Pesquisa indica ser possível usar bactérias para gerar alimento a partir de asteroides

Decomposição do asteroide Bennu pode gerar "comida" suficiente para 17 mil astronautas sobreviverem por um ano. Entenda

Já imaginou comer um asteroide? Por mais improvável que a pergunta pareça, essa realidade representa a mais nova esperança da humanidade para exploração espacial de longos períodos.

Um estudo publicado na revista "The International Journal of Astrobiology" trabalha a hipótese de usar bactérias para decompor elementos presentes em asteroides para gerar matéria orgânica e a partir dela, alimentos. 

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A ideia apresentada por pesquisadores poderá mudar para sempre a forma de consumo de alimentos em longas missões espaciais. 

Estudo aponta que o futuro da alimentação espacial poderá vir dos asteroides

A pesquisa que promete dar um novo rumo para os estudos sobre alimentação humana no espaço foi publicada na última quinta-feira, 3 de outubro de 2023, pela Universidade de Cambridge, nos Estados Unidos. 

O estudo se baseia no uso de hidrocarbonetos encontrados em asteroides, isto é, substâncias feitas essencialmente por carbono e hidrogênio. A hipótese dos cientistas consiste em usar o processo químico chamado Pirólise Processo químico que envolve a decomposição de uma substância por meio de calor, originando dois ou mais produtos  como a base da produção de alimentos a partir de asteroides. 

Nos testes, os cientistas esquentaram amostras ricas em hidrocarbonetos para decompor os elementos. O "resultado" desse processo é então usado para alimentar uma mistura de bactérias que iniciam uma nova decomposição, gerando assim novos elementos que puderam ser convertidos em uma biomassa orgânica.

A teoria indica que essa biomassa apresenta o mesmo conteúdo nutricional encontrado em alimentos humanos convencionais que foram decompostos com a mesma técnica.

Assim, os cientistas acreditam ser possível gerar matéria orgânica com valor nutricional a partir da decomposição de hidrocarbonetos presentes em asteroides, já que, os elementos testados em laboratórios são quimicamente iguais aos identificados em amostras de asteroides.

Decomposição do asteroide Bennu pode gerar "comida" suficiente para 17 mil astronautas sobreviverem por um ano  

O estudo assume como ponto de partida para os cálculos da teoria, o meteorito Murchison. A partir dele, os pesquisadores tentaram descobrir quanta matéria orgânica poderia ser convertida em biomassa nutricional. A dúvida a ser investigada era clara: Quanta "comida" seria possível gerar a partir da rocha espacial?

De acordo com os pesquisadores, na teoria, a quantidade mínima de material orgânico que pode ser convertida em alimento vem dos hidrocarbonetos alifáticos (compostos orgânicos simples). A quantidade máxima seria se toda a matéria orgânica presente nas pedras espaciais fosse convertida.

Os resultados dos experimentos indicam que partir desses cálculos, em um cenário mínimo de aproveitamento, a biomassa que poderia ser gerada de um asteroide como o Bennu Asteroide Apolo descoberto pela sonda LINEAR em 11 de setembro de 1999. O asteroide é o alvo da sonda OSIRIS-REx, que foi lançada em 2016. Em 20 de outubro de 2020 a sonda pousou no asteroide e coletou algumas amostras para um estudo aprofundado. A rocha tem mais de meio quilômetro de diâmetro. seria algo estimado entre 5 toneladas e 239 mil toneladas. 

O peso total, contudo, atinge outro patamar se considerado uma realidade onde os humanos pudessem extrair todos os compostos orgânicos da rocha espacial. Nesse cenário, o valor da massa nutricional que poderia ser gerada iria variar entre 1,3 milhões de toneladas e 6,5 milhões de toneladas.

O estudo estima ainda que tais valores de composto nutricional seriam capazes de gerar até 15, 8 trilhões de calorias. O que seria suficiente para sustentar até 17 mil astronautas por um ano.

A quantidade exata, destaca a publicação científica, depende de quão eficientemente será a decomposição dos compostos de carbono do asteroide feita pelas bactérias. Além disso, reforçam os pesquisadores na argumentação do artigo publicado. 

"Com base nesses resultados, essa abordagem de usar carbono em asteroides para fornecer uma fonte de alimento distribuída para humanos parece promissora, mas há áreas substanciais de trabalho futuro"

Em entrevista ao portal NewScientist, Joshua Pearce, um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, explica que “quando você olha para os produtos de decomposição da pirólise que sabemos que as bactérias podem comer, e então o que está nos asteroides, eles combinam razoavelmente”.

Segundo o pesquisador, após uma análise nutricional, a biomassa produzida pelas bactérias a partir da decomposição dos hidrocarbonetos “acabou sendo um alimento quase perfeito”.

Alimentação no Espaço: Como se alimentam os astronautas?

A Estação Espacial Internacional (ISS) enfatiza que uma nutrição adequada é essencial para o bem-estar físico e mental, além de auxiliar na recuperação e no desempenho em atividades físicas.

Os astronautas precisam seguir planos alimentares rigorosos, ricos em proteínas, vitaminas e minerais, para minimizar os efeitos adversos da micro gravidade e assegurar sua saúde durante longas missões.

Nesse contexto, a nutrição feita por astronautas em missões espaciais foi se atualizando constantemente. Durante o primeiro voo tripulado ao espaço, ainda em 1961, o cosmonauta Yuri Gagarin provou que era possível comer no espaço utilizando embalagens de tubos de pastas de dente.

Na missão espacial, ele comeu cerca de 300 gramas de pasta de carne ao longo da jornada espacial que durou cerca de 1 hora e 48 minutos. Yuti chegou a atingir uma altura de cerca de 315 km acima do nível do mar e registrou uma velocidade de atingiu uma velocidade de aproximadamente 28 000 km/h.

Com o segundo projeto de exploração espacial realizado pela Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos (NASA), o projeto Gemini, executado entre 1965 e 1966, houve uma melhora considerável na questão alimentar dos astronautas.

O feito ocorreu com a implementação de métodos de reidratação de alimentos e um revestimento à base de gelatinas para evitar a liberação de migalhas no ato do consumo. Com as novas tecnologias, uma gama de alimentos foram incluídos no cardápio espacial como frango, vegetais, pudins entre outros.

Quase seis décadas depois, os astronautas não enfrentam mais tantos problemas com a alimentação como outrora. Frutas, vegetais e uma variedade de comidas desidratadas já fazem parte dos cardápios atuais desses profissionais.

No entanto, de acordo com uma pesquisa publicada no The International Journal of Astrobiology, o futuro da fonte de alimentação dos astronautas em longas missões espaciais pode, literalmente, não estar na Terra, e sim, passar a ser retiradas dos asteroides e rochas espaciais.

Os primeiros testes da teoria são considerados revolucionários, mas ainda depende de avanços tecnológicos significativos em uma gama de áreas do conhecimento. 

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