Marie-Jeanne e Jacques Fournier, os guardiões das nascentes do rio Sena
Não passa um dia sem que eles observem as gotas que dão origem ao Sena. Em um vilarejo da Borgonha, Marie-Jeanne e Jacques Fournier cuidam das nascentes daquele que se tornará mais adiante um dos rios mais emblemáticos do mundo.
Eles moram a dezenas de metros do local onde fluem os filetes d'água. "Para nós, é natural descer para ver o Sena. Eu vou lá ao menos três vezes por dia. Faz parte de mim", diz Marie-Jeanne Fournier, de 74 anos.
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Em Source-Seine, vilarejo de 60 habitantes na região central da França, as sete nascentes que lhe deram o nome - das quais três estão realmente ativas - são quase invisíveis.
Em algumas manhãs, apenas alguns traços úmidos fluem em meio ao emaranhado da pastagem no coração da floresta, onde libélulas sobrevoam. Mas, depois de cutucado, um pequeno córrego se forma rapidamente.
É difícil de imaginar que em Paris, a cerca de 300 km daqui, o riacho chegará a ter 200 metros de largura, e sediará a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos (26 de julho a 11 de agosto).
"No entanto, estamos em uma das duas principais nascentes do Sena", situada nas ruínas de um antigo templo galo-romano, construído há pouco mais de 2.000 anos, explica Jacques Fournier, de 73 anos.
Marie-Jeanne Fournier praticamente tem o Sena no sangue.
Quando sua família se instalou em uma casa vizinha às nascentes, no começo dos anos 1950, ela tinha quatro anos. Na época, a prefeitura de Paris, proprietária do local desde 1864, procurava um vigia. Seu pai assumiu rapidamente a função.
"Ele me falava disso o tempo todo. E também havia turistas [...] que me contavam o que o Sena se tornaria fora daqui, em Paris", acrescentou.
Quando pequena, "assim como a maioria das crianças do vilarejo nos anos 1960", ela aprendeu a nadar nas águas do Sena, em um reservatório rio abaixo de sua casa.
"Fazia parte da minha identidade", conta a senhora de cabelos curtos, que durante toda a vida morou perto de rios antes de voltar para Source-Seine.
"O Sena é um pouco a herança dos meus pais", diz ela, que mantém com o marido uma pousada no local.
No fundo de um vale de 446 metros de altitude, o local poderia passar despercebido aos olhos dos caminhantes que fazem uma parada na "trilha do Sena, 880 km até Havre".
Apenas uma estátua da deusa Sequana atesta a solenidade do local. É preciso ter curiosidade de se aproximar para descobrir no fundo de sua gruta as poucas gotas d'água que pingam ali.
É "a gruta de Napoleão III, onde a nascente foi captada de forma a homenagear a cidade de Paris e a Sequana", a deusa celta que deu nome ao rio, conta Marie-Jeanne Fournier.
Mais adiante, a pequena ponte de pedra, chamada "Paul Lamarche", em homenagem a seu pai, se destaca.
"Em seguida, este filete d'água vai avançar pelo vale e em seu caminho, se alimentar de todos os cursos d'água até Havre. É por isso que o Sena fica tão largo em certo momento", explica Jacques Fournier, de barbicha e cabelos brancos.
Em 12 de julho, a tocha olímpica vai passar pelo local a caminho de Paris. O casal estará lá para saudá-la, mas como membro da Associação de Nascentes do Sena, se preocupa sobre quanto tempo o rio continuará a fluir perto de sua casa.
A cada ano, a gruta fica mais seca, como efeito do aquecimento global na região, onde alguns dos mais finos vinhos da Borgonha são produzidos.
"Meu medo é que as nascentes do Sena desapareçam definitivamente", diz Marie-Jeanne Fournier. "Talvez as fontes estejam mais a jusante em alguns anos."
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