Política externa: Kamala promete manter alianças enquanto Trump indica ruptura

10:00 | Out. 28, 2024

Por: Shaun TANDON

Os dois candidatos à Presidência dos EUA apresentam visões do mundo bastante distintas, com a eleição de novembro potencialmente capaz de mudar dramaticamente a política em relação à Ucrânia e outros parceiros.

A vice-presidente Kamala Harris promete, em grande parte, continuidade com o presidente Joe Biden, embora busque uma abordagem mais sutil em relação ao Oriente Médio. Um retorno de Donald Trump provavelmente significaria uma ruptura acentuada com a atual política externa dos EUA.

- Ucrânia -

Poucas questões dividem tanto os dois candidatos quanto a Ucrânia.

Trump zombou dos bilhões de dólares em ajuda dos EUA à Ucrânia, afirmando que a Rússia, que invadiu o país vizinho em fevereiro de 2022, está destinada a vencer.

O republicano já expressou admiração pelo presidente russo, Vladimir Putin, comentários que foram aproveitados por Kamala, que durante o debate de setembro disse: "Se Donald Trump fosse presidente, Putin estaria sentado em Kiev agora".

Kamala prometeu manter o apoio à Ucrânia, enquanto os assessores de Trump sugeriram usar a assistência dos EUA para forçar a Ucrânia a fazer concessões territoriais com o objetivo de acabar rapidamente com a guerra.

Trump também zombou do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, chamando-o de "o melhor vendedor", em uma crítica ao seu lobby por ajuda militar dos EUA, embora os dois tenham se encontrado recentemente de forma cordial.

- Oriente Médio -

Kamala e Trump são firmemente pró-Israel, mas divergem sobre o quanto pressionar seu aliado, à medida que a guerra se espalha pelo Oriente Médio.

Kamala, assim como Biden, deixou claro que continuará armando Israel, distanciando-se das demandas da ala esquerda do Partido Democrata por um embargo de armas para proteger civis.

Ela, no entanto também defende a "autodeterminação" palestina e afirmou que "não ficará em silêncio" diante do sofrimento na Faixa de Gaza.

A base republicana de Trump é fortemente pró-Israel, e ele tem atacado repetidamente o histórico de Biden como um fracasso, como em 1º de outubro, quando o Irã disparou mísseis em resposta aos ataques de Israel a militantes do Hezbollah e comandantes iranianos no Líbano.

Trump, enquanto presidente, tomou uma série de ações marcantes em favor de Israel, incluindo a mudança da embaixada dos EUA para  Jerusalém e oferecendo incentivos às nações árabes para que normalizassem as relações com Israel.

Contudo, o republicano também tem uma passagem complicada com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, a quem criticou por se juntar a outros líderes mundiais ao reconhecer que Biden venceu a eleição de 2020 — um resultado que Trump se recusa a aceitar até hoje, apesar das evidências esmagadoras.

- China e Taiwan -

Democratas e republicanos falam da China como o principal desafio a longo prazo, embora se dividam na retórica e na abordagem.

Trump atacou incansavelmente a China em seus discursos de campanha e prometeu impor tarifas elevadas sobre produtos chineses, esperando impulsionar a fabricação interna. No entanto, apesar de suas declarações públicas, também indicou que está aberto a negociações com o presidente Xi Jinping.

Biden, de certa forma, foi mais além do que Trump, incluindo a imposição de uma proibição abrangente sobre exportações de chips de alta tecnologia.

Kamala destacou a relutância de Trump durante seu governo em tomar medidas semelhantes, alegando que ele "basicamente nos vendeu", com o exército chinês se beneficiando da tecnologia dos EUA.

Enquanto isso, em Taiwan, ilha de regime democrático cujo controle Pequim afirma que vai retomar no futuro, Trump gerou apreensão ao sugerir que Taipé pagasse a Washington por sua defesa, comparando os Estados Unidos a uma companhia de seguros.

Kamala, como vice-presidente, comprometeu-se a manter o status quo, afirmando que "apoiamos a autodefesa de Taiwan, de acordo com nossa política de longa data."

- Aliados dos EUA -

Em uma ruptura acentuada em relação aos presidentes anteriores de ambos os partidos, Trump questionou a utilidade da Otan, a aliança de defesa do Atlântico Norte formada no início da Guerra Fria.

Trump até disse em fevereiro que incentivaria a Rússia a fazer "o que quisesse" com membros da aliança que não aumentam seus gastos com defesa.

Kamala condenou os comentários de Trump e promete, assim como Biden, trabalhar com os aliados e apoiar a Otan.

Durante a sua presidência, Trump se mostrou favorável à ruptura de acordos internacionais que não o agradam, incluindo o acordo nuclear com o Irã.

Um governo Trump também exerceria maior pressão sobre os líderes de esquerda na América Latina, em particular Cuba e Venezuela, embora nem Biden, nem Kamala pareçam muito distantes desta política.

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