Jogos de Paris são último desafio para lenda da maratona Eliud Kipchoge

Ao começar sua carreira no atletismo no início dos anos 2000, o então jovem Eliud Kipchoge queria "simplesmente pegar um avião e ir para a Europa". Vinte anos depois, o queniano que se tornou uma lenda viva na maratona se prepara para seu último desafio: disputar os Jogos Olímpicos de Paris 2024 (26 de julho a 11 de agosto).

Aos 39 anos, Kipchoge quer fazer história no dia 10 de agosto se tornando o "primeiro ser humano a vencer três vezes consecutivas" a maratona olímpica, superando o etíope Abebe Bikila (1960 e 1964) e o alemão Waldemar Cierpinski (1976 e 1980).

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Foi justamente em Paris, em 31 de agosto de 2003, que o atleta então com 18 anos apareceu no cenário internacional, tornando-se campeão do mundo nos 5.000 metros, à frente dos grandes favoritos Hicham El Gerrouj e Kenenisa Bekele.

Mas foi na maratona que ele alcançou a glória, depois de não conseguir se classificar para os Jogos de Londres 2012.

Em duas ocasiões, bateu o recorde mundial da maratona (2018 e 2022). Atualmente é o único ser humano a ter percorrido 42,195 km em menos de duas horas, em uma corrida não homologada organizada por seu patrocinador em 2019.

Venceu 16 das 20 maratonas oficiais que disputou desde 2013. Além dos dois títulos olímpicos (2016 e 2021), são 11 vitórias nas grandes provas da modalidade (cinco em Berlim, quatro em Londres, uma em Tóquio e em Chicago.

- "Determinado" -

Caçula de uma família de quatro irmãos e criado pela mãe (o pai morreu quando era um bebê) na localidade de Kapsisiywa, Kipchoge sempre gostou de correr.

"Correr é normal na nossa comunidade. Vamos correndo para a escola, ao shopping...", conta o maratonista à AFP.

Kipchoge tentou a sorte no atletismo, "mas o objetivo não era chegar a ser um grande corredor. Simplesmente queria pegar um avião e ir para a Europa. Não sabia que ser atleta poderia alimentar minha família".

Quando adolescente, frequentemente se deparava treinando com um vizinho que só tinha visto pela televisão: Patrick Sang, vice-campeão mundial (1991 e 1993) e vice-campeão olímpico (1992) dos 3.000 metros com obstáculos.

Em 2001, abordou o ídolo e pediu um programa de treinamento. A partir daí, ambos criaram uma relação quase de pai e filho.

"Naquela época não dava para dizer que o garoto tinha algo especial. Mas olhando para trás (...) posso dizer que é alguém que sabia onde queria chegar. Ele era determinado", conta Sang.

- Leitura, futebol, boxe... -

Trabalhador incansável, anotando cada treino em um caderno, Eliud Kipchoge dedicou sua vida à corrida.

Desde 2002, passa nove meses por ano no centro de treinamento da agência de atletas Global Sports Communications em Kaptagat, no oeste do Quênia, a 2.500 metros de altitude.

A rotina de acordar cedo, correr e descansar se repete todos os dias. Nos fins de semana, encontra a mulher e os três filhos que moram na localidade vizinha de Eldoret.

Um estilo de vida que contrasta com sua renda, estimada em vários milhões de dólares provenientes de suas vitórias e recordes, mas também contratos de patrocínio (Nike, INEOS, Maurten, Isuzu...).

Fiel às origens rurais, Kipchoge tem uma fazenda de gado leiteiro e campos de milho na região de Eldoret, assim como uma plantação de chá em sua região natal.

Seu gosto pela leitura, que vai de Paulo Coelho a Stephen Covey, e pelas máximas lhe renderam o apelido de 'filósofo'.

Mas ele também acompanha de perto outros esportes. É fã de futebol e torcedor do Tottenham da Inglaterra, Fórmula 1, MotoGP, boxe e artes marciais mistas, duas modalidades que acha parecidas com a maratona.

"Essas pessoas treinam durante meses para um combate de 15 minutos. E em questão de segundos podem ser nocauteados".

- Ameaças de morte -

Eliud Kipchoge não está familiarizado com o fracasso, razão pela qual seus recentes resultados chamaram a atenção: sexto colocado na Maratona de Boston do ano passado e décimo na de Tóquio, em março.

"Fiquei três noites sem dormir em Tóquio", explicou o queniano em entrevista à BBC em maio, referindo-se a ameaças de morte que recebeu.

Diferentes teorias conspiratórias o acusam de estar envolvido com a morte de Kelvin Kiptum, novo prodígio da maratona, que faleceu em fevereiro em um acidente de carro perto de Kaptagat, no leste do Quênia.

"Recebi muitas coisas ruins: que iriam queimar meus investimentos na localidade, que queimariam minha casa, que queimariam minha família", relatou Kipchoge, se segurando para conter as lágrimas.

Profundamente afetado por este acontecimento, que segundo ele o fez perder 90% de seus amigos, o homem que costuma repetir que "a maratona é a vida, com altos e baixos", está diante de um novo desafio.

"É um sonho, entrar para a história", diz Patrick Sang. Se bem que, na sua opinião, Kipchoge já fez história: "Há quantos anos está no topo? Mais de 20 anos, já é história".

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