Militares e agente da PF são presos por suspeita de planejar assassinato de Lula, Alckmin e Moraes em 2022
Grupo, que inclui um general da reserva, teria tramado para impedir posse de Lula em 2022. Plano também previa prisão e execução do ministro do STF Alexandre de Moraes e teria sido impresso no Palácio do Planalto.A Polícia Federal prendeu nesta terça-feira (19/11) um membro da própria corporação e quatro militares ligados às forças especiais do Exército, incluindo um general da reserva, suspeitos de planejar um golpe de Estado após as eleições de 2022 para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a PF, o grupo tinha um "detalhado planejamento operacional", batizado de "'Punhal Verde e Amarelo', que seria executado no dia 15 de dezembro de 2022" para matar o presidente eleito Lula e seu vice, Geraldo Alckmin. Uma das possibilidades cogitadas contra Lula, segundo a PF, era de envenenamento. Os planos incluiriam ainda a "prisão e execução" do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. No lugar de Lula e Alckmin, um "gabinete de crise" assumiria o controle do país. Segundo o portal G1, esse gabinete seria comandado pelos generais Augusto Heleno e Braga Netto, à época ministros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e da Defesa de Bolsonaro. As prisões foram autorizadas por Moraes e realizadas no âmbito do inquérito sobre os atos golpistas que culminaram com a depredação das sedes dos Três Poderes em 6 de janeiro de 2023, após a posse de Lula. A PF também cumpriu mandados de busca e apreensão. Quem são os presos Os presos são o policial federal Wladimir Matos Soares, o general de brigada Mario Fernandes (na reserva), o tenente-coronel Helio Ferreira Lima, o major Rodrigo Bezerra Azevedo e o major Rafael Martins de Oliveira. Fernandes foi secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República em 2022, durante o governo de Jair Bolsonaro. Atualmente, ele trabalha como assessor do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, hoje deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, Fernandes mora em Brasília, mas estava de folga no Rio quando foi preso. O jornal afirma que um documento encontrado em um HD atribuído ao militar mencionava a possibilidade de envenenar Lula. O material levava o título "Planejamento Punhal Verde Amarelo", e teria sido impresso por Fernandes dentro do próprio Palácio do Planalto. Lima, Azevedo e Oliveira foram presos no Rio. Os quatro militares tinham formação nas forças especiais, os chamados "kids pretos". Três deles, ainda na ativa, ocupavam cargos de comando do Exército até o início das investigações, afirma a Folha. O Exército não se manifestou sobre as prisões, alegando "respeito" às "demais instituições da República" e afirmando que os processos ainda estão em curso. Policial federal fez parte da segurança de Lula durante a transição O policial federal Wladimir Matos Soares atuou na segurança de um hotel em Brasília onde Lula preparou a transição de governo, nos meses de novembro e dezembro de 2022, conforme noticiado pela emissora GloboNews. Valendo-se de seu acesso privilegiado a Lula, Soares teria passado informações sigilosas aos kids pretos. Ele acabou afastado da função após ser flagrado no acampamento golpista montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. Grupo se reuniu na casa de Braga Netto para preparar golpe Os suspeitos também teriam participado de uma reunião na casa do general Braga Netto, que era candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, e durante o governo dele ocupou os ministérios da Casa Civil e da Defesa. Segundo a PF, a reunião aconteceu no dia 12 de novembro de 2022, duas semanas após a chapa Bolsonaro-Braga Netto ser derrotada no segundo turno. Na reunião, o grupo discutiu planos para execução de Lula, Alckmin e Moraes. Também debateram se o ministro do Supremo – "obstáculo à consumação do golpe de Estado", nas palavras da PF – deveria ser morto por envenenamento ou explosivos. Contra o magistrado, o grupo planejou uma emboscada batizada de "Copa 2022", marcada para