Ecos de 1968 reverberam às vésperas da convenção democrata em Chicago

Um grande ato público para confirmar um novo candidato presidencial após o presidente em exercício desistir da reeleição, um conflito no exterior que divide os Estados Unidos, ondas de manifestações e violência: ecos de 1968 reverberam às vésperas da convenção democrata em 2024.

O evento, que terá início na segunda-feira (19) e estará centrado na ratificação da candidatura presidencial da vice-presidente Kamala Harris, apresenta várias semelhanças com aquela, memorável, que ocorreu há 56 anos.

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Para começar, ambas compartilham o mesmo cenário: Chicago, a terceira cidade mais populosa dos Estados Unidos, às margens do lago Michigan.

Em 2024, o presidente Joe Biden, de 81 anos, optou por abandonar a corrida pela reeleição devido a preocupações com sua saúde e idade. Em 1968, outro presidente democrata, Lyndon Baines Johnson, tomou essa mesma decisão, embora por razões diferentes.

Ambos foram então substituídos por seus respectivos vice-presidentes.

Em 2024, os Estados Unidos estão marcados por uma onda de protestos em torno da guerra em Gaza e da política de apoio a Israel adotada pela administração Biden.

Milhares de manifestantes pró-palestinos podem se reunir em Chicago a partir da próxima semana, de acordo com organizadores das convocações.

Em 1968, outra guerra dominava o panorama político antes das eleições: a Guerra do Vietnã, na qual os EUA estavam diretamente envolvidos.

Naquele ano, a convenção democrata foi abalada por grandes protestos e uma resposta policial brutal, com centenas de feridos e presos.

- "Estamos prontos" -

Entre distúrbios, assassinatos políticos e agitação política, 1968 foi chamado de "o ano que mudou os Estados Unidos". Para alguns observadores, 2024 poderia segui-lo em importância neste sentido.

O historiador David Farber acredita que 2024 "não é um gêmeo, mas um eco" de 1968.

"Eu pensava que o fantasma de 1968 havia sido realmente enterrado", disse à AFP este professor da Universidade de Kansas, autor de "Chicago". As manifestações que eclodiram nos campi universitários "sobre a situação entre Gaza e Israel", no entanto, o levaram a corrigir sua opinião. "Fui rápido demais", aponta.

A equipe de Kamala Harris tem motivos para se preocupar, acrescenta Farber. "Estou certo de que todas as pessoas envolvidas nesta campanha estão prendendo a respiração neste momento".

O chefe de polícia de Chicago, Larry Snelling, está decidido a evitar distúrbios como os de mais de meio século atrás. "Eles têm o direito de se manifestar", mas "não permitiremos que as pessoas venham e destruam esta cidade", advertiu. "Estamos prontos".

- "Profundas divergências" - 

Em 1968, nada saiu como planejado. O presidente "LBJ" surpreendeu os americanos ao anunciar em março que não buscaria um novo mandato.

Alguns dias depois, o principal líder afro-americano do movimento dos direitos civis, Martin Luther King Jr., foi assassinado.

Os protestos, às vezes violentos, se espalharam por várias cidades, incluindo Chicago. Em junho, Robert F. Kennedy foi morto a tiros.

O irmão do presidente "JFK", assassinado em 1963, era o então favorito para se tornar o candidato democrata para as eleições presidenciais de novembro.

Diretamente de Chicago, a AFP noticiava que a convenção democrata de 1968 havia começado "em uma atmosfera de profundas divergências" e "graves temores pelas eleições de novembro".

O candidato do partido, Hubert Humphrey, vice-presidente de "LBJ", acabou derrotado pelo republicano Richard Nixon.

- "Contrastes" -

No entanto, para alguns especialistas, os paralelos entre 1968 e 2024 são exagerados.

"É mais uma história de contrastes", diz o historiador Frank Kusch, autor de "Battleground Chicago", um livro sobre a convenção de 1968.

A convenção democrata daquele ano ocorreu "logo após assassinatos políticos e em um contexto de distúrbios raciais que já duravam quase dois anos", sem esquecer o "levante geracional contra a guerra" do Vietnã. "Não há nada agora que possa ser realmente comparável a tudo isso".

Por outro lado, a convenção democrata de 1968 é lembrada efetivamente pelas grandes divisões que nela se manifestaram. Nesta de 2024, em contrapartida, Kamala Harris receberá um apoio praticamente unânime de seu partido.

Para David Farber, o surgimento, na década de 1970, do sistema de primárias, tirou a relevância das convenções.

Desde então, "só se tornam importantes se algo der errado depois", disse. "Acredito que, neste momento, os democratas estão preocupados precisamente com isso".

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