Alemanha precisa de 288 mil imigrantes qualificados por ano, diz estudo
Apesar de reformas na lei de migração, país ainda tem déficit de mão de obra especializada. Força de trabalho pode encolher 10% até 2040 sem "imigração substancial", alerta estudo.A força de trabalho da Alemanha pode encolher em 10% até 2040 se não houver uma "imigração substancial" no país, de acordo com um estudo encomendado pela Fundação Bertelsmann, um think thank alemão, e publicado nesta terça-feira (26/11). O estudo conclui que o país precisa de um fluxo adicional de 288 mil trabalhadores qualificados estrangeiros por ano para preencher postos de trabalho vagos pelo envelhecimento da população. Sem a reposição de mão de obra, a força de trabalho alemã pode cair dos 46,4 milhões atuais para 41,9 milhões em 2040. Em 2060, esse total chegaria a 35,1 milhões. Em uma segunda projeção mais pessisimista, a Bertelsmann calcula que até 368 mil vagas de emprego precisariam ser preenchidas anualmente até 2040 no país. Atualmente, a Alemanha já enfrenta escassez de trabalhadores em áreas como enfermagem, tecnologia e logística. "A saída dos baby boomers do mercado de trabalho apresenta grandes desafios", disse Susanne Schultz, especialista em migração da Bertelsmann. Para ela, o país precisa reduzir os obstáculos à imigração de trabalhadores qualificados para suprir o déficit impulsionado pela mudança demográfica, além de desenvolver e ampliar o potencial da força de trabalho doméstica. Em 2023, o governo flexibilizou as regras para atrair trabalhadores estrangeiros, diminuindo o tempo e os entraves burocráticos para uma pessoa com experiência profissional conseguir um visto de trabalho no país. Na ocasião, a ministra alemã do Interior, Nancy Faeser, disse que a nova lei de imigração é a "mais moderna do mundo". Em junho deste ano, a Alemanha introduziu o Chancenkarte (Cartão de Oportunidades), um esquema de permissão de residência permitindo a profissionais de fora da União Europeia procurarem trabalho no país. Até o fim de 2024 está prevista a concessão de 200 mil vistos. A Fundação Bertelsmann, porém, argumenta que esses trabalhadores estrangeiros não irão à Alemanha "sem uma cultura mais acolhedora por parte das autoridades locais e empresas" e sem "a perspectiva de permanecer a longo prazo." "Eu quero igualdade, mas não vou implorar por ela" A agência alemã de notícias DPA entrevistou um refugiado sírio que fugiu da guerra civil em seu país natal em 2016, aos 21 anos, antes de fazer um bacharelado e um mestrado em universidades no oeste da Alemanha. Agora especialista em TI, ele está de mudança para a Suíça. "Dei o melhor de mim aqui para ser considerado igual, mas senti discriminação e rejeição", disse ele, relatando o preconceito sofrido nos círculos sociais e no trabalho de meio período enquanto aguardava uma oferta de emprego aceitável que nunca chegou. "Quero ser tratado como um igual", disse ele. "Mas não vou implorar por isso." Para Schultz, da Bertelsmann, o caso "infelizmente não é uma anomalia. A Alemanha não pode se permitir isso e precisa se tornar mais atraente". Como a redução da força de trabalho afetará as regiões da Alemanha? De acordo com a análise, o efeito da redução da força de trabalho e a necessidade de maior imigração para preencher as lacunas seriam sentidos de forma diferente em toda a Alemanha. Embora a contração média de 10% se aplique ao estado mais populoso do país, a Renânia do Norte-Vestfália, os estados demograficamente menos populosos, como a Turíngia e a Saxônia-Anhalt, na antiga Alemanha Oriental, e o pequeno estado de Saarland, na fronteira com a França, seriam ainda mais afetados. Mesmo regiões tradicionalmente mais fortes economicamente, como Baviera e Baden-Württemberg, não ficariam completamente ilesas. Já grandes cidades como Hamburgo e Berlim, que já se beneficiam de altos níveis de imigração, sofreriam um impacto menos negativo, de acordo com o estudo. O estudo foi assinado por Alexander Kubis, do Instituto de Pesquisa de Mercado de Trabalho e Formação Profissional (IAB), da Alemanha, e Lutz Schneider, da Universidade de Coburg. A pesquisa se baseia em dados do Instituto Federal de Formação Profissional (BIBB). Problema afeta toda a Europa Praticamente todos os países-membros da União Europeia (UE) se veem diante do mesmo problema: falta de mão de obra numa população cada vez mais idosa. Como a DW mostrou, mesmo as nações que sustentam uma postura ostensiva anti-imigração tentam atrair trabalhadores estrangeiros para preencher as vagas disponíveis e manter as economias nacionais em funcionamento. Quase dois terços das pequenas e médias empresas da UE não conseguem encontrar os profissionais de que precisam. Outros setores, porém, como o automobilístico e a indústria siderúrgica, têm anunciado cortes de postos de trabalho na Alemanha. gq/ra (dw, dpa, afp)
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