França foi responsável por 'extrema' violência em Camarões, segundo novo relatório sobre passado colonial

A França travou uma guerra marcada pela violência "extrema" durante a luta dos Camarões pela independência no final da década de 1950, afirmam historiadores no mais recente relatório oficial sobre o passado colonial de Paris. 

Os pesquisadores descobriram que Paris realizou deslocamentos forçados em massa, empurrou centenas de milhares de camaroneses para campos de confinamento e apoiou milícias brutais para esmagar a luta pela soberania. 

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A comissão histórica, cuja criação foi anunciada pelo presidente francês Emmanuel Macron durante uma viagem a Yaoundé em 2022, analisou o papel da França até a independência dos Camarões, em 1º de janeiro de 1960, e nos anos seguintes. 

Especificamente, seus 14 membros - franceses e camaroneses - analisaram o papel da potência colonial entre 1945 e 1971 com base em arquivos desclassificados e relatos de testemunhas, entre outras fontes. 

A maior parte dos Camarões ficou sob domínio francês em 1918, após a derrota da Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial, mas o conflito eclodiu com o desejo do país por independência após a Segunda Guerra Mundial. 

Segundo o relatório, publicado na terça-feira, a França reprimiu violentamente este movimento e, entre 1956 e 1961, ceifou "dezenas de milhares de vidas" e deixou centenas de milhares de deslocados. 

Para muitos na França, o conflito em Camarões passou despercebido porque envolveu principalmente tropas das colônias na África e foi ofuscado pela guerra de independência da Argélia (1954-1962). 

Os Camarões britânicos conquistaram a independência do Reino Unido em 1961 e parte dele somou-se ao novo Estado independente.

- "Terapia coletiva" -

Embora o estudo pretenda preencher a "lacuna memorial" da França sobre este período, para os camaroneses "o profundo trauma ligado à repressão permanece", afirma. 

O relatório é divulgado em um momento em que a França vê sua influência diminuir entre as suas antigas colônias africanas, que estão reavaliando - e às vezes cortando - seus laços com Paris. 

Mesmo depois da independência dos Camarões em 1960, Paris continuou profundamente envolvida em seu governo, colaborando com o regime "autoritário e autocrático" de Ahmadou Ahidjo, no poder até 1982. 

A França ajudou a redigir sua Constituição pós-independência e acordos de defesa permitiram às suas tropas "manter a ordem" no novo Estado independente. 

O sucessor de Ahidjo em 1982, o atual presidente Paul Biya, é aos 91 anos o segundo presidente na história de Camarões. 

Biya classificou o estudo como "obra de terapia coletiva" que incentivará os povos de ambos países a aceitar melhor sua relação do passado.

- "Memória e verdade" -

O presidente francês tomou medidas tímidas no sentido de construir um consenso sobre aspectos antes considerados tabus na história colonial do país, o que para muitos foram insuficientes. 

Em 2021, um estudo concluiu que a França teve uma "responsabilidade avassaladora" sobre o genocídio em Ruanda em 1994 e, em 2020, outro relatório pediu uma "comissão pela memória e verdade" sobre seu papel na guerra de independência da Argélia. 

Macron descartou um pedido oficial de desculpas pela tortura e outros abusos cometidos pelas tropas francesas na Argélia. 

A França agora reconfigura sua presença militar na África, após ter sido expulsa de três países do Sahel governados por juntas hostis a Paris: Mali, Burkina Faso e Níger. 

O Chade acusou o presidente francês de desprezo por afirmar que os líderes africanos "esqueceram de agradecer" à França por ajudar a combater as insurreições jihadistas no Sahel. 

Na semana passada, após receber o informe, Macron se comprometeu a "continuar o trabalho pela memória e verdade iniciado com os Camarões".

cf-bur-ah/tjc/zm/jc

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