Biden, um fardo eleitoral que Kamala tenta deixar de lado

Mais Beyoncé, menos Joe Biden: o presidente americano cometeu um grave erro ao chamar de "lixo" os apoiadores de Donald Trump, confirmando que se tornou um fardo para a candidata democrata, Kamala Harris, que tenta amenizar as gafes do mandatário na reta final da campanha pela Casa Branca.

O presidente, que tem 81 anos, entrou na terça-feira como um elefante em uma loja de louças. Biden insultou os apoiadores do candidato republicano durante uma videoconferência com membros da ONG Voto Latino, na qual tentou criticar comentários de um comediante pró-Trump considerados racistas.

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Em um comício de Trump no domingo, o humorista Tony Hinchcliffe comparou Porto Rico a "uma ilha flutuante de lixo".

"O único lixo que vejo flutuando por aí são seus seguidores", afirmou Biden, provocando consternação no campo democrata.

A Casa Branca e o próprio presidente tentaram conter a crise, afirmando que Biden se referia "à retórica odiosa sobre Porto Rico lançada por um apoiador de Trump".

Mas o estrago já estava feito, e os republicanos não perderam a oportunidade.

- Exigência de desculpas -

"Joe Biden e Kamala Harris odeiam os Estados Unidos", afirmou Karoline Leavitt, porta-voz de Trump. "Kamala deve responder por esse ataque vergonhoso contra dezenas de milhões de americanos".

"Terrível dizer uma coisa assim", insistiu Donald Trump em um ato de campanha na Pensilvânia.

O senador republicano Marco Rubio exigiu no mesmo evento um pedido de desculpas de Joe Biden. "Não somos lixo. Somos patriotas que amam os Estados Unidos", disse.

Após um evento emblemático que contou com a presença de uma multidão em Washington, Kamala se viu obrigada a apagar o incêndio nesta quarta-feira.

"Estou totalmente em desacordo com qualquer crítica às pessoas com base em quem votam", disse.

Os democratas lembram claramente quando Hillary Clinton — que concorreu com Trump à Presidência em 2016 — disse que metade dos apoiadores do republicano eram "deploráveis".

Embora a candidata tenha se arrependido publicamente, a expressão depreciativa foi repetida inúmeras vezes pelos seguidores de Trump, e ele até a usou em um anúncio de televisão.

As análises posteriores à derrota de Hillary consideraram que o insulto teve um impacto importante.

Na semana passada, Joe Biden fez os democratas suarem frio ao declarar que era necessário "prender Trump".

Depois, ele se corrigiu e afirmou que queria dizer "prendê-lo politicamente".

O mais recente deslize pode prejudicar Kamala Harris na votação da próxima terça-feira?

"É possível. (As eleições) estão tão próximas que qualquer coisa pode contar", disse à AFP John Hansen, professor de ciência política na Universidade de Chicago.

- Mais Beyoncé, menos Joe Biden - 

Kamala substituiu Biden como candidata democrata em julho. Inicialmente, seguiu os passos do presidente, adotando seu programa e balanço de gestão.

Mas, nas últimas semanas, ela percebeu o apelo que podem ter uma mudança de rumo e o distanciamento do presidente, cuja imagem se desgastou com a idade.

Kamala também escolheu cuidadosamente quem a acompanha em seus eventos de campanha, já contando com um elenco de estrelas que inclui o ícone pop Beyoncé e o lendário roqueiro Bruce Springsteen.

Barack Obama e sua esposa, Michelle, figuras de grande força política, também marcaram presença.

"Harris, obviamente, deveria evitar muitas aparições conjuntas com Biden até que as eleições passem. Biden é bastante impopular, está desgastado e tem se saído mal", resume Larry Sabato, diretor do Centro de Política da Universidade da Virgínia. 

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