Calor extremo, outra forma de pena de morte para os presos no Texas
10:34 | Out. 02, 2024
A noite previa sua morte na prisão, a Patrick Womack, de 50 anos, negaram um banho de água gelada para se refrescar do calor. Com sensações térmicas que superam os 45ºC, as prisões do Texas são "fornos de tijolos" no verão.
Durante seu último dia, John Castillo, foi buscar água gelada 23 vezes. O encontraram inconsciente e, logo depois, ele morreu na unidade médica com uma temperatura corporal acima dos 41°C, similar à registrada por Patrick depois de ser encontrado seminu em sua cela sem que pudesse ser reanimado. John era epilético e Patrick estava tomando remédios por depressão.
No caso de Elizabeth Hagerty, 37 anos, dias antes de sua morte, ela alertou sobre o risco do calor para sua saúde devido à obesidade e ao diabetes e procurou atendimento médico para uma erupção cutânea que invadiu seu corpo. Todos os três casos são de 2023.
Todos os anos, entre junho e outubro, com as altas temperaturas no sul dos Estados Unidos, se reaviva a preocupação dos familiares com os presos no Texas: Sobreviverão? Ativistas foram à Justiça para pedir que se respeite os limites legais de entre 18°C e 29ºC dentro das celas.
Isso implica instalar ar-condicionado que a maioria das prisões administradas pelo Departamento de Justiça Criminal do Texas (TDCJ) não tem ou possui parcialmente. Em todas as suas prisões há um total de 45.689 camas climatizadas para uma população de 134.000.
Amite Dominick, presidente da organização Defensores Comunitários nas Prisões do Texas (TPCA) diz que uma decisão judicial favorável abriria um precedente para outros estados que também passam por esse mesmo problema. "Vemos que agora, com a mudança climática, isso está impactando prisões em todo o país", detalha.
As mortes de Elizabeth, Patrick e John fazer parte do processo contra o TDCJ.
Na audiência judicial de início de agosto, o diretor da instituição, Bryan Collier, admitiu, após ser questionado por uma advogada dos demandantes, que, nestas três mortes, o calor pode ter influenciado, além das doenças que acometiam os afetados.
Recordou que corresponde ao Parlamento do Texas aprovar o orçamento para o ar-condicionado. Enquanto isso, há ventiladores, água gelada, banhos frios, hidratação e traslados momentâneos para áreas comuns climatizadas - como a biblioteca ou o centro médico - para aliviar o calor.
- Um privilégio? -
Não é suficiente. "No Texas, todo verão, temos altas temperaturas, alta umidade e perdemos vidas, porque as pessoas estão cozinhando dentro desse forno de tijolos", disse Dominick do lado de fora da prisão Wynne, em Huntsville, que abriga 2.600 presos sem ar-condicionado.
"Durante meu confinamento, dava várias vezes descarga, que saía mais fria do que a água da torneira, para molhar meu corpo", conta Marci Marie Simmons, de 45 anos, que ficou 10 anos presa na unidade Murray, por crimes contábeis.
“Algumas mulheres davam descarga no vaso sanitário para que a água caísse no chão, molhasse o concreto e lhes proporcionasse uma superfície fresca para descansar... Vi até mesmo funcionários da prisão ficarem doentes por causa das altas temperaturas”, acrescenta Simmons, porta-voz da Aliança de Mulheres Impactadas pela Justiça.
Dominick diz que, ano após ano, eles tentam fazer com que a legislatura do Texas aborde a questão.
“Eles são criminosos sexuais, estupradores, assassinos, e nós vamos pagar pelo ar condicionado deles quando eu não posso fornecer ar condicionado para cidadãos que trabalham duro e pagam impostos?”, questionou o então senador estadual responsável pela questão e atual prefeito de Houston, John Whitmire, em 2012, conforme citado pelo The New York Times.
Collier, do TDCJ, disse na audiência que as posições mudaram. Desde 2017, sua instituição vem solicitando o orçamento ao parlamento estadual e, finalmente, no ano passado, eles receberam parte do dinheiro solicitado, com o qual estão atualmente construindo 1.760 leitos adicionais com ar-condicionado.
Enquanto isso, o sofrimento continua. “Foi horrível. Às vezes eu me sentia como se estivesse desmaiando”, diz Samuel Urbina, 59 anos, minutos depois de sair de uma prisão em Hunstville, onde foi detido por crimes relacionados a drogas. “Eu não vou voltar”, disse ele, antes de abraçar a filha que veio buscá-lo.
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