O chavismo precisa de 'garantias' para deixar o poder na Venezuela, diz ex-rival de Chávez

16:01 | Mai. 04, 2024

Por: AFP

Manuel Rosales é um veterano da política venezuelana: rival do então todo-poderoso Hugo Chávez em 2006, o atual governador do estado petrolífero de Zulia diz que a oposição pode derrotar Nicolás Maduro, mas deve oferecer "garantias" após uma eventual saída do poder.

Rosales, 71 anos, foi por algumas horas candidato nas eleições presidenciais do próximo 28 de julho, em meio a um turbilhão de críticas que despertaram temores de uma nova ruptura na oposição. Foi chamado de traidor, Judas.

Ele defende que buscava "salvar o caminho eleitoral" entre bloqueios à inscrição de Corina Yoris, primeira opção da coalizão Plataforma Unitária, escolhida como substituta pela líder María Corina Machado, favorita nas pesquisas mas impedida de exercer cargos públicos pela justiça.

Finalmente, Edmundo González Urrutia foi indicado pela oposição e Rosales renunciou à candidatura.

"Eu disse: 'a candidatura, a cédula estão à disposição', e cumpri" com a minha palavra, diz Rosales à AFP em uma entrevista em seu escritório na casa do governo em Maracaibo, estado de Zulia, o maior colégio eleitoral do país e afetado pelo colapso da indústria petrolífera.

Ele veste um terno sob medida, impecável, e o cabelo grisalho penteado para trás. Fala pausadamente, sem alterar o tom.

Embora espere uma "guerra desproporcional, suja, de muita vileza e baixeza" nessas eleições, nas quais Maduro aspira a um terceiro mandato que o projete a 18 anos no poder na Venezuela, Rosales assegura: "O chavismo é absolutamente derrotável".

"Vamos obter uma importante vitória porque a situação política, econômica e social do país não pode ser ocultada", destaca.

No entanto, ele insiste repetidamente em uma "negociação séria" para uma transição. "De nada serviram os sonhos de que um dia um exército viria aqui para nos salvar e invadir a Venezuela", diz o político, crítico das sanções internacionais contra o país.

"Por isso me identifico e gosto do discurso do nosso candidato [González] em relação a que ele vai trilhar os caminhos da paz, o caminho do reencontro e que se afasta da perseguição, da cobrança de contas e do processo violento", explica.

Ele abraça a "proposta muito interessante" de um plebiscito, proposta pelo presidente colombiano, o esquerdista Gustavo Petro, com quem se encontrou quando ainda era candidato, um encontro que lhe rendeu críticas.

"Uma consulta séria, que venha a concretizar o que seriam as garantias após as eleições para um e para outro, é a maneira para que a Venezuela recupere a paz".

Rosales foi duas vezes prefeito da cidade de Maracaibo (1995-2000, 2008-2009), duas vezes governador de Zulia (2000-2008, 2021-atualidade) e candidato presidencial em 2006, no auge da popularidade de Chávez.

Ele perdeu, mas se tornou líder da oposição e impediu uma reforma constitucional em uma das poucas derrotas do chavismo em 25 anos.

Foi acusado de corrupção, teve seus direitos políticos cassados e se exilou por seis anos no Peru. Ele retornou e foi preso em um caso que ainda está em aberto. Uma negociação levou à sua libertação da prisão e à recuperação de seus direitos políticos... e ele se candidatou novamente para governador.

Rosales está passando por um momento de baixa popularidade. Ele recebe críticas constantes por sua relação com Maduro, que ele insiste em dizer que é institucional e não política ou pessoal.

"Pensavam que eu iria me levantar diante da Praça Bolívar, desafiar e declarar guerra ao estado de Zulia", ironiza.

As críticas se intensificaram quando ele pôde registrar sua candidatura fugaz, quando passou pelo filtro do chavismo, que vetou Yoris. "Eu entendo que sou 'aceitável' [para Maduro], porque sou um homem profundamente democrático", interpreta.

"Iam decretar mais seis anos de Nicolás Maduro na presidência sem que fizéssemos absolutamente nada. Eu não podia permitir isso", lembra. "Acredito que devemos respeitar aqueles que estão governando hoje e dar-lhes espaço se perderem as eleições".

E olhando para 2030, as próximas eleições presidenciais, ele não descarta ser candidato.

"Eu sempre sou candidato", conclui, "é minha missão, minha emoção, minha inspiração".

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