Quem é Marine Le Pen e por que sua inelegibilidade altera cenário político francês e europeu?

Quem é Marine Le Pen e por que sua inelegibilidade altera cenário político francês e europeu?

A política era investigada desde 2017 por suspeita de pagar funcionários do seu partido com recursos do fundo europeu

Líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen foi declarada inelegível nesta segunda-feira, 31, pela Justiça da França, sendo considerada culpada por se apropriar indevidamente de fundos europeus para financiar sua sigla de extrema direita, o Reunião Nacional (RN).

Conhecida por posições extremas, Le Pen concorreu três vezes à Presidência da França, sendo que nas duas últimas foi derrotada pelo atual presidente Emmanuel Macron. Apesar de ser considerada uma política radical, Le Pen vinha tentando suavizar sua imagem desde que herdou a liderança do partido Reunião Nacional do seu pai, Jean-Marie Le Pen.

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Seu pai se tornou conhecido dentro da política francesa principalmente por seus comentários considerados racistas, xenofóbicos e antissemitas, chegando a dizer que a ocupação nazista na França "não foi especialmente desumana", o que gerou revolta no país. Desde então sua filha tentava “desdemonizar” a percepção da legenda perante a população.

Os esforços de Marine podem ter surtido efeito, se observado o crescimento da extrema-direita nas últimas eleições, entretanto, o crescimento de partidos de extrema direita é um fenômeno global, e a Reunião Nacional continua sendo associada a ideias extremas e de oposição a imigrantes.

Em 2010, a politica francesa chegou a compara muçulmanos rezando nas ruas à ocupação nazista na França o que gerou repudio de parte da sociedade. Nascida em 1968, Marine é formada em direito e atuou como advogada antes de entrar na política.

Sendo eleita pela primeira vez em 2004 como deputada no Parlamento Europeu, ela permaneceu no cargo até 2017, ano que foi eleita para a Assembleia Nacional da França e que as investigações contra ela foram iniciadas a pedido da União Europeia.

Marine Le Pen Fora da Disputa: o que muda na França e na Europa?

A possível saída de Marine da disputa pela Presidência da França, em 2027, marca um ponto de virada na política francesa e europeia. Com o impedimento de Emmanuel Macron de disputar um terceiro mandato, o cenário político entra em uma nova fase, abrindo espaço para novos líderes e estratégias partidárias. O professor Vladimir Feijo, doutor em Direito Internacional, analisou as implicações dessa mudança.

Um novo cenário político na França e na Europa

A saída de Le Pen da disputa e o fim do ciclo de Macron significam que novos nomes precisam emergir. O professor Feijó ressalta que a extrema-direita perde sua figura mais consolidada, mas não sua força eleitoral. "Com o afastamento dela e o impedimento de Macron, teremos um cenário novo na França com o aparecimento forçado de novas lideranças. Cada qual deve indicar um sucessor político utilizando a estrutura do partido e o apoio dos antigos líderes", explica.

Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa, pode se beneficiar dessa renovação, tornando-se um nome forte para a esquerda. Entretanto, sua candidatura pode ser enfraquecida caso a direita e a extrema-direita se unam contra ele, usando argumentos semelhantes aos de Macron, que apontava riscos econômicos no seu projeto político. O impacto da guerra da Ucrânia e as relações comerciais globais também devem influenciar o eleitorado francês, tornando o cenário de 2027 ainda mais imprevisível.

Quem pode substituir Le Pen na extrema direita?

Sem Marine Le Pen, a extrema direita francesa buscará um novo nome para liderar o movimento. Jordan Bardella, atual presidente do Reunião Nacional (RN), surge como uma escolha natural. No entanto, seu principal obstáculo é a idade: aos 29 anos, seria um dos mais jovens presidentes da história da França.

Outra opção viável é Louis Aliot, vice-presidente do RN e prefeito de Perpignan. Com um histórico eleitoral sólido e 55 anos de idade, Aliot possui maior experiência política e pode ser visto como um nome mais confiável para o eleitorado conservador. Além dele, Marion Maréchal, sobrinha de Le Pen, também pode ganhar força. Vice-presidente do partido Reconquête e cofundadora do Identité-Libertés, ela vem se aproximando do RN e pode ajudar a consolidar um bloco partidário de extrema-direita.

Um respiro para a democracia francesa?

A saída de Marine Le Pen pode ser vista como um alívio para aqueles que temiam sua ascensão ao poder, mas Feijo alerta que a extrema-direita não desaparece com a sua ausência. "Uma nova liderança e até um novo partido podem surgir para captar o voto da extrema-direita, ajustando o discurso às demandas atuais", afirma.

Le Pen foi condenada por desvio de verbas públicas europeias, o que reforça o combate à corrupção e fortalece a democracia ao impedir que políticos usem recursos ilegais para influenciar eleições. No entanto, há o risco de que sua inelegibilidade seja usada para alimentar um discurso de perseguição política, algo que já foi observado em outros países. "Vivemos situação equivalente no Brasil, onde a narrativa de injustiça fortalece a base eleitoral e radicaliza o discurso de ataque às instituições", explica Feijó.

Impacto na Europa e o caso da AfD na Alemanha

A decisão do Judiciário francês pode influenciar ações contra a extrema direita em outros países europeus. Na Alemanha, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) está sob investigação por suspeita de extremismo, e se condenado, seus políticos podem ser barrados das eleições.

