Ano de 2024 pode ser menos quente se La Niña chegar rápido, afirma especialista

Temperaturas sem precedentes colocam a humanidade frente a um clima nunca antes experimentado em nossa civilização

Os recordes de temperatura dos últimos nove meses devem continuar por mais algumas semanas, mas ainda há possibilidade de que a tendência se atenue se o fenômeno La Niña acelerar sua chegada, explicou o diretor do serviço de Mudança Climática do Copernicus (C3S).

Essas temperaturas sem precedentes, que não podem ser explicadas sem o efeito dos gases de efeito estufa, colocam a humanidade frente a um clima nunca antes experimentado em nossa civilização.

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Mas essa situação coincide com as previsões dos climatologistas, que "poderíamos ter levado mais a sério", destacou Carlo Buontempo.

Como explicar todos esses recordes de temperatura sucessivos?

Há muitos fatores: El Niño, o pico do ciclo solar, outros fenômenos... e os gases de efeito estufa.

Esses continuam aumentando e seria difícil explicar temperaturas tão altas sem o efeito dessas emissões da humanidade na atmosfera.

De fato, esse episódio de El Niño não foi tão intenso quanto os anteriores, mas as temperaturas máximas que experimentamos foram visivelmente mais altas. Ele se seguiu a uma longa série de La Niña, o que atenuou um pouco o efeito das emissões.

Por que as temperaturas permanecem em níveis recordes mesmo depois de o El Niño ter alcançado seu pico em dezembro?

Quando observamos os episódios passados, o pico das temperaturas mundiais sempre ocorreu depois do El Niño.

As temperaturas do oceano Pacífico estão diminuindo e esperamos uma provável transição para o La Niña neste verão [norte].

Alguns sinais sugerem uma transição mais rápida do que o esperado. 2024 estava a caminho de ser mais uma vez muito quente, inclusive um ano recorde, mas, na verdade, esse risco pode diminuir.

Em fevereiro, o mundo esteve por quatro dias consecutivos acima do limite dos 2°C de aquecimento desde a era industrial, o limite mais alto do acordo de Paris...

Quando se trata do Acordo de Paris, falamos de médias de 20 anos. Em novembro, foi a primeira vez que ultrapassamos o limite de 2°C em um único dia.

Desta vez, trata-se de uma longa série de dias consecutivos. Isso é notável e, ao mesmo tempo, não é muito surpreendente: o sistema climático está aquecendo, o que significa que os extremos de temperatura serão ultrapassados com mais frequência em escala diária, mensal e anual. Os últimos 12 meses excederam 1,5°C em um ano pela primeira vez (o limite inferior do Acordo de Paris).

O clima está entrando em um território desconhecido ou é consistente com as projeções?

Ambas as afirmações estão corretas. Nossos dados remontam a 1940, mas se analisarmos sob a perspectiva do que sabemos sobre sistemas climáticos passados, nossa civilização nunca enfrentou esse clima: nossas cidades, nossa cultura, nosso sistema de transporte, nossa energia, nada disso enfrentou um clima como esse.

É claro que houve surpresas nos últimos meses, coisas que não sabíamos que iriam acontecer tão rapidamente ou com tanta força. Dito isso, as projeções do início do século para a temperatura na década de 2020 eram de fato muito precisas e poderíamos tê-las levado mais a sério.

Entretanto, os oceanos superam em muito todas as temperaturas do passado...

A maior parte da energia adicional que entra no sistema climático, devido ao desequilíbrio entre a quantidade de energia proveniente do sol e a refletida pela Terra, é armazenada nos oceanos. Em grande parte, o oceano tem servido como um reservatório para a energia extra e o carbono.

Sabemos que esse desequilíbrio está se acelerando. Um nível de temperatura tão alto é notável porque indica que essa energia adicional tem um impacto direto e mensurável. Ainda estamos dentro da faixa do que é possível em comparação com as projeções de algumas décadas atrás, embora talvez no limite superior, pelo menos até 2023.

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