Igreja se despede do papa Francisco
Cerimônias com grande presença de líderes mundiais neste sábado marcam funeral e sepultamento do pontífice, que morreu nesta semana, aos 88 anos, após mais de uma década de papado.O mundo se despediu neste sábado (26/04) do papa Francisco, que morreu nesta semana aos 88 anos, após completar 12 anos de papado. As cerimônias deste sábado incluíram uma missa funeral e foram concluídas com o sepultamento. Entre quarta e sexta-feira, cerca de 250 mil fiéis foram ao Vaticano para dar seu último adeus ao papa, cujo corpo foi velado na Basílica de São Pedro. Neste sábado, outras 250 mil pessoas se concentraram na Praça São Pedro e arredores para se despedir do papa. Francisco foi o primeiro jesuíta e primeiro católico das Américas a chegar à liderança da Igreja Católica. Pelo menos 130 delegações, incluindo dezenas de chefes de Estado participaram da missa fúnebre realizada no Vaticano, entre eles Donald Trump, Luiz Inácio Lula da Silva e Javier Milei, assim como o chanceler federal alemão Olaf Scholz. Francisco não encontrou seu último lugar de descanso eterno na Basílica de São Pedro, como é o costume entre papas, mas na Basílica de Santa Maria Maggiore, no centro de Roma, conforme ele próprio estipulou em testamento. Transmissão encerrada Leia mais sobre o funeral do papa Francisco aqui. Francisco é sepultado. Agora começam os nove dias de luto O Vaticano acaba de confirmar que o papa Francisco foi sepultado na Basílica de Santa Maria Maggiore, no centro de Roma. A parte final do funeral contrastou com a etapa da Praça São Pedro e sua coleção de poderosos líderes mundiais. O caixão de Francisco foi recebido nos degraus da Basílica de Santa Maria Maggiore por um grupo de 40 pessoas formado, segundo a Igreja, por "pessoas pobres e marginalizadas", que seguravam rosas brancas. Neste grupo estavam moradores de rua, detentos, imigrantes venezuelanos e curdos - incluindo muçulmanos -, além de pessoas transgênero. Todos foram selecionados pelo Vicariato de Roma como um símbolo da missão de inclusão do falecido papa. Em 2013, três dias após ser eleito papa, Francisco afirmou: "Como eu gostaria de uma Igreja pobre, para os pobres!". Concluído o sepultamento de Francisco, começa neste sábado um período de nove dias de luto conhecido como Novendiales, que incluem missas e homenagens na Basílica de São Pedro. Essa fase continuará até domingo, 4 de maio, para homenagear o pontífice. Decorrido o prazo de nove dias, o conclave dos cardeais eleitores pode ser convocado para escolher um sucessor, num prazo que não poderá exceder os 20 dias a contar da morte do papa. Dessa forma, o provável é que o processo de escolha do sucessor comece entre 5 e 10 de maio. Missa fúnebre de Francisco marcada por apelos pela paz e defesa de imigrantes O cardeal Giovanni Battista Re, que presidiu a Missa das Exéquias do papa Francisco, usou a cerimônia deste sábado para reforçar antigos apelos do religioso argentino pela paz e defesa dos imigrantes. Diante de delegações que incluíam os presidentes da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e dos Estados Unidos, Donald Trump, o cardeal Re foi aplaudido ao afirmar. "A guerra é somente morte de pessoas, destruição de casas, de hospitais e escolas. A guerra deixa sempre o mundo pior de antes". O cardeal ainda fez referência a uma fala de Francisco sobre "construir pontes, não muros", dita inicialmente pelo falecido papa em 2016, quando Trump ainda concorria ao seu primeiro mandato e tinha como principal proposta construir um muro para separar os EUA do México e conter a imigração. Lula diz torcer para que o próximo papa seja igual a Francisco: "Ele era mais do que um papa" O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado que torce para que o próximo papa seja igual a Francisco. "Francisco foi o líder religioso mais importante do primeiro quarto desse século. Ele era mais do que um papa, se preocupava com as guerras, a fome e as questões que afligem o povo no mundo inteiro. Quisera Deus que o próximo papa seja igual a ele, com os mesmos compromissos religiosos e de combate à desigualdade", afirmou o presidente, após participar do funeral de Francisco, no Vaticano. Já a ex-presidente Dilma Rousseff, que também participou do funeral do papa Francisco, disse neste sábado que o argentino foi "um dos maiores homens dos séculos 20 e 21". "Eu tenho muita dor porque o Papa sempre foi muito generoso