Quem é o líder da ultradireita que pode se tornar premiê da Áustria?

Autor DW Tipo Notícia

Líder do Partido da Liberdade (FPÖ), Herbert Kickl foi incumbido de tentar formar coalizão sob seu comando. Político defende a deportação de imigrantes e se opõe às sanções contra a Rússia.O político Herbert Kickl, líder do Partido da Liberdade (FPÖ) desde 2021, recebeu do presidente austríaco nesta segunda-feira (06/01) a incumbência de formar um governo de coalizão na Áustria, o que pode abrir portas para o país ser governado por um ultradireitistas que se apresenta como futuro Volkskanzler, ou chanceler do povo, termo usado pelos nazistas para denominar Adolf Hitler. Se a coalizão liderada pelo FPÖ sair do papel, Kickl será o primeiro chanceler de ultradireita a governar a Áustria desde a Segunda Guerra Mundial. O Partido da Liberdade foi fundado em 1956 por ex-nazistas e, ao longo das décadas, tornou-se uma força política estabelecida na Áustria. Ele liderou governos regionais e atuou como parceiro em governos nacionais, mas nunca chegou a liderar uma administração nacional. Quem é Herbert Kickl? Aos 56 anos, Kickl é uma figura menos carismática do que seus antecessores na liderança do partido, como Jörg Haider. Ele evita festas e competiu em triatlos estilo Ironman. "O povo" ou "a família austríaca" estão no centro de sua retórica. Kickl subiu no partido passo a passo. Primeiro, como redator de discursos e conselheiro de seu ex-líder Jörg Haider, mais tarde como secretário-geral de seu sucessor Heinz-Christian Strache. Graças, em grande parte, a um estilo combativo, ele ganhou poder dentro do FPÖ. Em 2010, por exemplo, chegou a se opor à ideia de rotular a organização paramilitar de Hitler, a SS, como "coletivamente culpada" pelos crimes da guerra. Hoje, o partido tenta se distanciar do nazismo. Já durante a pandemia da covid-19, Kickl abraçou teorias da conspiração, defendeu remédios sem comprovação científica como tratamento para a doença e atacou medidas de combate à pandemia, como lockdowns e vacinação. Ele também é conhecido por pontuar seus discursos com críticas a políticas de gênero ou de imigração. Kickl com frequência defende o uso do termo "remigração", cunhado para descrever a deportação em massa de imigrantes. Durante a campanha eleitoral europeia de 2019, Kickl sugeriu contornar a Convenção Europeia dos Direitos Humanos. "Porque ainda acredito que se aplica o princípio de que a lei deve seguir a política, e não a política seguir a lei", afirmou na ocasião. Apesar de ter uma das menores taxas de aprovação pessoal do país, seu discurso inflamado ajudou sua legenda a conquistar um inédito primeiro lugar em eleições nacionais, em setembro, consolidando a ultradireita como a maior força política do país. Kickl chegou a ser ministro do Interior, em 2018, quando seu partido se aliou à legenda de centro-direita ÖVP. À época, ele foi criticado por uma operação policial nas instalações da agência de inteligência doméstica, o que seus oponentes dizem ter sido uma tentativa orquestrada por ele para retirar da organização agentes leais ao ÖVP. Quando essa coalizão desmoronou, o responsável por demitir Kickl foi o próprio Alexander van der Bellen, presidente austríaco que agora o convidou para formar um governo. Na ocasião, Kickl tornou-se o primeiro ministro na Áustria moderna a ser demitido. Tentativa de acordo com ÖVP Der Bellen havia inicialmente permitido que o conservador Karl Nehammer, do ÖVP, negociasse uma coalizão com os sociais-democratas e com os liberais, já que todas as siglas se recusavam a se aliar à ultradireita. Sem sucesso, Nehammer – que descreve Kickl como um teórico da conspiração e uma ameaça à segurança nacional – renunciou ao cargo no sábado. A nova liderança do ÖVP sinalizou que agora entrará em negociações com Kickl para formar um governo, embora não haja garantia de que serão capazes de chegar a um acordo. ÖVP e FPÖ, que concordam em questões como política de imigração e corte de impostos, tentaram governar juntos na coalizão de curta duração que colapsou em 2019, com um escândalo que envolveu o então líder do partido de ultradireita, Heinz-Christian Strache. Foi nessa ocasião que Kickl, então ministro do Interior, foi demitido do governo. Embora tenham políticas comuns, os partidos discordam sobre a guerra na Ucrânia, por exemplo. Kickl é aliado do partido Fidesz do primeiro-ministro húngaro Viktor Orban, e se opõe às sanções contra a Rússia, dizendo que elas violam a neutralidade da Áustria. Kicl também rechaça os mandatos da União Europeia em prol de uma "Fortaleza Áustríaca” que possa tirar o poder de decisão de Bruxelas. A ascensão do partido coincidiu com o aumento da raiva dos eleitores com relação à imigração e à inflação. O Partido da Liberdade faz parte de uma aliança populista de direita encabeçada por Orbán no Parlamento Europeu. Críticos temem que Kickl, como chanceler, possa imitar o estilo de Orbán e governar a Áustria com base no exemplo húngaro. Reação do Comitê Internacional de Auschwitz O Comitê Internacional de Auschwitz reagiu com consternação ao mandato recebido pelo Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) para formar um governo em Viena. Esse mandato foi dado a um partido que está "mais envolvido em pensamentos e atividades neonazistas e de extrema direita do que quase qualquer outro", disse o vice-presidente executivo da organização, Christoph Heubner, na segunda-feira. Isso foi "particularmente difícil de aceitar para os sobreviventes do Holocausto", disse ele. "Para os sobreviventes do Holocausto, este dia marca outro clímax sombrio no caminho para o esquecimento europeu", completou, gq/bl (AFP, Reuters, AP, ots)

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