Um reino nas mãos do 'mestre dos corvos' da Torre de Londres

09:21 | Ago. 16, 2024

Por: Marie HEUCLIN

Como comandante dos marinheiros reais, Michael Chandler realizou operações nos terrenos mais perigosos. Mas sua missão atual é ainda mais importante: como "mestre dos corvos" da Torre de Londres, é responsável pela sobrevivência do Reino Unido. 

A lenda relata que o rei Charles II (1660-1685) escutou uma profecia que dizia que se os corvos deixassem essa torre situada às marges do Tâmisa algum dia, ela desmoronaria e levaria com ela o reino da Inglaterra. 

Desde então, os membros dos Yeomen Warders, o corpo de guardas encarregados de vigiar esse castelo medieval que abriga as joias da Coroa, cuidam desses pássaros e vigiam para que pelo menos seis permaneçam no local, como ditam as regras promulgadas pelo rei Charles II. 

Desde março, Michael "Barney" Chandler, de 57 anos, está à frente dessa tarefa como "mestre dos corvos", uma função que leva muito a sério. Vestido com um uniforme preto e vermelho, famoso por seu chapéu redondo de aba plana, lidera uma equipe de quatro homens encarregados de alimentar, cuidar e vigiar os pássaros da Torre. 

Esse ex-comandante da Marinha Real, que participou em missões no Iraque, Afeganistão e no Ártico, não tinha nenhum interesse particular nos pássaros antes de chegar à Torre de Londres há 14 anos.

"O que me atraiu no início era a lenda, acredito. E depois, ao trabalhar com eles (...), se tornou algo natural", explica. "Me apaixonei pelos corvos", afirma Chandler, que exalta a "extrema inteligência" deles. 

"Têm sua personalidade, como nós", afirma. 

Atualmente, sete corvos vivem na antiga prisão, um a mais do que os seis necessários para estar a salvo de imprevistos, afirma o mestre. 

Naquela manhã, os corvos Edgar e Harris não têm pressa em tomar seu café da manhã: dois pintinhos mortos que Michael traz para eles através das grades do cercado, situado na grama perto de um dos muros, onde os pássaros passam a noite.

Seus companheiros Poppy, Georgie, Jubilee e Rex (o último a chegar e batizado em homenagem ao rei Charles III) não estão ali, estão voando em meio aos turistas da antiga prisão, que recebe três milhões de visitantes todos os anos. 

Também está Branwen, o sétimo, que há anos se nega a dormir com seus companheiros, mas também não deixa o local. 

"São muito caseiros (...), desta forma, mesmo se durante o dia estão em liberdade, não vão embora", explica Michael, que também destaca os bons tratos que recebem. 

No entanto, várias penas são cortadas de uma asa para que eles não possam voar muito alto.

Na Torre, podem sobreviver 20 anos, contra entre 10 e 15 na natureza. O corvo mais velho viveu na Torre durante 44 anos. 

mhc/gmo/dbh/meb/dd/yr