comigo", completou Dilma. Santa Maria Maggiore: o último local de descanso de Francisco O corpo de Francisco chegou à Basílica de Santa Maria Maggiore para ser sepultado. Desta vez, a cerimônia será privada, longe da vista do público. Um dos pedidos de Francisco antes de sua morte foi que ele fosse enterrado em um túmulo simples no chão, constando apenas a inscrição "Franciscus", a versão latina do nome que ele escolheu. Em contraste com outros papas, Francisco não encontrará seu lugar de descanso eterno na Basílica de São Pedro, mas na Basílica de Santa Maria Maggiore, perto da principal estação ferroviária de Roma, conforme ele próprio estipulou em testamento. Francisco é o primeiro papa em mais de 100 anos a ser sepultado fora do Vaticano. Funeral chega ao fim e cortejo com caixão de Francisco passa por ruas de Roma Após o fim da Missa Funeral no Vaticano, o caixão com o corpo de Francisco foi colocado sobre um veículo que tem como destino a Basílica de Santa Maria Maior, onde ocorrerá o sepultamento. Milhares se aglomeraram nas calçadas da capital italiana para ver a passagem do cortejo. [Galeria de fotos] O funeral do papa Francisco em imagens [Galeria de fotos] A vida e a obra do papa Francisco em imagens O próximo papa pode ser brasileiro? Com a morte do papa Francisco começaram as especulações sobre quem será o novo comandante da Igreja Católica, e as atenções se voltam para os 135 cardeais que podem participar do complexo processo de escolha do novo pontífice – o conclave. Desse seleto grupo, 80% foram nomeados por Francisco durante seus anos de pontificado, nos quais ele frequentemente escolheu homens que compartilhavam suas prioridades pastorais. E há sete brasileiros, sendo que dois aparecem entre os cotados: o cardeal Leonardo Ulrich Steiner e o cardeal Sérgio da Rocha. O Brasil tem ainda um oitavo cardeal, o arcebispo emérito de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno Assis, mas, aos 88 anos, ele não participa mais do conclave, pois já ultrapassou a idade limite de 80 anos para eleitores. Embora o Brasil tenha figuras de grande prestígio dentro do Colégio dos Cardeais, a eleição de um papa é marcada por incertezas e os favoritos no momento não são brasileiros. Leia mais Comitiva brasileira inclui Lula, Dilma e representantes do Legislativo e Judiciário O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Janja acompanharam neste sábado ao lado de outros líderes mundiais a cerimônia fúnebre do papa Francisco. No dia anterior, Lula e membros da comitiva presidencial estiveram presentes no velório do papa, na Basílica de São Pedro. Em publicação nas redes sociais, Lula destacou a "sabedoria, coragem e compaixão" de Francisco. "Eu e Janja estivemos há pouco em comitiva na Basílica de São Pedro, em Roma, na nossa primeira despedida ao Papa Francisco, compartilhando a emoção e a devoção com todos que vieram prestar as merecidas homenagens ao Santo Padre. Que sua sabedoria, coragem e compaixão sigam iluminando os corações de todos nós", escreveu. Lula viajou acompanhado da ex-presidente Dilma Roussef, do presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, do presidente do Senado, Davi Alcolumbre e do presidente da Câmara, Hugo Motta. Como será o conclave que define o novo papa Após a morte de um papa, a Igreja Católica Romana tem entre 15 e 20 dias para começar a escolha do sucessor no processo conhecido como conclave. A palavra vem da junção dos vocábulos em latim "cum" (com) e "clavis" (chave), ou seja, uma sala fechada à chave. Considerando então a data da morte de Francisco, é estimado que a votação comece entre os dias 6 e 11 de maio. Cardeais do mundo todo se reunirão em uma assembleia secreta na Capela Sistina, no Vaticano, sob regras rígidas que começaram a ser desenvolvidas no século 13. O seleto grupo de eleitores fará um juramento em que promete manter segredo sobre a votação e ficará proibido de ter contato com o mundo externo. O caráter reservado da reunião dificulta uma previsão sobre a duração do pleito, mas a escolha de Jorge Bergoglio para o papado, em 2013, aconteceu pouco mais de 24 horas do início dos rituais. No conclave mais longo da história recente, em 1922, a decisão final demorou 5 dias. Leia mais 250 mil acompanham funeral de Francisco no Vaticano Cerca de 250 mil pessoas lotam a Praça de São Pedro e a Via della Conciliazione, a grande avenida que a precede, para acompanhar o funeral do papa Francisco neste