Rússia x Ucrânia: até onde vai a retórica nuclear de Putin?

Presidente russo mais uma vez fala em utilizar seu arsenal nuclear. O que pode parecer força, na verdade pode ser fraqueza

Na última quarta-feira, 25, o presidente Vladimir Putin mais uma vez advertiu o Ocidente de que a Rússia poderia utilizar armas nucleares em resposta a um ataque convencional ucraniano apoiado por qualquer potência nuclear. Ou seja, se um míssil norte-americano ou britânico, cedido para Ucrânia, for lançado sobre o território russo, o Kremlin iria considerar isso um ataque de ambos os países.

Faz sentido esse tipo de ameaça, considerando, por exemplo, que uma guerra entre a Rússia e a Otan tem um potencial para se tornar uma guerra nuclear? Desde o início do conflito na Ucrânia, várias “linhas vermelhas” ditas pela Rússia foram ultrapassadas pelo ocidente. Primeiro, várias armas cedidas ao país, depois sistemas de defesa aérea, por último, mísseis que podem atingir território russo, e em nenhum dos casos Putin reagiu com armas nucleares.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

Em 2022, o mundo assistia atônito aos primeiros bombardeios e ao caos instalado de milhares ucranianos tentando deixar sua terra, enquanto o líder russo aparecia na televisão ameaçando atacar, com força nunca antes vista, qualquer país que viesse em socorro do país invadido, em uma clara referência ao seu arsenal nuclear.

LEIA TAMBÉM: Putin diz que potência nuclear que apoiar ataque ao país pode ser considerada agressora

Já se passaram mais de dois anos de guerra, e o presidente russo fez referências ao uso de suas armas nucleares em mais de 10 ocasiões, o que é visto pela maioria dos especialistas como uma forma de dissuadir o ocidente de qualquer tentativa de intervir diretamente no conflito.

Hoje, a Rússia é detentora do maior arsenal nuclear do mundo, com cerca de 5600 ogivas, algumas poucas a mais que os Estados Unidos. Em entrevista na última quarta-feira, 13, Putin voltou a assustar o mundo, afirmando que a Rússia está pronta para um conflito nuclear.

As palavras do líder russo parecem ignorar um princípio básico das relações internacionais para uma guerra nuclear, o de “destruição mútua assegurada”, ou seja, não há vencedores. Diante da ação do ocidente em ceder armas para Ucrânia, fica claro que as tentativas de dissuadir europeus e americanos não funcionaram, e que resta a ele uma nova estratégia para tentar dissuadir os ocidentais a não intervirem diretamente na guerra.

Putin parece tentar agora de alguma maneira vender seu arsenal como o mais completo e que não daria chances para seus inimigos responderem a nenhum ataque. O que pode parecer força, também pode na verdade ser fraqueza, uma das últimas cartadas para tentar manter o restante da Europa longe da guerra.

Com uma possível vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, o mundo não pode descartar uma escalada da guerra diante de uma Europa desesperada para salvar o Estado ucraniano se a Rússia avançar mais sobre o território vizinho. O presidente francês Emanuel Macron é um dos líderes que já defenderam o envio de tropas ocidentais à Ucrânia, dizendo que seu país não deve ter medo da Rússia, já que a França também é uma potência nuclear.

Diante da disparidade dos arsenais nucleares, muitos torcem para que não haja um enfrentamento direto entre a Rússia e países europeus, pois o gigante arsenal russo seria invencível. Hoje, Reino Unido e França têm, juntos, mais de 500 ogivas, e Putin, por mais imprevisível que seja, sabe que apesar do seu arsenal ter o poder de devastar a Europa, seu primeiro ataque nuclear, resultaria em um ataque recíproco da França ou do Reino Unido, e para destruir Moscou também é necessário apenas uma bomba.

Porém nada pode ser descartado. Como todo líder autoritário, Putin não pode ser subestimado, e cada uma de suas decisões deve ser observada de perto. A dois anos e meio atrás ninguém acreditava que seu país iria invadir a Ucrânia.

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar