas benfeitorias com vantagens em contratos com a Petrobras.
A defesa de Lula insiste na inocência do cliente e assegura que a propriedade não é dele.
Segundo especialistas, a sentença dificilmente vai sair antes de um mês e o mais provável é que seja proferida depois do recesso de fim de ano no Judiciário.
Na condenação de 12 anos e um mês de prisão, que cumpre atualmente, Lula foi considerado beneficiário de um apartamento no Guarujá, litoral de São Paulo, que teria recebido da OAS, também em troca de sua mediação em contratos com a Petrobras.
Lula responde a outros quatro processos, por corrupção passiva, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa. Em todos se declara inocente e denuncia uma conspiração para evitar que volte ao poder.
Em outubro, em plena campanha eleitoral, Bolsonaro afirmou que Lula vai apodrecer na prisão.
A juíza Hardt, linha dura como Moro
A escolha de Moro como ministro de Bolsonaro foi vista pela defesa de Lula como a prova definitiva de que Lula foi processado, condenado e preso sem ter cometido nenhum crime, com o claro objetivo de neutralizá-lo politicamente.
A saída de Moro abre uma nova etapa na "Lava Jato", operação que levou para a prisão ou ao banco dos réus centenas de empresários de primeira grandeza e dirigentes de quase todos os partidos, ao revelar um esquema de propinas, obtidas em troca de contratos com a Petrobras.
Gabriela Hardt, de 42 anos, é considerada uma juíza linha dura. Magistrada desde 2009, é substituta de Moro desde 2014. Ela comandará a investigação até ser escolhido o juiz titular que ficará no lugar de Moro.
AFP