sábado, informou o Vaticano. A praça, com capacidade para 40 mil pessoas, atingiu rapidamente sua lotação máxima, e autoridades locais realocaram a maré de fiéis para os arredores, onde foram instalados telões para acompanhar a cerimônia. O número cumpre a previsão das autoridades, que ativaram um cuidadoso protocolo de segurança. [Coluna Cartas do Rio] O legado brasileiro do papa Francisco Francisco pediu uma Igreja do lado dos pobres, do meio ambiente e dos indígenas. Milhares de católicos seguiram o chamado, lutando por um Brasil mais justo e inclusivo. A esperança é que o rumo das reformas prossiga. É inegável que, sob o pontificado de Francisco, a parte progressista e corajosa da Igreja Católica no Brasil foi fortalecida. Aqueles que entenderam que a Igreja Católica, se não quiser desaparecer na irrelevância, no longo prazo, não deve seguir o caminho das igrejas evangélicas manipulativas, reacionárias e voltadas para o lucro, mas sim levar o Evangelho a sério. O papa Francisco não julgava, ele escutava. O diálogo era importante para ele. Nenhum papa antes dele se encontrou mais com representantes de outras religiões e crenças. Ele viajou para zonas de guerra na África, convidou os mais altos representantes israelenses e palestinos ao Vaticano e intermediou um acordo de paz na Colômbia, após 50 anos de guerra civil. Leia mais Cardeal Re: Francisco foi um papa com um coração aberto a todos O cardeal Giovanni Battista Re, que preside a Missa das Exéquias do papa Francisco, afirmou hoje que Francisco "foi um papa no meio do povo, com um coração aberto a todos", atento ao que "de novo estava a surgir na sociedade". Na homilia da missa do funeral de Francisco, na Praça de São Pedro, no Vaticano, o decano do colégio de cardeais sublinhou "a manifestação popular de afeto e adesão, (...) nos últimos dias", após a sua morte, mostram "quanto o intenso pontificado do papa Francisco tocou mentes e corações". "Com o vocabulário que lhe era característico e com a sua linguagem rica de imagens e metáforas, procurou sempre iluminar os problemas do nosso tempo com a sabedoria do Evangelho, oferecendo uma resposta à luz da fé e encorajando-nos a viver como cristãos os desafios e as contradições destes anos cheios de mudanças, que ele gostava de descrever como uma 'mudança de época'", disse o cardeal Re, perante uma Praça de São Pedro cheia de fiéis anónimos e membros de mais de centena e meia de delegações oficiais. Para o cardeal Giovanni Battista Re, a decisão do pontífice argentino de adotar o nome Francisco "manifestou-se logo como a escolha do programa e do estilo em que queria basear o seu pontificado, procurando inspirar-se no espírito de São Francisco de Assis". "Conservou o seu temperamento e a sua forma de orientação pastoral, imprimindo de imediato a marca da sua forte personalidade no governo da Igreja, estabelecendo um contato direto com cada pessoa e com as populações, desejoso de ser próximo a todos, com uma atenção especial às pessoas em dificuldade, gastando-se sem medida, em particular pelos últimos da terra, os marginalizados", acrescentou na sua homilia. "Ele nunca nos esqueceu": palestinos de Gaza em luto por Francisco Em meio à destruição na Faixa de Gaza, havia um vislumbre diário de esperança na paróquia da Sagrada Família no enclave palestino acossado pela guerra: um telefonema noturno do Vaticano. Do outro lado linha, era ninguém menos que o papa Francisco. Todos os dias, por volta das 20h, desde o início da guerra, há 18 meses, o papa ligou para ter notícias do seu rebanho de cristãos palestinos abrigados na sede da igreja. "Ele nos telefonava diariamente, mesmo nos dias mais sombrios, sob bombardeio, quando pessoas estavam sendo mortas e feridas ao nosso redor", disse Gabriel Romanelli, o padre responsável pela paróquia da Sagrada Família. Assim como Francisco, Romanelli é natural de Buenos Aires. Vídeos divulgados após a morte de Francisco mostram o papa falando por videochamada com o padre e fiéis abrigados na igreja. Em uma das ligações, efetuada no último aniversário de Francisco, em 17 de dezembro de 2024, crianças palestinas cantam parabéns para o papa. "A comunicação era constante, dia e noite. Às vezes, devido à difícil situação em Gaza, eram necessárias três ou quatro horas de tentativas até que a ligação finalmente fosse atendida. Mas ele nunca desistiu até chegar até nós". Leia mais
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