Uma cidade para milhares de bombeiros surge na praia de Malibu

12:47 | Jan. 14, 2025

Por: Paula RAMON

Trailers e tendas entre os quais se movem quase 5.000 bombeiros formam uma gigantesca base de operações - praticamente uma cidade - erguida da noite para o dia na paradisíaca Zuma Beach, em Malibu, para coordenar a resposta aos incêndios de Los Angeles.  

"Esta é uma pequena cidade que foi erguida do nada", disse à AFP o bombeiro Edwin Zuniga. 

Neste posto de comando, uma atividade frenética começa antes do amanhecer, quando milhares de bombeiros se alinham para o café da manhã. 

No refeitório ao ar livre, com as ondas batendo ao fundo, avançam com escudos e bandeiras efetivos provenientes de diversos condados de Los Angeles, de estados tão distantes como Colorado e Texas, e até de outros países, como o México. 

Brasa, uma dos três cães de apoio emocional da base, os recebe para dar um minuto de distração nas jornadas de até 24 horas na linha de frente. Quase todos a abraçam. 

- Ovos, carne e batata -

O café da manhã é a refeição mais importante para esses homens e mulheres que podem queimar mais de dez mil calorias em um dia. Generosas porções de ovos, carne, batatas e "um tipo de pão" integravam o menu de segunda-feira. 

Já à meia-noite, um grupo de detentos começa a cozinhar. "É uma honra e um privilégio estar aqui, servindo à comunidade e pagando minha dívida com a sociedade", disse à AFP Bryan Carlton, um preso de 55 anos que cumpre pena em um centro penitenciário de Oakland e veio trabalhar no acampamento. 

Carlton prepara cerca de 1.500 litros de café durante seu turno de doze horas. "É muito melhor do que estar na prisão", comenta o supervisor do Departamento de Correções, Terry Cook. 

"Na fila encontrei presos que estiveram no meu centro há dois anos, e os vejo aqui, dou a mão e digo 'Parabéns!'. É gratificante", destaca. 

- "Bem-vindo, conterrâneo!" - 

As chamas consumiram cerca de 16.000 hectares neste canto da costa oeste dos Estados Unidos desde o dia 7 de janeiro, deixando ao menos 24 mortos, mais de 90.000 deslocados e centenas de casas destruídas. 

O primeiro desses incêndios começou em Pacific Palisades, um luxuoso subúrbio de Los Angeles, lar de ricos e famosos, a poucos quilômetros de onde agora opera a movimentada base dos bombeiros. 

Após o café da manhã, quando o sol começa a aparecer, os bombeiros preparam seus veículos e os abastecem com lanches, bebidas e doces. 

Alguns recém-chegados de uma equipe do gelado estado do Colorado comentam satisfeitos sobre a noite quente que lhes permitiu dormir com apenas um saco sobre as areias douradas da praia. 

Outros arriscam um "Bem-vindo, paisa!" (conterrâneo), em espanhol, para receber os reforços do México, a quem cumprimentam com entusiasmo. 

Com a ameaça da chegada de novas rajadas de vento fortes, algumas unidades se concentrarão em evitar que novos focos se espalhem. 

Os bombeiros saltam para suas unidades que formam uma longa fila de caminhões que em breve se dispersarão pelas ruas de uma devastada Pacific Palisades. 

Eles se encontram no caminho com equipes que descem das colinas após um dia de serviço. Visivelmente cansados, os efetivos fazem o balanço do plantão que termina. 

Para muitos, que viajaram centenas de quilômetros por terra, será o primeiro dia no combate às chamas em Los Angeles. Mas para outros, é apenas mais um de uma longa semana. 

- "Terrível" - 

No bairro de Mandeville, encravado nas colinas vizinhas de Pacific Palisades, outra equipe de presos trabalha ao lado dos bombeiros subindo e descendo a rapel as íngremes colinas que arderam em chamas há apenas alguns dias para garantir que o fogo não volte. 

"Isso exige muitos recursos, muito tempo, é um processo lento esse de fazer linhas à mão subindo e descendo", diz Nate Deurloo, um dos tantos efetivos posicionados nessas colinas tingidas de rosa pelo líquido retardante que os aviões recentemente lançaram para combater as chamas.   

Aos pés da montanha, Jake Dean, que em seus 26 anos de carreira nunca viu um incêndio tão destrutivo como o de Palisades, se prepara para subir a encosta.

"Alguns dias são mais duros que outros", conta, relembrando as angustiantes primeiras horas na linha de frente na semana passada. 

"Foi terrível (... ) Depois do primeiro dia, muitos velhos conhecidos quase não me reconhecem na base. O reconhecimento facial do telefone não funcionava", disse.  

"Mas hoje não está tão ruim. Vai ser uma boa caminhada íngreme, beber muita água e ficar pronto para (...) o próximo incêndio". 

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