Academia do Oscar se desculpa por omitir nome de cineasta palestino detido
A declaração inicial foi uma resposta às críticas direcionadas à entidade por seu silêncio diante da detenção do cineasta pelo governo de Israel na segunda-feira, 24
20:33 | Mar. 30, 2025
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas divulgou um pedido de desculpas na sexta-feira, 28, por não ter citado o cineasta Hamdan Ballal, co-diretor do documentário premiado no Oscar "Sem Chão", em um comunicado enviado aos membros da instituição na quarta-feira, 26.
A declaração inicial foi uma resposta às críticas direcionadas à entidade por seu silêncio diante da detenção do cineasta pelo governo de Israel na segunda-feira, 24. As informações são do portal Terra.
No texto assinado pelo diretor-executivo Bill Kramer e pela presidente Janet Yang, a Academia afirmava repudiar a violência e destacava a necessidade de respeitar "pontos de vista divergentes", sem, no entanto, abordar diretamente o ataque contra Ballal.
Diante da repercussão negativa, a organização reconheceu o equívoco e revisou sua posição na sexta-feira.
"Na quarta-feira, enviamos uma carta em resposta aos relatos de agressão contra o vencedor do Oscar Hamdan Ballal, codiretor de 'Sem Chão', relacionados à sua expressão artística. Lamentamos não termos mencionado diretamente o Sr. Ballal e o filme pelo nome", afirmou a instituição no novo pronunciamento.
A nota também apresentou um pedido de desculpas ao cineasta e a todos os artistas que não se sentiram apoiados pela primeira comunicação da entidade.
"Queremos deixar claro que a Academia condena atos de violência desse tipo em qualquer parte do mundo. Rejeitamos a repressão à liberdade de expressão sob qualquer circunstância", destacou o documento.
Prisão de Hamdan Ballal
As Forças Armadas de Israel confirmaram a detenção de Ballal e alegaram que ele estava entre os palestinos que atiravam pedras contra colonos judeus.
No entanto, o Exército negou que o cineasta tenha sido removido à força de uma ambulância, onde recebia atendimento por ferimentos decorrentes do linchamento. De acordo com o codiretor Yuval Abraham, Ballal apresentava lesões na cabeça e no abdômen e estava sangrando.
Após a agressão, Ballal foi mantido algemado e vendado durante toda a noite em uma base militar, onde dois soldados o espancaram enquanto ele permanecia no chão, relatou sua advogada, Leah Tsemel.
Depoimento do cineasta
Após ser libertado, Hamdan Ballal concedeu uma entrevista ao jornal britânico The Guardian na quarta-feira, 26, na qual revelou detalhes sobre sua detenção e as agressões que sofreu.
O cineasta relatou ter sido espancado com coronhadas, ameaçado de morte e impedido de receber auxílio durante um ataque de colonos na vila de Susya, na Cisjordânia.
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Segundo Ballal, dois soldados israelenses o cercaram enquanto um colono o golpeava. "Eles me derrubaram. Um soldado me atingiu com a coronha do fuzil. Depois, disparou para o alto", disse. "Não compreendo hebraico, mas entendi que ele disse que o próximo tiro seria em mim. Achei que ia morrer."
Pressão de artistas renomados
Antes da retratação, a omissão da Academia gerou uma onda de protestos entre figuras proeminentes do cinema. Diversos membros votantes do Oscar assinaram uma carta criticando a postura da instituição.
O documento reuniu assinaturas de nomes internacionais como Olivia Colman, Joaquin Phoenix, Mark Ruffalo e Penélope Cruz, além dos brasileiros Alice Braga, Lais Bodanzky, Pedro Kos, Rodrigo Teixeira, Maria Augusta Ramos, Anna Muylaert, Paula Barreto, Alê Abreu, Petra Costa, Daniel Rezende, Sara Silveira e Vania Catani, entre os brasileiros que se juntaram à iniciativa estão Alice Braga, Rodrigo Teixeira, Anna Muylaert, Petra Costa e Daniel Rezende.
"Como artistas, dependemos de nossa capacidade de narrar histórias sem retaliações", dizia a carta.
"Os documentaristas frequentemente se colocam em situações de extremo risco para informar o mundo. É inadmissível que uma organização premie um filme na primeira semana de março e, pouco depois, deixe de apoiar seus realizadores."