o dia 15 de dezembro. Dias antes da reunião na casa de Braga Netto, em 9 de novembro, o general da reserva Mario Fernandes enviou mensagem ao coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, celebrando que "ele [Bolsonaro] aceitou o nosso assessoramento". Naquele dia, o ex-presidente falou pela primeira vez desde a derrota nas urnas e disse a apoiadores que as Forças Armadas eram "o último obstáculo para o socialismo", e que tudo daria certo "no momento oportuno". Militares planejaram emboscada contra Moraes, diz PF O "Planejamento Punhal Verde Amarelo" que a PF associou ao general da reserva Mario Fernandes tem algumas semelhanças com a mobilização "Copa 2022", em que militares chegaram se posicionar nas ruas de Brasília em 15 de dezembro de 2022 para tentar sequestrar Moraes – o plano acabou abortado. A ação foi coordenada pelo aplicativo de mensagens Signal. Segundo a PF, as mensagens ali trocadas – "tô na posição", "aguarde", "vai cancelar o jogo?" e "abortar", dentre outras – "demonstram que os investigados estavam em campo, divididos em locais específicos para, possivelmente, [...] prender" o ministro. Indícios Segundo o g1, a PF chegou aos cinco suspeitos presos nesta terça-feira graças a informações recuperadas de dispositivos do coronel Mauro Cid. O militar havia tentado esconder esses arquivos dos investigadores, apagando-os. Por causa disso, corre agora o risco de ter seu acordo de delação premiada invalidado. Provas também teriam sido coletadas em aparelhos de outros militares, após uma operação da PF em fevereiro que prendeu membros do Exército e um ex-assessor da Presidência. Lima, que voltou a ser preso nesta terça-feira, era um deles. A PF apura suspeita de que Oliveira teria recebido dinheiro de Mauro Cid para organizar o transporte de caravanas bolsonaristas para o acampamento golpista montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. Já Lima foi um dos fomentadores da tese de que a eleição de 2022 foi fraudada, segundo a Folha. Quem são os kids pretos? Kids pretos é o apelido informal dado aos membros do Comando de Operações Especiais (Copesp) – também conhecido como "forças especiais" (FE) do Exército brasileiro. Esses militares, tanto da ativa quanto da reserva, são treinados para participar de missões com alto grau de risco e sigilo. O trabalho deles inclui operações de guerra irregular, cobrindo, entre outras coisas, táticas de guerrilha, terrorismo, movimentos de resistência e planejamento de fugas e evasões. Considerados a elite de combate do Exército, os kids pretos recebem treinamento qualificado em ações de sabotagem e de incentivo à insurgência popular. Sua ação engloba ainda ataques a pontos sensíveis da infraestrutura, como torres de transmissão elétrica, pontes e aeroportos. Entre os lemas do grupo, está "qualquer missão, em qualquer lugar, a qualquer hora e de qualquer maneira". O apelido faz alusão ao gorro preto utilizado por seus membros durante as operações. Segundo o Exército, o grupo tem um efetivo de cerca de 2,5 mil militares atualmente, podendo atuar em todo o território nacional. Essas tropas, porém, só podem ser empregadas por ordem do Comando do Exército, sob coordenação do Comando de Operações Especiais. Envolvimento dos kids pretos nos atos golpistas Segundo apontam as investigações da PF, kids pretos teriam sido convocados para uma reunião com outros militares e auxiliares do entorno mais próximo do então presidente Jair Bolsonaro para atuar em atos antidemocráticos, fornecendo apoio e orientações aos golpistas. Neste encontro, realizado em Brasília em 28 de novembro de 2022, ou seja, após o resultado do segundo turno das eleições, teria sido discutida a participação dos kids pretos em um golpe de Estado. De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), a reunião contou com participação do tenente-coronel Mauro Cid, ele mesmo um ex-kid preto, e do coronel Bernardo Romão, na época assistente do Comando Militar do Sul. O plano seria a tomada de poder após a eleição de Lula. ra/md (ots)
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