Exército sírio reconhece que jihadistas e rebeldes entraram em grandes áreas de Aleppo
O Exército da Síria admitiu, neste sábado (30), que insurgentes penetraram em "grandes partes" de Aleppo, a segunda maior cidade do país, após uma ofensiva devastadora de jihadistas e milícias rebeldes que deixou mais de 300 mortos.
"Dezenas de homens de nossas forças armadas foram mortos e outros ficaram feridos" quando as "organizações terroristas conseguiram penetrar em grande parte dos bairros da cidade de Aleppo", declarou o Exército, detalhando que os combates cobriram "uma extensão de mais de 100 quilômetros".
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O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) informou no sábado que o Hayat Tahrir al Sham (HTS) e suas facções aliadas assumiram "o controle da maior parte da cidade, de prédios governamentais e prisões".
O Observatório explicou que, durante a noite, "aviões de guerra russos lançaram ataques em áreas da cidade de Aleppo pela primeira vez desde 2016".
Informou, ainda, que pelo menos 16 civis foram mortos e outros 20 ficaram feridos neste sábado quando "aviões de guerra, provavelmente russos, atacaram veículos civis" em uma rotatória de Aleppo.
O regime de Bashar al Assad recuperou o controle de grande parte da Síria em 2015, graças ao apoio militar da Rússia, do Irã e do movimento libanês Hezbollah.
Em 2016, o presidente restabeleceu sua autoridade em Aleppo, que tem sido alvo de bombardeios maciços desde o início da guerra civil da Síria em 2011.
Mas grandes extensões de território permanecem fora de seu controle: Hayat Tahrir al Sham, uma aliança jihadista liderada pelo antigo braço sírio da Al Qaeda, controla partes da região de Idlib, no noroeste da Síria, bem como partes das províncias vizinhas de Aleppo, Hama e Latakia.
Os rebeldes lançaram uma ofensiva relâmpago contra as forças do regime de Assad na quarta-feira, coincidindo com a entrada em vigor de um frágil cessar-fogo entre Israel e o movimento libanês pró-iraniano Hezbollah no vizinho Líbano, após dois meses de guerra aberta.
- 'Estamos com medo' -
O OSDH elevou o número de mortos desde quarta-feira para 327, dos quais 183 são combatentes do Hayat Tahrir al Sham e seus grupos aliados, 100 soldados sírios e milicianos pró-governo, além de 44 civis.
A imprensa oficial síria informou que quatro civis foram mortos quando o Hayat Tahrir al Sham bombardeou uma residência estudantil em Aleppo, antes do comunicado sobre as baixas do Exército.
"Pela primeira vez em cerca de cinco anos, ouvimos foguetes e artilharia o tempo todo e, às vezes, aviões", disse Sarmad, de 51 anos, morador de Aleppo.
"Estamos com medo de que o cenário de guerra se repita e que sejamos obrigados a fugir", acrescentou.
Um correspondente da AFP viu grupos de rebeldes comemorando em Aleppo na noite de sexta-feira. Outro jornalista viu combatentes insurgentes em frente à icônica cidadela da cidade.
O Observatório pontuou que "o governador de Aleppo e os chefes de polícia e segurança se retiraram do centro da cidade". Também observou que os jihadistas e seus aliados conquistaram cerca de 70 cidades e vilarejos no norte do país.
- 'Não houve combates' -
O diretor do OSDH, Rami Abdul Rahman, disse à AFP que não houve grande resistência em Aleppo.
"Não houve combates, nem um único tiro foi disparado quando as forças do regime se retiraram", afirmou.
Segundo o analista Aaron Stein, a ofensiva devastadora "é um lembrete de como o regime é fraco". Ele observou, ainda, que "a presença russa [na Síria] foi consideravelmente reduzida".
Para Dareen Khalifa, especialista do International Crisis Group, a operação vinha sendo preparada há meses.
"Foi apresentada como uma campanha defensiva contra a escalada do regime", mas o HTS e seus aliados "também perceberam a mudança regional e geoestratégica", disse.
"Eles acreditam que agora os iranianos estão enfraquecidos e o regime está encurralado", acrescentou.
Os jihadistas e seus aliados obtiveram ganhos no norte, onde capturaram a cidade estrategicamente importante de Saraqib, localizada em uma estrada para Aleppo, a cerca de 40 quilômetros de distância, declarou o OSDH.
Na sexta-feira, o Exército russo informou que estava bombardeando forças "extremistas" e a Turquia pediu a suspensão dos bombardeios na região de Idlib.
Esta região é objeto de uma trégua intermediada por Turquia e Rússia após uma ofensiva do regime de Assad em março de 2020. Embora este cessar-fogo tenha sido repetidamente violado, continua em vigor.
O Irã, que apoia o Hezbollah, e a Rússia apoiaram militarmente o regime do presidente sírio durante a guerra civil, que foi desencadeada em 2011 pela repressão violenta às manifestações pró-democracia e depois pela rebelião.
A situação se transformou em um conflito complexo que, ao longo dos anos, envolveu atores regionais, potências estrangeiras e grupos jihadistas em combate em um território cada vez mais fragmentado.
A guerra deixou meio milhão de mortos e forçou milhões a deixarem suas casas.
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