Cisjordânia: o que é e por que Israel e Palestina dividem a região
A Cisjordânia fica entre Jerusalém, reivindicada por palestinos e israelenses, e a Jordânia, onde vivem mais de 3 milhões de habitantesA Cisjordânia é um dos territórios da Palestina — o outro é a Faixa de Gaza. Com dimensões parecidas às do Distrito Federal, são 5.655 quilômetros quadrados de área, a região é governada pela Autoridade Nacional Palestina (ANP) e praticamente toda cercada por um muro construído por Israel.
O histórico da região remonta ao Império Otomano e perpassa séculos de disputas territoriais, políticas e identitárias.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
A região que fica entre Jerusalém e a Jordânia foi oficialmente denominada Cisjordânia em 1949. Entenda a história.
O que está acontecendo na Cisjordânia?
A tensão na Cisjordânia está aumentando desde que o Hamas atacou Israel em 7 de outubro. O Exército israelense realizou na quinta-feira, 19, um ataque aéreo com drone no campo de refugiados de Nur Shams, na Cisjordânia.
Sessenta e quatro palestinos foram assassinados e 1.284 pessoas ficaram feridas, na Cisjordânia, desde o dia 7 de outubro. Os dados são do Escritório para Assuntos Humanitários das Nações Unidas (Ocha) que aponta a morte de 18 crianças. O número de vítimas tem crescido diariamente.
Segundo o Escritório da ONU, a maioria das mortes e agressões ocorre em um contexto de protestos contra o conflito que se desenvolve no Oriente Médio e é provocada tanto pelas “forças israelitas e dos colonos”, quanto pelas “forças de segurança palestinas”. Os colonos são os israelenses que vivem na Cisjordânia.
As Forças Armadas de Israel, por sua vez, informaram que têm desenvolvido operações na Cisjordânia contra o terrorismo. Desde o dia sete, as forças israelenses prenderam 524 suspeitos de atividades terroristas, sendo 330 dos presos acusados de serem agentes do Hamas.
Ainda segundo o Ocha, desde o dia 7 de outubro, 545 pessoas de 74 famílias palestinas foram deslocadas de 13 comunidades em meio ao aumento da violência na Cisjordânia. A instituição da ONU registrou 86 ataques de colonos contra palestinos nesse período de 12 dias.
Quando surgiu a Cisjordânia?
Por 400 anos, de 1517 a 1917, a área atualmente conhecida como Cisjordânia estava sob domínio do Império Otomano e era parte das províncias da Síria.
Após o fim da Primeira Guerra Mundial, as potências vitoriosas (Estados Unidos, Rússia, França e Inglaterra) alocariam a área da Palestina ao Mandato Britânico da Palestina (1920–1947).
A decisão consta na Resolução de San Remo, adotada em 25 de abril de 1920. Ela e o Artigo 22 do Pacto da Liga das Nações (precursora da ONU) foram os documentos básicos sobre os quais o Mandato Britânico na região foi construído. Os britânicos proclamaram Abdullah I como o emir da Transjordânia em 11 de abril de 1921, que declarou o país, hoje conhecido como Jordânia, um reino hachemita (descendente de árabes) independente em 25 de maio de 1946.
Em 1947, a região foi designada como parte de um futuro Estado árabe proposto pelas Nações Unidas (ONU), , como uma forma de tentar cessar a luta armada entre palestinos e israelenses. A resolução recomendava a partilha do Mandato Britânico em um Estado judeu, um Estado árabe e a cidade Jerusalém, esta sendo mantida como um enclave administrado internacionalmente.
Israel e Palestina: VEJA como começou este conflito histórico
Porém, a Guerra Árabe-Israelense de 1948 começou após essa tentativa de acordo e a área foi dominada pela Jordânia, enquanto Israel ocupava a área que hoje é a Faixa de Gaza.
Os Acordos de Armistício de 1949 definiram a fronteira provisória entre Israel e Jordânia. A área a oeste do Rio Jordão foi anexada à Jordânia e chamada de Cisjordânia. A anexação nunca foi formalmente reconhecida pela comunidade internacional, exceto por Reino Unido e Iraque.
O governo jordaniano durou 18 anos, até 1967, quando Israel tomou o território durante a Guerra dos Seis Dias, mesma época em que foram anexadas a Península do Sinai, o Egito, as Colinas de Golã, a Síria e a Faixa de Gaza.
Israel enfrenta profundas divisões sociais, 75 anos após sua criação; ENTENDA
Os acordos de Oslo entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em 1993, deram maior autonomia à Cisjordânia, já que foi estabelecida a Autoridade Nacional Palestina (ANP) no território. O objetivo era “preparar o terreno” para um futuro Estado palestino, assim como era a promessa em Gaza.
