Portugal é foco europeu de cannabis medicinal

O país ibérico foi escolhido porque oferece "provavelmente o melhor ambiente" para esse setor na Europa, principalmente graças ao seu clima e a uma "estrutura regulatória muito boa"

12:00 | Dez. 14, 2024

Por: AFP
Os funcionários processam plantas de maconha colhidas na plantação de cannabis de propriedade da empresa farmacêutica FAI Therapeutics da Iberfar. Portugal é umcentro para a cannabis medicinal na Europa (foto: PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP)

Devido ao calor predominante no sudeste de Portugal, cerca de 30 trabalhadores agrícolas trabalham apenas pela manhã para colher flores de cannabis para fins terapêuticos, um setor emergente no país.

"Nenhum outro país na Europa conta com melhores condições ambientais que nós. Deveríamos ser o novo Eldorado da produção de cannabis medicinal", afirma José Martins, agrônomo responsável por esta plantação ao ar livre de 5,4 hectares, situada no município de Serpa.

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Em meio a tranquilas colinas salpicadas de oliveiras e sombreiros, mas rodeadas por altas cercas de arame farpado e monitoradas por câmeras de infravermelho, o local produz cerca de 30 toneladas de brotos de cannabis por ano, com custos de energia inferiores aos do cultivo em estufas.

A exploração pertence à empresa farmacêutica portuguesa FAI Therapeutics, criada em 2022 pelo grupo Iberfar para promover a produção de cannabis medicinal e seguir os passos de empresas estrangeiras já estabelecidas em Portugal devido ao clima e à legislação favoráveis.

"Portugal está claramente na vanguarda da Europa entre os países produtores de cannabis para uso medicinal", assegura à AFP José Tempero, diretor médico da multinacional canadense Tilray, que se instalou em 2019 em Cantanhede.

Com seus 4,4 hectares de estufas capazes de produzir até 27 toneladas de cannabis por ano, o local, equipado com laboratórios próprios - além de instalações para secar as flores e extrair óleos-, exporta sua produção para vários países da Europa e América Latina, e inclusive, Austrália.

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A legalização da cannabis recreativa segue sendo pouco comum no mundo, no entanto, o uso medicinal desta planta psicoativa está autorizado em cerca de 50 países para tratar dores crônicas, efeitos secundários da quimioterapia ou algumas formas de epilepsia.

"Existe uma enorme demanda por parte dos pacientes", afirma Bernhard Babel, diretor-geral da empresa alemã Avextra, que também desenvolve parte de suas atividades em Portugal.

Falta informação e sobra falta de acesso

O país ibérico foi escolhido porque oferece “provavelmente o melhor ambiente” para esse setor na Europa, principalmente graças ao seu clima e a uma “estrutura regulatória muito boa” implementada desde 2019, diz ele.

"Graças a isso, os produtos que saem do país oferecem garantias de segurança" aos mercados internacionais, acrescenta Pedro Ferraz da Costa, presidente da Iberfar, proprietária da plantação em Serpa.

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De acordo com a Grand View Research, o mercado global de cannabis medicinal atingiu um valor de US$ 16,6 bilhões em 2023 (100,5 bilhões de reais na cotação atual) e pode ultrapassar US$ 65 bilhões até 2030 (393,6 bilhões de reais).

A participação da Europa poderia, inclusive, aumentar de US$ 226 milhões no ano passado (1,3 bilhão de reais) para mais de US$ 1,2 bilhão até o final da década (7,2 bilhões de reais).

Portugal exportou, em 2023, cerca de 12 toneladas de produtos medicinais derivados da cannabis, principalmente para Alemanha, Polônia, Espanha e Austrália, segundo a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), que não especifica a produção total no país.

Segundo dados de maio, mais de 60 empresas estavam autorizadas a operar em etapas de cultivo, produção de derivados ou distribuição, e aproximadamente 170 empresas adicionais haviam solicitado autorização.

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Apesar da legalização da cannabis medicinal e o desenvolvimento de uma indústria de produção, os pacientes portugueses se queixam das dificuldades para aderir a este tipo de terapias, que não estão cobertas pela previdência social e são prescritas por poucos médicos.

"Falta informação" dentro do corpo médico deste país "muito conservador", lamenta Lara Silva, cuja filha de 6 anos sofre uma forma grave de epilepsia que afeta seu desenvolvimento motor e cognitivo.

Há dois anos, esta mãe de família de 39 anos, que vive perto de Coimbra, tomou a iniciativa de tratar a pequena Sofía com CBD, um dos derivados da cannabis, que deve ser encomendado da Espanha, e observou melhorias “de um dia para o outro”.

Segundo José Tempero, diretor médico de Tilray, a cannabis medicinal ainda enfrenta certa "estigmatização", mas também nota "uma aceitação crescente da cannabis além do uso recreativo". (THOMAS CABRAL/ AFP)