Líderes populistas como Viktor Orbán (Hungria) e Matteo Salvini (Itália) já se manifestaram em apoio a Le Pen, alegando que sua condenação representa uma perseguição contra nacionalistas e conservadores. No entanto, há um movimento crescente dentro da União Europeia para fortalecer a democracia e evitar que líderes extremistas corroam as instituições por dentro, como ocorreu em países como Hungria, Rússia e Turquia.

A decisão sobre Le Pen, portanto, pode abrir precedentes para que medidas mais rígidas contra discursos de ódio e corrupção eleitoral sejam aplicadas em outras nações do bloco europeu. A política francesa entra agora em um novo ciclo, e os próximos anos definirão como a extrema-direita se reorganizará diante desse novo cenário.

Reações internacionais à condenação de Marine Le Pen

A recente condenação de Marine Le Pen, líder do partido de ultradireita Reunião Nacional (RN) da França, gerou uma onda de reações de figuras políticas e líderes internacionais. Le Pen foi considerada culpada por peculato e proibida de concorrer a cargos públicos pelos próximos cinco anos, o que praticamente inviabiliza sua candidatura à presidência francesa em 2027.

Apoio da extrema direita Global

Líderes e simpatizantes da extrema direita ao redor do mundo manifestaram solidariedade a Le Pen, interpretando a decisão judicial como uma tentativa de silenciar vozes conservadoras.

  • Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, classificou a decisão como "claro ativismo judicial da esquerda". Em entrevista, Bolsonaro afirmou que enfrenta situação semelhante no Brasil, sugerindo que há um esforço coordenado para remover opositores de direita do cenário político.
  • Elon Musk, empresário e CEO da Tesla, expressou preocupação sobre o uso do sistema legal para fins políticos. Musk afirmou que, quando a esquerda radical não consegue vencer pelo voto democrático, recorre ao abuso do sistema judicial para prender seus oponentes, caracterizando essa prática como um padrão global.
  • Donald Trump Jr., filho do ex-presidente dos Estados Unidos, questionou a decisão francesa, sugerindo que a condenação de Le Pen é uma tentativa de eliminar concorrentes políticos de direita.
  • Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, declarou "Je suis Marine!" em solidariedade a Le Pen, incluindo-a em uma lista de "patriotas" supostamente vítimas de uma cabala internacional contra aqueles que lutam contra a globalização e a imigração.
  • Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro da Itália, também expressou apoio, afirmando que pessoas que temem o julgamento dos eleitores frequentemente recorrem aos tribunais para eliminar adversários políticos.

Reações de outras esferas políticas

Nem todas as reações foram de apoio. Figuras políticas de diferentes espectros enfatizaram a importância da independência judicial e do respeito às instituições democráticas.

  • François Hollande, ex-presidente da França, destacou a necessidade de respeitar a independência do sistema judicial francês, lembrando que Le Pen tem o direito de recorrer da decisão.
  • Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin russo, lamentou a decisão, sugerindo que normas democráticas estão sendo violadas em capitais europeias.

A condenação de Marine Le Pen e as subsequentes reações evidenciam as tensões políticas atuais e a polarização em torno do papel do judiciário nas democracias modernas. Enquanto aliados veem a decisão como uma perseguição política, os opositores interpretam como uma aplicação necessária da lei para preservar a integridade das instituições democráticas.

Judiciário como guardião da democracia: Os casos de Le Pen, Bolsonaro e Trump

A condenação de Marine Le Pen na França, aliada às recentes ações judiciais contra Jair Bolsonaro no Brasil e Donald Trump nos Estados Unidos, destaca o papel crucial do judiciário na proteção dos princípios democráticos diante de desafios impostos por líderes populistas de direita.

Marine Le Pen e a justiça francesa

Após ser condenada por cinco anos, Le Pen está proibida por cinco anos para concorrer a cargos públicos. A decisão praticamente inviabiliza sua candidatura à presidência francesa em 2027. Le Pen classificou a sentença como uma "decisão política" e convocou manifestações contra o que chamou de "ditadura dos juízes".

Jair Bolsonaro e as instituições brasileiras

No Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro enfrenta diversas investigações e processos judiciais relacionados a sua conduta durante e após seu mandato. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal determinou que Bolsonaro seja julgado por suposta conspiração para subverter o resultado das eleições de 2022. Além disso, ele foi declarado inelegível até 2030 por abusos de poder durante o pleito. Bolsonaro nega as acusações e alega perseguição política.

Donald Trump e o sistema legal americano

Nos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump enfrenta múltiplas investigações, incluindo alegações de tentativa de subversão dos resultados das eleições de 2020 e retenção indevida de documentos confidenciais. Trump e seus aliados frequentemente denunciam essas investigações como "caça às bruxas" e tentativas de minar seu movimento político.

O papel do Judiciário na defesa da democracia

Nos três casos, se observa uma tendência de líderes populistas de direita desafiarem as normas democráticas e, ao enfrentarem consequências legais, acusarem o sistema judicial de parcialidade ou perseguição. Essas reações ressaltam a importância de um judiciário independente e robusto como baluarte contra abusos de poder e garantidor da integridade democrática.

A aplicação da lei a figuras políticas de alto escalão é um teste crucial para a saúde das democracias. Quando o Judiciário atua de maneira imparcial, assegura que ninguém está acima da lei, independentemente de sua posição ou influência. No entanto, é essencial que essas ações sejam conduzidas com transparência e baseadas em evidências sólidas para evitar a percepção de judicialização da política.

Em um cenário global onde movimentos populistas desafiam instituições tradicionais, o judiciário emerge como um pilar fundamental na manutenção dos valores democráticos, assegurando que líderes eleitos sejam responsabilizados por suas ações e que os princípios do Estado de Direito sejam preservados.

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