Entenda o impacto político da tragédia climática que matou dezenas de pessoas na Espanha

País europeu foi atingido pelas maiores inundações na Europa, sendo a maior tragédia em número de vitimas desde 1967. População reagiu com fúrias contra as autoridades

11:45 | Nov. 05, 2024

Por: Wilnan Custódio
Reis da Espanha e autoridades enfrentam protestos em Valência ao visitar áreas afetadas por enchentes (foto: AFP / Manaure Quintero)

Quando frequentemente nos deparamos com notícias sobre desastres naturais causados pelo clima, comumente estes são relacionadas às mudanças climáticas. Porém, além dos danos ao ambiente natural, essas anomalias do clima também geram impactos econômicos, sociais e agora políticos, como se pode observar agora na Espanha. Lá foram registradas as maiores inundações e a maior tragédia em número de vítimas na Europa desde 1967.

Pode-se citar também as inundações de junho deste ano no Rio Grande do Sul, quando autoridades no âmbito municipal, estadual e federal foram bastante criticadas pelas atuações na emergência climática. Se soma ao fato as disputas políticas internas de cada país e os níveis de popularidade dos governos que podem influenciar a percepção da população.

Talvez seja totalmente improvável que a monarquia espanhola venha a cair por causa deste episódio, porém com fatos do tipo acontecendo em número cada vez maior em espaço de tempo menores, eles são fatores de pressão plausíveis para governos de países atingidos.

Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, em junho deste ano, mostrou que para quatro em cada 10 brasileiros, os governos não fazem nada para mitigar as mudanças climáticas. E não apenas o governo federal, o brasileiro tem a mesma percepção em relação às administrações estaduais e municipais.

Segundo o mesmo levantamento, 97% dos brasileiros afirmam que percebem as mudanças climáticas no planeta, e 77% deles dizem que a explicação para isso são as atividades humanas. Na pesquisa, outros 54% das pessoas dizem acreditar que seu bairro não tem preparo para receber algum tipo de evento climático extremo. Em novembro de 2023 esse número era de 43%.

Apenas 16% dos brasileiro consideram seu bairro preparado para grande volumes de chuva, o que representa uma queda de sete pontos em relação a dezembro de 2023. Para quase metade da população, 49%, suas comunidades também não estão preparadas para lidar com as frequentes ondas de calor que temos hoje, e 53% têm essa avaliação para eventos de seca. No ano anterior, eram 41% e 42% respectivamente.

O percentual de brasileiros que consideravam seus bairros preparados para tempestades caiu de 19% para 13%. E quem achava seus bairros pouco preparados para situações climáticas extremas foi de 37% para 33%. Quantos aos deslizamentos de terra, que são comuns após fortes precipitações, 56% dizem que seu bairro não tem preparo, 24% pouco preparado, e 17% muito preparado.

Espanha registra protestos contra a monarquia após inundações que mataram 217 pessoas

Durante visita à cidade de Paiporta, na região de Valência, o chefe da monarquia espanhola, o Rei Felipe VI, foi recebido com lama e gritos de protestos pela população que foi atingida pelas mais fortes inundações no país, e as maiores na Europa desde 1967, quando fortes chuvas mataram cerca de 500 pessoas em Portugal.

Em Paiporta, cerca de 60 pessoas morreram por causa das enchentes, segundo informações das autoridades espanholas. Além de Felipe VI, o primeiro-ministro Pedro Sánchez também foi ao local e igualmente foi recebido com protestos e gritos por parte da população.

Durante a visita do Rei, pessoas jogavam lama e gritavam contra as autoridades o chamando de “assassinos”. Os moradores das regiões afetadas criticam o atraso no aviso de alerta das fortes chuvas, apenas duas horas após o necessário para permitir que as pessoas saíssem do local. Segundo moradores das regiões afetadas, o aviso foi enviado às 20h, quando as inundações já causavam estragos nas ruas.

Há também por parte da população descontentamento em relação ao momento em que as autoridades enviaram ajuda para as regiões afetadas pelo desastre. Com os protestos da população, Felipe VI precisou ser acompanhado por uma equipe de seguranças que tentavam protegê-lo da lama utilizando guarda-chuvas.

Apesar dos protestos durante a recepção, o Rei e a Rainha Letizia conseguiram realizar a visita, conversar com a população e ouvir as demandas. As chuvas causaram também danos à infraestrutura de Valência, deixando a população sem o abastecimento de alimentos.

Ferrovias, estradas, pontes e plantações foram destruídas com a força da enxurrada. As imagens que circularam o mundo mostram carros empilhados nas ruas com a força das enchentes. O governo do estado da Comunidade Valenciana pediu para que a população visite a região afetada pelo desastre.

Com os incidente, foram registrados saques em supermercados e shoppings, e segundo a Polícia espanhola, ao menos cinco pessoas foram presas por saquear uma loja de joias na cidade de Aldaia, que fica na região metropolitana de Valência.

O Exército do país foi enviado à região afetada para ajudar os moradores com a limpeza das ruas e também na distribuição de alimentos à população.