China censurou detalhes de atropelamento que deixou 35 mortos; entenda
Atraso em anúncio do número de mortos se explica pelos esforços de Pequim para impedir a divulgação de informações que considera sensíveis. Entenda
08:58 | Nov. 13, 2024
As autoridades da cidade de Zhuhai demoraram quase 24 horas para anunciar o número de mortos no enorme acidente que matou 35 pessoas na segunda-feira, 11, um atraso que se explica pelos esforços de Pequim para impedir a divulgação de informações que considera sensíveis.
Poucas horas depois do acidente, imagens de corpos caídos na estrada circularam nas redes sociais, mas na manhã de terça-feira elas haviam desaparecido. A polícia local inicialmente falou apenas de pessoas "feridas".
As autoridades também forçaram a retirada de flores e velas deixadas perto do local da tragédia nesta quarta-feira, 13.
A AFP analisou como a China bloqueou informações sobre o ataque em massa mais importante dos últimos anos no seu território.
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'Limpeza' das redes sociais
A China monitora de perto as suas redes sociais, onde é comum que palavras-chave ou conteúdos considerados sensíveis sejam removidos, às vezes em poucos minutos.
No Weibo, semelhante à rede social X, fotos ou vídeos sobre o acidente desapareceram rapidamente. O mesmo aconteceu com as postagens no Xiaohongshu, o equivalente chinês do Instagram.
24 horas depois
A imprensa estatal só noticiou as 35 mortes às 18h30 de terça-feira, quase 24 horas após o ataque.
Poucos momentos depois, a manchete "Homem em Zhuhai atropela multidão, matando 35" se tornou a primeira tendência no Weibo.
O acidente ocorreu um dia antes do maior salão aeronáutico da China, que acontece em Zhuhai, evento emblemático promovido durante semanas pela mídia estatal, sob estrito controle das autoridades.
A versão oficial
Na China, a imprensa estatal atua como porta-voz do governo.
Nesta quarta-feira, o jornal Global Times publicou apenas um pequeno artigo sobre o "caso de atropelamento de um carro" na página 3, enquanto a primeira página destaca os aviões de combate do salão aeronáutico.
O Diário do Povo apenas mencionou em um pequeno texto na primeira página as instruções do presidente chinês, Xi Jinping, para tratar os moradores feridos e punir o autor do crime.
Na terça-feira, o Xinwen Lianbo, noticiário noturno do canal de televisão CCTV, dedicou cerca de um minuto e meio às instruções de Xi Jinping, sem exibir imagens.
'Ordens de cima'
No local do acidente, jornalistas da AFP viram entregadores colocando buquês de flores comprados online perto das velas na terça-feira para homenagear as vítimas. No entanto, algumas horas depois tudo foi removido.
Alguns agentes de limpeza disseram à AFP que receberam "ordens de cima".
A polícia e os agentes de segurança também impediram algumas pessoas de gravar vídeos.
Controle da informação
A China tem uma longa tradição de controle da informação, o que por vezes tem consequências na resposta a catástrofes.
Em 2008, as autoridades tentaram reprimir informações sobre o leite contaminado que envenenou quase 300 mil crianças poucos dias antes dos Jogos Olímpicos de Pequim.
Em 2019, as autoridades atrasaram a resposta à Covid-19 e penalizaram as autoridades de saúde locais que alertaram que o coronavírus estava se espalhando rapidamente. (Por Mary YANG)
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