Mercado imobiliário aquecido de Nevada pode pesar na eleição presidencial nos EUA

Brittnie Aguirre cresceu em Nevada e sempre quis construir o seu próprio sonho americano neste estado: ter uma casa com seu marido e três filhos.

Contudo, a disparada dos preços impulsionada pelo crescimento do mercado imobiliário com o passar dos anos deixou-a — e a muitos americanos de classe média —fora do mercado, uma questão que pode pesar fortemente nas eleições presidenciais de novembro.

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"Nós fazemos o máximo que já fizemos em nossas vidas, mas lutamos mais do que nunca, só porque o custo de vida está absolutamente nas alturas", contou à AFP.

"Não é só a moradia. Você viu o preço dos mantimentos, da gasolina?".

- A economia -

Aguirre, de 29 anos, e seu marido, 31, moram e trabalham em Reno, uma cidade que cresce vertiginosamente em Nevada, no oeste do país.

Este estado, cujo presidente Joe Biden venceu por apenas 33.000 votos de diferença sobre Donald Trump em 2020, possui apenas seis votos no colégio eleitoral dos 270 necessários para ganhar a Casa Branca.

Mas na disputa acirrada deste ano entre Kamala Harris e Trump, é um dos poucos decisivos que deverão determinar quem vencerá.

A política americana é quase sempre dominada pela economia, fazendo com que eleitores como Aguirre tenham um papel importante.

Ela morou na casa de seus sogros por um ano e meio para economizar. Mas mesmo assim — e com os preços dos imóveis em alta — mais de metade do rendimento anual familiar de US$ 71.000 (R$ 374 mil na cotação atual) após impostos seria engolido por US$ 3.000 (quase R$ 16 mil) de uma hipoteca mensal.

Embora Aguirre tenha votado em Biden em 2020, a decepção com as finanças familiares influenciará sua decisão este ano.

"Eu nunca fui realmente uma pessoa política até o ano passado, quando lutamos muito com a economia. Desta vez, quero pesquisar mais sobre os partidos políticos para tomar uma decisão consciente", declarou.

- 'Tudo está à venda' - 

Reno, apelidada como "A maior cidade pequena do mundo", é um território essencial para Harris.

A glamourosa grande cidade de Las Vegas, ao sul, inclina-se para os democratas, enquanto as áreas rurais do restante do estado são seguramente republicanas. 

Com os dois blocos se anulando em grande parte, o vencedor que levar todo o estado pode chegar ao condado de Washoe, onde fica localizada Reno.

A população desta cidade dobrou desde 1990, aumentando nos últimos anos pelo efeito da entrada de trabalhadores do setor tecnológico, seguindo a política de incentivos fiscais para atrair empresas como Tesla, Panasonic e Apple. 

Grande parte desta força de trabalho procedente da Califórnia ficou encantada ao descobrir quanto mais podem pagar.

O preço médio de uma casa em Cupertino, Califórnia — sede da Apple – é superior a US$ 3 milhões (quase R$ 16 milhões), segundo Zillow. Já uma casa simples para família em Washoe, Nevada é avaliada em US$ 550.000 (quase R$ 3 milhões).

Para Matt Mireles, diretor de uma start up de inteligência artificial (IA), trocar a cidade de São Francisco por Reno foi "um golpe certeiro". 

Aos 43 anos, ele comprou um apartamento de 170 metros quadrados, com vista para o rio, no coração de Reno, por US$ 635 mil (R$ 3,34 milhões). 

"Quando você vem da Califórnia, tudo está à venda", afirmou.

 - 'Excluídos' - 

Mas a maior parte dos compradores de primeira viagem em Reno são de outros estados, diz o corretor imobiliário Sam Britt, o que tem deixado os moradores locais "irritados".

Embora os recém-chegados possam considerar o valor acima razoável para uma casa, este número é o dobro do que costumava ser há uma década.

Somado a isto, o fato das taxas de juros estarem próximas dos pontos mais altos dos últimos 20 anos — resultado da ação do banco central americano para conter a inflação — coloca a compra de casa própria fora do alcance de muitos. 

O corretor de imóveis Sean Burke observa que uma taxa de juros de 7% sobre uma hipoteca de 30 anos está afetando os americanos. 

"A classe média foi excluída de muitas casas. Isso definitivamente pode pesar nas urnas", afirmou.

Em 2022, a idade média dos compradores de primeira viagem nos Estados Unidos foi de 36 anos, um recorde, segundo a Associação Nacional de Corretores Imobiliários.

Enquanto a Casa Branca não tem controle sobre as taxas de juros e pouca influência real sobre a inflação, os eleitores tendem a culpar o governo em exercício por suas dificuldades econômicas.

E tendo sido uma carta coringa de Biden durante mais de três anos, muitos americanos viram a promessa da casa própria escapar de seu alcance, o que pode ser uma má notícia para Harris.

Andres Villa, que trabalhou para a Tesla, afirma que precisa realizar pagamentos mensais exorbitantes por sua casa própria e é tentado pela alternativa republicana.

"Quando Trump estava no cargo, disse um monte de besteiras, mas parecia que a economia estava um pouco melhor", disse.

Com a aproximação das eleições, os indicadores econômicos mais recentes, incluindo o de queda da inflação e um possível corte da taxa de juros do banco central, são cada vez mais positivos.  

Isso poderia trazer alguns eleitores como Villa de volta a Harris — e em um estado indeciso, isso é tudo que ela precisa.

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