Morre Mirta Baravalle, fundadora das Mães e Avós da Praça de Maio da Argentina, aos 99 anos

Baravalle era mãe de Ana María Baravalle, que tinha 28 anos e estava grávida de quando foi sequestrada em agosto de 1976 durante a última ditadura militar argentina

17:02 | Nov. 03, 2024

Por: Luíza Vieira
Membro fundadora do grupo argentino Madres de Plaza de Mayo, Mirta Baravalle, posa em frente à Casa Rosada, em 30 de abril de 2017, durante uma manifestação em comemoração ao 40º aniversário de seu primeiro protesto em torno da Plaza de Mayo. Mirta morreu em 1º de novembro de 2024, aos 99 anos (foto: EITAN ABRAMOVICH / AFP)

Mirta Baravalle, militante argentina, morreu neste sábado, 2. Ela foi uma das 14 mulheres que, em abril de 1977, foi à Praça de Maio, no centro de Buenos Aires, para coletar informações sobre seus filhos, desaparecidos durante a ditadura militar instaurada na Argentina em 1976. As militantes iam ao local com um lenço branco sobre a cabeça.

“Despedimos de outra companheira de luta, fundadora das Mães e Avós da Praça de Maio, Mirta Baravalle. Aos 99 anos, Mirta partiu sem o abraço de seu neto ou neta [nascido num centro clandestino de detenção da ditadura argentina]. Continuaremos procurando por ele, ela, e por todos. Até sempre, querida Mirta!”, publicou no sábado a conta oficial das Avós da Praça de Maio em suas redes sociais.

Mirta Baravalle fundou a associação Mães da Praça de Maio — em espanhol Asociación Madres de la Plaza de Mayo —, que reivindicavam o paradeiro dos filhos e netos.

Ditadura argentina e o movimento das mães e avós da Praça de Maio

Baravalle era mãe de Ana María Baravalle, que tinha 28 anos e estava grávida de cinco meses quando foi sequestrada em agosto de 1976 com seu marido, Julio César Galizzi, durante a última ditadura militar argentina.

Desde o período, Mirta passou a dedicar a vida em busca de sua filha e de seu neto ou neta, sendo, então, uma das pioneiras do movimento Mães da Praça de Maio.

Ela também foi uma das fundadoras da Organização Não-Governamental (ONG) Avós da Praça de Maio, estruturada em 1977, a fim de localizar e restituir a seus familiares de origem crianças desaparecidas pela ditadura.

A ex-membro da Câmara de deputados da Argentina e advogada Myriam Bregman, lamentou a morte de Mirta, afirmando que a militante dispunha dos “maiores valores e princípios” que conheceu.

“As histórias sobre como ela buscava as crianças apropriadas são impressionantes, seus disfarces, suas estratégias para alcançá-las”, recordou nas redes sociais a líder de esquerda e advogada Myriam Bregman. “Partiu sem encontrar Camila ou Ernesto, seu neto ou neta apropriado. ‘Meu esqueleto está cansado’, me disse há pouco tempo”, escreveu Bregman.

O período da ditadura argentina durou sete anos (1976-1983), causando o desaparecimento de, aproximadamente, 30 mil pessoas, conforme os órgãos de direitos humanos.

As Avós da Praça de Maio buscam, ainda hoje, cerca de 300 netos nascidos durante o cativeiro de suas mães.