Economia sólida e eleitores pouco entusiasmados, o paradoxo dos EUA

A economia americana mostra um vigor inesperado, com uma geração de empregos que supera as expectativas do mercado, mas ainda que o tema seja central a um mês das eleições presidenciais, os eleitores estão pouco otimistas.

A inflação se modera, a recessão anunciada nunca chegou, o consumo segue sólido e o mercado de trabalho tem uma força que não deixa de surpreender. No entanto, quase metade dos entrevistados pelo The New York Times/Siena College consideram a situação econômica "ruim", de acordo com uma pesquisa publicada na terça-feira. 

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Depois de três anos de forte inflação, "os preços altos prejudicam a carteira das pessoas e é realmente o que pesa sobre a confiança dos consumidores, embora os dados sejam sólidos", explicou à AFO Joanne Hsu, diretora da pesquisa mensal da Universidade de Michigan sobre confiança dos consumidores. 

Os preços estão, em média, 20% mais altos do que eram no início de 2020, anterior à pandemia. 

"O simples fato de ver os preços aumentarem regularmente pesa sobre o ânimo coletivo, em particular o das famílias de rendas baixa e média", analisa Ryan Sweet, economista da Oxford Economics. 

- Prioridade dos eleitores -

O candidato republicano à Casa Branca, o ex-presidente Donald Trump, dirige seus ataques sobre essa questão sensível para os eleitores, com o argumento de que os preços são muito mais altos do que quando ele governava (2017-2021).

"A inflação destruiu a nossa economia", declarou na sexta-feira em Augusta, Geórgia. 

"Com (a vice-presidente Kamala Harris) no poder, a inflação subirá como uma flecha", acrescentou no domingo em Juneau (Wisconsin), onde prometeu que, se vencer a eleição, "desde o primeiro dia", os Estados Unidos ficarão "baratos de novo". 

A situação econômica é uma das prioridades dos eleitores em face às eleições de 5 de novembro. 

"O fato de as pessoas terem a impressão de não prosperar nesta economia é uma verdadeira dificuldade para o partido no governo", destaca Hsu.

O Partido Democrata parece convencer um pouco mais em matéria econômica desde que Kamala Harris assumiu a candidatura após a saída de Joe Biden em julho. 

Uma pesquisa da Universidade do Michigan publicada em 20 de setembro mostrou que 41% dos entrevistados consideram Kamala Harris "melhor para economia", contra 38% para Trump.

A mesma pesquisa em julho, quando Biden era candidato, dava vantagem a Trump, com 40% sobre 35% para o atual mandatário.

- O sonho americano -

Kathy Bostjancic, economista-chefe da Oxford Economics, menciona um estudo do Gabinete de Orçamento do Congresso (CBO em sua sigla em inglês), um organismo independente do Legislativo, que mostrou em maio "que o poder de compra das famílias é maior do que em 2019". 

Os salários sobem mais que a inflação desde maio de 2023. Mas essa não é a realidade para todos e muitas famílias utilizam seus cartões de crédito para pagar suas compras e têm dificuldades para reduzir suas dívidas. 

Com o aumento dos preços, o famoso "sonho americano" se vê ameaçado. 

"A compra de uma casa é incrivelmente menos possível hoje do que antes da pandemia", destaca Bostjancic. Os preços dispararam e as taxas de juros "seguem muito acima dos 6% para os créditos hipotecários". 

A inflação moderou sensivelmente desde seu pico de 9,1% em 12 meses em junho de 2022, e marcou 2,5% em agosto, segundo o IPC. A meta de 2% do Fed (Banco Central americano) está muito próxima. 

Em setembro, o índice de desemprego caiu ligeiramente a 4,1% e a criação de postos de trabalho foi muito superior ao esperado. 

Mas os números "mascaram as enormes variações por setor", com o crescimento do emprego "fortemente concentrado em apenas alguns setores", indicou à AFP Julia Pollak, economista-chefe do site de anúncio de empregos ZipRecruiter.

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