Cisjordânia: dividida entre Israel e palestinos; veja mapa e principais cidades
A continuação dos acordos de Oslo estabeleceu três áreas de responsabilidade dentro da Cisjordânia:
- Área A: compreende cerca de 20% do território e e é mais povoado por palestinos. Lá a ANP tem controle total dos assuntos civis e da segurança;
- Área B: onde a ANP tem total controle dos assuntos civis, mas Israel também participa do controle de segurança. Compreende outros 20% do território;
- Área C: é 60% do território da Cisjordânia. Lá está a maior parte dos colonos israelenses, e também as zonas rurais menos povoadas. Israel mantém todo o controle dessa área.
Diferente do que pode parecer diante da descrição acima, as áreas A, B e C não estão completamente separadas. As áreas estão entremeadas e coexistem uma dentro da outra.
As principais cidades da Cisjordânia, tanto em população como em importância histórica e política, são Hebron, Nablus, Belém, Rafah e Ramallah.
Qual é a população da Cisjordânia?
O território não tem acesso ao mar Mediterrâneo, mas é banhado pelas águas do mar Morto. Conforme a Enciclopédia Britannica, a população da Cisjordânia é estimada em 3.923.000, incluindo 305.000 judeus israelitas.
Conforme um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2021, a região tem quase 86% da população palestina e é cercada de assentamentos israelenses.
Segundo a ONU, mais de 871 mil refugiados registados vivem na Cisjordânia, cerca de um quarto dos quais vive em 19 campos de refugiados. A maioria dos outros vive em cidades e vilarejos da Cisjordânia. Alguns acampamentos estão localizados próximos a grandes cidades e outros em áreas rurais.
Porque existem campos de refugiados na Cisjordânia?
Embora a Cisjordânia tenha o maior número de campos de refugiados palestinos reconhecidos pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), o maior deles, Balata, tem uma população semelhante à do menor campo de Gaza.
A situação dos palestinos em campos de refugiados remonta à história da região e do próprio conceito de refúgio. Com a guerra árabe-israelense de 1948, que consolidou a fundação do Estado de Israel, entre 700 mil e 750 mil palestinos que viviam na região, até então um protetorado britânico, deslocou-se para países árabes vizinhos — um êxodo ao qual se referem como "nakba", palavra árabe para catástrofe.
Uma vez em países como Egito, Líbano, Jordânia e Síria — e Gaza e Cisjordânia, que ficaram sob domínio de alguns desses países —, os palestinos não foram incorporados às comunidades locais nem receberam nacionalidade em seus novos lares.
Em um contexto de pós-Segunda Guerra Mundial, diante de um vácuo legal (o estatuto do refugiado só foi criado em 1951) e da vulnerabilidade extrema a qual os palestinos estavam expostos, a ONU criou a UNRWA em 1949. Foi quando começaram a ser erguido os campos — que hoje são bairros densamente povoados.
Com Cisjordânia e Gaza sob domínio de Jordânia e Egito, respectivamente, a UNRWA começou a trabalhar na região no pós-Guerra. Isso não mudou quando Israel passou a administrar civilmente as regiões, após conflitos nas décadas seguintes. O status dos palestinos também não mudou após 1995, quando o controle dos territórios foi repassado à Autoridade Nacional Palestina (ANP).
Para alguns analistas, a manutenção da condição de refugiado para a população palestina reflete um objetivo político mais amplo, que tem a ver com a chamada lei do retorno. Em resumo, trata-se do direito exigido por lideranças palestinas de retornarem ao lugar espaço geográfico onde viviam a poucas gerações — onde hoje é o Estado de Israel.
Para outros, existem razões pragmáticas para se manter o status de refugiado dos palestinos, para além da pauta política. Os palestinos estão em um estado quase permanente de refúgio, diante da inexistência da possibilidade de reconhecimento pleno de um Estado Palestino.
Porque existe um muro cercando a Cisjordânia?
O Muro da Cisjordânia é uma barreira física construída pelo Estado de Israel. As obras, que começaram em 2002, passa em torno e por dentro dos Territórios Palestinos Ocupados (Cisjordânia e Jerusalém Oriental) e têm a prerrogativa de proteger Israel de ataques de homens-bomba aliados ao Hamas.
A barreira, cuja extensão aproximada é de 760 km, é composto por uma rede de cercas com valas para veículos cercadas por uma área de exclusão média de 60 metros de largura e até 8 metros de altura de paredes de concreto. Ela está localizada principalmente na Cisjordânia, parcialmente ao longo da linha do Armistício de 1949, conhecida como “Linha Verde”, entre o território e Israel.
Aproximadamente 60% dela foi construída totalmente. Ainda há trechos em que o projeto não foi aprovado. O espaço entre a barreira e a linha verde é uma zona militar fechada conhecida como Zona de Costura, cortando 8,5% da Cisjordânia e englobando dezenas de vilas e dezenas de milhares de palestinos.
A barreira geralmente segue ao longo ou perto da Linha Verde, mas deriva em muitos lugares para incluir do lado israelense várias das áreas altamente povoadas de assentamentos judeus na Cisjordânia, como Jerusalém Oriental, Ariel, Gush Etzion e Maale Adumim.
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente