Filho de ex-deputado Fernando Diniz nega depósito em conta de Cunha na Suíça
Cunha alegou que o montante foi depositado "à sua revelia" em 2011 pelo lobista João Henriques, que era ligado ao PMDB e foi preso na Operação Lava Jato. O presidente da Câmara disse suspeitar que o depósito referia-se ao pagamento de um empréstimo feito por ele ao ex-deputado Fernando Diniz, do PMDB, morto em 2009.
À PGR, o filho de Diniz confirmou, em depoimento prestado no dia 20 de outubro, que seu pai mantinha uma relação próxima a Cunha, mas disse desconhecer a existência de qualquer empréstimo. O advogado do economista, Cleber Lopes, confirmou à reportagem o teor do depoimento de seu cliente e afirmou que a versão apresentada por Cunha "não convence ninguém".
"Felipe nunca teve atividade político-partidária. Ele não tinha ingerência nas atividades do pai, mas essa versão não convence ninguém", afirmou o advogado, ressaltando que não quer "julgar a estratégia de defesa de ninguém".
Em depoimento à Polícia Federal, Henriques havia informado que enviou o dinheiro a pedido do Felipe Diniz e que não sabia quem era o beneficiário. Em 2007, primeiro ano do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, Cunha e Fernando Diniz eram muito amigos e integravam o "núcleo duro" do PMDB na Câmara.
Nesse período, Diniz teria perdido muito dinheiro em negócios fora do País e por isso, na versão do lobista João Henriques, pediu ajuda. Cunha disse ter feito então um empréstimo de US$ 1,5 milhão para o colega. A dívida teria, segundo relatos, "morrido junto com Diniz".
Henriques afirmou à Polícia Federal que abriu uma conta na Suíça para pagar propina ao presidente da Câmara, mas não especificou valores nem datas. Segundo ele, a suposta transferência para Cunha está ligada a um contrato da Petrobras relativo à compra de um campo de exploração de petróleo em Benin, na África. As declarações ampliam as suspeitas sobre o presidente da Câmara, que já foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por corrupção e lavagem de dinheiro.
Lopes disse ainda que Felipe Diniz confirmou ter mantido contato com Cunha e teve alguns encontros com o deputado, mas reforçou que seu cliente não tinha conhecimento dos negócios do pai.
O advogado de Diniz confirmou que Henriques e seu cliente tiveram uma relação próxima na época em que o lobista trabalhava na BR Distribuidora, mas que desde 2013 eles não mantêm mais contato. "Viajaram juntos para a Argentina, porque ele queria ter experiência em negócios internacionais, fazer consultoria, mas daí a ter relações com negócios de Cunha na Suíça tem uma distância oceânica", afirmou.
Segundo o advogado, Diniz também disse não ter conhecimento, no depoimento prestado dia 20 de outubro à PGR, se o ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada foi uma indicação de seu pai à estatal.
Henriques afirmou em depoimento que o ex-deputado Fernando Diniz - que presidiu o PMDB mineiro - o convidou para ser o diretor da área Internacional da Petrobras, mas o PT não aceitou a indicação. Quem assumiu o cargo foi engenheiro Jorge Luiz Zelada, que ocupou a cadeira de diretor de Internacional da estatal de 2008 a 2012. Zelada sucedeu Nestor Cerveró - ambos, Cerveró e Zelada, estão presos em Curitiba, base da Lava Jato.
Procurado, Cunha, por meio de sua assessoria, disse que não tem uma nova posição sobre o assunto e que já havia comentado esse episódio na entrevista que concedeu ao jornal O Estado de S.Paulo.
Sobre a denúncia de ter recebido 1,3 milhão de francos suíços do lobista João Henriques, Cunha apresentou para a reportagem documentos que, segundo ele, demonstram que foram feitos cinco depósitos em 2011 no truste Orion, mas que não houve movimentação financeira desde então.