Desastre climático no Rio Grande do Sul deixa 37 mortos enquanto a água avança
16:56 | Mai. 03, 2024
A catástrofe climática causada por fortes chuvas no Rio Grande do Sul se agravou nesta sexta-feira (3) deixando pelo menos 37 mortos e 74 desaparecidos, enquanto o avanço das águas ameaça Porto Alegre com inundações "sem precedentes", alertaram as autoridades.
As brigadas de resgate tentam alcançar e abastecer diversos municípios isolados, com estradas bloqueadas e sem comunicação, energia elétrica e água.
O volume excepcional dos rios multiplicou os alertas no estado devido ao rompimento de barragens que podem agravar o desastre.
Em Porto Alegre, a situação será "SEM PRECEDENTES", escreveu na rede X o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB-RS).
"Esqueçam tudo que vocês já viram de pior acontecendo em termos de alagamento, de enchentes. Aqui na região metropolitana vai ser muito pior", alertou.
O rápido aumento do nível do rio Guaíba nas últimas horas pode cobrir vastas áreas da região metropolitana da capital gaúcha.
O nível do rio, estimado atualmente entre 4,20 e 4,60 metros, "é histórico" e espera-se que ele supere os cinco metros à tarde, disse Leite.
Um transbordamento pode causar a maior inundação da história da cidade, superando a registrada em 1941, segundo as autoridades.
Algumas ruas do centro histórico estavam inundadas nesta sexta-feira, constatou a AFP.
Imagens aéreas do estado mostram grandes superfícies completamente inundadas, rios destruindo pontes e estradas, e resgates de pessoas em telhados com helicópteros, o que faz do fenômeno climático o "pior desastre" da história do estado, segundo Leite.
Pelas cheias no estado, pelo menos quatro represas "estão em situação de emergência, com risco de rompimento", informou o governo.
"Eu sou natural daqui, então me sinto muito lesada por todos os que moram aqui, é muito triste, de doer o coração", contou Maria Luiza, de 51 anos, moradora de São Sebastião do Caí, a cerca de 70 km da capital Porto Alegre.
Em Capela de Santana, ao norte da capital do estado, Raul Metzel explicou que seus vizinhos tiveram que abandonar o gado. "Não se sabe se a água seguirá subindo ou o que acontecerá com os animais, podem se afogar", disse.
Em meio à tragédia, também há cenas de esperança, como o resgate em um helicóptero de quatro mulheres grávidas em Agudo, para enviá-las ao hospital.
O balanço aumentou para 37 mortos, 74 desaparecidos e outros 74 feridos, segundo a Defesa Civil.
O fenômeno climático que atingiu o território sul com chuvas intensas, vendavais e granizo afetou mais de 351 mil habitantes, dos quais cerca de 23.600 foram evacuados em 235 municípios.
Mas os números são "preliminares", dado que as águas que cobrem enormes áreas impedem a dimensão da magnitude do desastre.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou ao Rio Grande do Sul na quinta-feira, onde garantiu que "não faltarão recursos humanos" para enfrentar a crise.
O Governo Federal forneceu nove aeronaves, mais de 900 agentes e dezenas de botes salva-vidas, entre outros equipamentos.
As chuvas persistentes estão dificultando os esforços de socorro.
A previsão é de chuvas de 'alta severidade' até domingo, o que sobrecarregará ainda mais os rios e poderá causar grandes deslizamentos de terra, explicou o tenente-coronel da Defesa Civil, Darci Bugs, em um vídeo. Ele também alertou sobre o risco de o rio Uruguai transbordar.
As chuvas também estão afetando o estado de Santa Catarina, no sul do país, que permanece em alerta.
Esta é a segunda catástrofe em um curto espaço de tempo no Rio Grande do Sul. Em setembro de 2023, 31 pessoas morreram na passagem de um ciclone na região.
Entre as tragédias mais recentes no Brasil está o número de 241 mortos em uma tempestade em fevereiro de 2022 em Petrópolis, no Rio de Janeiro.
"As chuvas extremas na América do Sul, que incluem toda a bacia do Prata, têm sido uma previsão recorrente dos modelos climáticos há décadas, informação ignorada" pelos governos, disse o Observatório do Clima, uma rede de organizações ambientais, em uma nota.
Segundo especialistas, o aquecimento global aumenta a intensidade e a frequência dos eventos climáticos extremos que atingem o Brasil. A situação é ainda agravada pelo fenômeno climático El Niño.
Na quinta-feira, dados oficiais mostraram um recorde de incêndios florestais de janeiro a abril, com mais de 17 mil identificados. Mais da metade deles na Amazônia, um fenômeno que, segundo o governo, está ligado aos efeitos da mudança climática.
"O ser humano deve estar fazendo algo diferente", já que o planeta "está nos castigando. Pode ser a contaminação... algo que está passando, porque isso não é normal", disse o filho de Metzel, Raul Jr., de 24 anos, em Capela de Santana.
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