Como Olaf Scholz se tornou tão impopular na Alemanha
00:04 | Dez. 26, 2024
Apesar das baixas taxas de aprovação, chanceler federal é candidato à reeleição pelo Partido Social Democrata. Por que a popularidade do governo de coalizão caiu tanto durante o seu mandato?Se o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, espera que seu governo um dia entre para os livros de história? "Acho que deveríamos tomar cuidado com políticos que pensam nessas coisas antes ou durante o mandato", respondeu o social-democrata ao dispensar a pergunta feita a ele em setembro por um jornalista do diário alemão Tagesspiegel. Dois meses depois, após o colapso da coalizão de governo que ele liderava junto com verdes e liberais, é possível que Scholz esteja refletindo de novo sobre a questão. Até agora, a cúpula do Partido Social Democrata (SPD) tem apoiado Scholz publicamente como principal nome à Chancelaria Federal nas eleições agendadas para o dia 23 de fevereiro. Mas com a popularidade dele em baixa e a campanha eleitoral esquentando, cresce o coro daqueles no partido que defendem a substituição dele pelo ministro da Defesa, Boris Pistorius, que há meses figura nas pesquisas como o político mais popular da Alemanha. Se, como previsto, a vitória eleitoral couber ao bloco de centro-direita formado pela conservadora União Democrata Cristã (CDU) e por seu braço bávaro, a União Social Cristã (CSU), Scholz terá sido o chanceler federal social-democrata mais breve da história da República. Mas o líder alemão está disposto a ganhar – um desafio e tanto, dadas as pesquisas eleitorais recentes que mostram o SPD muito atrás do bloco conservador. Scholz nunca parece ter tido problemas de autoestima. Mesmo nas piores situações, ele sempre demonstrou acreditar fervorosamente ter tudo sob controle – para críticos, um sinal de percepção distorcida da realidade. "O senhor claramente vive em seu próprio mundo", afirmou o líder da CDU e favorito à Chancelaria Federal, Friederich Merz, em resposta ao discurso feito por Scholz uma semana após o fim da coalizão de governo. "O senhor não entendeu o que está acontecendo neste momento lá fora no país." Governo mais impopular desde o pós-guerra A carreira política de Scholz tem sido marcada por altos e baixos. Seu governo enfrentou grandes desafios após a invasão russa da Ucrânia e a delicada escolha de apoiar Kiev militarmente sem se deixar arrastar propriamente para a guerra. Na esteira do conflito, a Alemanha se viu abalada por crise energética, inflação, um tremendo baque na economia, disputas sobre a política migratória na União Europeia e uma maré eleitoral favorável à ultradireita sem precedentes – um extraordinário caldo de problemas para Scholz. A coalizão de governo forjada por Scholz, apelidada de "semáforo" por causa das cores dos partidos que a integravam, era uma aliança cheia de contradições políticas. A autoproclamada "coalizão progressista" formada após as eleições de 2021 não resistiu às diferenças programáticas entre seus membros. Após meses de picuinhas e fogo amigo, o governo Scholz se tornou o mais impopular na Alemanha desde o fim da Segunda Guerra. Scholz, contudo, parece inabalável quando aponta para a campanha eleitoral de 2021, quando ele foi capaz de obter uma vitória surpreendente e que, três meses antes, parecia impossível. O SPD mancava nas pesquisas, enquanto um estoico Scholz repetia, de novo e de novo: "Eu serei chanceler." À época, ele foi ridicularizado por seu otimismo inabalável. Mas um mês antes da eleição, o candidato favorito, Armin Laschet, da CDU, viu erros cometidos durante a campanha corroerem suas pretensões. O SPD conseguiu amealhar 25,7% dos votos, 1% a mais que os conservadores. O tecnocrata robótico Para Scholz, a vitória de 2021 foi o ponto alto de uma longa carreira política. Ele ingressou no SPD ainda na escola, em 1975. Antes de ser eleito ao Bundestag (Parlamento), em 1998, dirigiu seu próprio escritório de advocacia em Hamburgo, foi ministro do Interior de Hamburgo e ministro do Trabalho na primeira "grande coalizão" entre SPD e CDU/CSU na era da chanceler Angela Merkel. Depois disso, Scholz governou a cidade-estado de Hamburgo por muitos anos. "Quem pede liderança de mim, a recebe", disse em 2011, ao assumir o cargo. Em 2018, voltou a Berlim como ministro das Finanças, de novo sob Merkel. Entre 2002 e 2004, Scholz foi secretário-geral do SPD durante o governo do chanceler Gerhard Schröder. Foi nesse período que o jornal Die Zeit cunhou o termo "Scholzomat" para descrever seu estilo impassível e linguagem tecnocrática, como uma máquina programada para defender as políticas do governo sem demonstrar emoção. Nos anos seguintes, Scholz não conseguiu se livrar da imagem de burocrata monótono e sem carisma. Ele se define como um pragmático orientado por fatos que evita sensacionalismos, falando apenas o necessário enquanto trabalha de forma discreta e eficiente – de certa forma, um estilo parecido ao de Merkel, sua antecessora no cargo que, à época, era popular entre o eleitorado. Essa estratégia funcionou bem durante o mandato como ministro das Finanças, especialmente quando Scholz liberou rapidamente bilhões de euros em auxílio para empresas afetadas pelos lockdowns na pandemia de Covid-19. Mas o social-democrata não percebeu que o trabalho de chanceler demanda muito mais comunicação. Scholz manteve o silêncio durante as maiores crises e errou o tom várias vezes, exalando arrogância e falta de carisma. Mas mesmo que muitos de seus apoiadores tenham apelado a ele para que mude seu estilo – fale mais, seja mais acessível, demonstre mais emoções –, Scholz tem se recusado a se adaptar, tornando-se alvo de críticas. Mesmo que a cúpula do SPD o apoie, a candidatura dele ainda terá que ser confirmada em convenção partidária, marcada para o próximo dia 11 de janeiro. Autor: Sabine Kinkartz