O que está por trás do veto do Brasil à entrada da Venezuela nos Brics?

Lula não foi a cúpula da Rússia, mas a chancelaria levou a reunião a posição de veto do Brasil a Venezuela

Não é necessariamente um veto, porém é uma posição contrária à entrada do país do ditador Nicolás Maduro no bloco. Como as decisões dos Brics (grupo que une Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) precisam de consenso, a Venezuela foi impedida de entrar nesta cúpula de 2024 como parceira do grupo pela recusa da posição brasileira em chancelar o país vizinho.

O governo russo já havia manifestado a sua vontade de expandir o bloco mais uma vez, entretanto, não com novos membros plenos, mas com novos parceiros, países que participarão das reuniões, mas não vão ter status de membros plenos. Dos países integrantes do bloco, apenas o Brasil não aceitou responder à lista solicitada pela Rússia, de quais países cada integrante queria ver no grupo.

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A proposta brasileira era estabelecer critérios para ingresso de membros parceiros do bloco. Um dos critérios defendidos pelo Brasil é a ausência de contenciosos entre os países membros com os aspirantes, um claro critério para barrar a Venezuela no grupo. Mas qual o interesse do Brasil em barrar o vizinho?

Barrar influência de Rússia e China não é uma questão apenas de veto, é uma questão de soberania e de interesse nacional. Isolado por vários de seus vizinhos e pelos Estados Unidos e pela Europa, o regime chavista precisa de legitimação dos países do sul global, e de novos mercados para contornar as sanções norte-americanas e europeias.

Porém, quanto mais apoio desses países, mais o regime pode se dar ao luxo de virar as costas e menosprezar as decisões de Brasília, o que já acontece, mas poderia se intensificar ainda mais, com a entrada da Venezuela no bloco.

Entretanto, não foi apenas o Brasil que bloqueou um país de entrar no grupo. A Índia também bloqueou a entrada do Paquistão, seu rival regional, com quem o país ainda hoje tem disputas territoriais.

Nascido como um bloco das maiores economias emergentes que têm objetivos em comum da reformulação da estrutura global, os Brics caminham para incorporar países antagônicos ao ocidente, o que pode radicalizar o grupo. Uma possível radicalização pode tornar a participação de países que não têm interesse em embate com o ocidente, como o Brasil e a Índia, insustentável, é dever do Itamaraty ficar atento.

Como resposta ao veto brasileiro, o governo venezuelano emitiu um comunicado em que considera a posição brasileira uma agressão e um ato hostil. O presidente russo, Vladimir Putin, também falou sobre o assunto durante uma coletiva na cúpula do bloco, dizendo que discorda da posição do brasileiro, e que espera que a Venezuela e Brasil normalizem suas relações.

Histórico de tensões

A Venezuela não é só um vizinho, é um vizinho problemático, com o qual o Brasil tem tido problemas desde as eleições contestadas de Maduro. Desde o fim da eleição, na qual as pesquisas mostravam o atual presidente bem atrás do candidato da oposição, o governo Brasileiro pede o acesso às atas eleitorais para comprovar quem de fato venceu o pleito.

Observadores internacionais e a oposição dizem que tiveram acesso às atas eleitorais, e que elas indicam uma vitória do candidato Edmundo González com mais de 60% dos votos. Um ano antes o Brasil já havia participado dos acordos de Barbados, onde Maduro se comprometeu na realização de eleições livres, em troca do alívio das sanções econômicas dos Estados Unidos sobre a Venezuela.

O governo venezuelano, porém, não cumpriu os acordos. Primeiro impedindo a opositora Maria Corina judicialmente de se candidatar, depois sua substituta, a filósofa e professora universitária Corina Yoris. Foi então que a oposição escolheu González. Segundo analistas, o regime apostou que ele não teria força política para ameaçar Maduro.

Desde o início do terceiro mandato de Lula, o presidente se esforçava para trazer a Venezuela à comunidade internacional, em especial com os países vizinhos e ocidentais, porém, os esforços do petista foram em vão, uma vez que o Brasil como país fiador de Maduro, foi posto em situações constrangedoras.

Além dos problemas internos, Maduro colocou todo o continente em alerta quando ameaçava o país vizinho, a Guiana. Em dezembro de 2023, o autocrata fez uma referendo perguntando à população sobre a reivindicação de 70% do país vizinho, a região conhecida como Guiana Essequiba.

Lula entrou em ação e emitiu um comunicado junto com os países vizinhos em que pedia a contenção e que a América do Sul continuasse sendo um dos poucos continentes do mundo livre de guerras. Por essas questões, a Venezuela continua sendo um problema geopolítico para o Brasil, que começou a perceber que a influência da China e da Rússia no continente precisa ter limites, pois eles se chocam com os interesses brasileiros.

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