Indústria e sindicatos alemães juntos contra extrema direita
A Alemanha precisa de centenas de milhares de imigrantes todos os anos para aliviar a escassez de mão de obra qualificada. Mas eles podem se sentir desencorajados diante da ascensão dos partidos de ultradireita.Associações de empregadores e sindicatos de trabalhadores do estado sulista de Baden-Württemberg, na Alemanha, se uniram contra o extremismo de direita numa aliança formalizada nesta segunda-feira (26/02) em Stuttgart. Eles atendem, assim, a um apelo do presidente Frank-Walter Steinmeier por uma ampla aliança na sociedade alemã pela democracia e contra o extremismo, feito em janeiro. Steinmeier foi à capital do estado para o lançamento da iniciativa, que ele saudou. "Trata-se de concretamente combater os extremistas de direita, os inimigos da Constituição, para os quais a dignidade humana não vale nada", declarou. A associação de empregadores Südwestmetall e a seção estadual do sindicato dos metalúrgicos IG Metall seguiram o apelo do presidente lançando a campanha Business for Democracy. As montadoras Mercedes-Benz e Porsche, que têm sede em Stuttgart, apoiaram a declaração. Para a poderosa e influente indústria automobilística alemã, muito está em jogo: ela sofre com a falta de mão de obra qualificada e precisa de trabalhadores estrangeiros. Por um lado, a sociedade alemã está envelhecendo, com muitos representantes da geração baby bommer entrando na aposentadoria. Por outro, cada vez menos pessoas do Leste Europeu estão optando pela Alemanha. Nesse cenário, trabalhadores de fora da União Europeia (UE) tornam-se cada vez mais importantes. Mas os representantes do setor industrial temem que eles se sintam intimidados pelas notícias na imprensa sobre racismo e discriminação e nem mesmo optem pela Alemanha – ou deixem o país depois de passarem por situações discriminatórias. Pelos cálculos da agência governamental para o emprego, a Alemanha precisa de 400 mil trabalhadores estrangeiros por ano. A Câmara Alemã de Indústria e Comércio (DIHK) estimou que há, em todo o país, 1,8 milhão de postos de trabalho não preenchidos, considerando todos os setores da economia. "Baden-Württemberg não seria capaz de produzir carros, de construir máquinas e nenhum ônibus iria mais andar aqui se não tivéssemos uma diversidade de nações em nossas empresas e administrações", declarou a líder estadual do IG Metall, Barbara Resch. "Somente se pessoas engajadas de todo o mundo se sentirem em casa aqui é que elas virão até nós, e somente assim continuaremos sendo um lugar atraente para trabalhar e viver no longo prazo", disse o presidente da DIHK, Peter Adrian, ao jornal Rheinische Post. Estudos evidenciam racismo Racismo em empresas alemãs não é um caso isolado. Um exemplo documentado pelo órgão antidiscriminação do governo é o de um grupo de trabalhadores de origem turca que, nas horas de pausa, conversava entre si em turco e alemão. O empregador não concordava com isso e proibiu que se falasse turco na empresa. Para o órgão antidiscriminação do governo, trata-se de um caso claro de "discriminação devido à origem étnica". Diversos estudos mostraram, nos últimos anos, que discriminação faz parte do cotidiano de muitas pessoas na Alemanha que tem uma origem migratória visível, por exemplo por causa da cor da pele. Em 2016, a Universidade de Linz, na Áustria, chamou a atenção com um estudo no qual ela enviou currículos fictícios para vagas em aberto na Alemanha. Um estudo mostrou que mulheres com nomes muçulmanos raramente eram chamadas para entrevistas de emprego. Se o currículo da candidata fictícia, além do nome, tivesse também uma foto com um véu islâmico, a taxa caía ainda mais. Em 2023, um estudo da União Europeia (UE) mostrou que especialmente pessoas pretas na Alemanha se sentem discriminadas. O país teve o pior resultado entre os 13 da UE considerados pela Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA). Especialmente na procura por emprego, muitos entrevistados se sentem discriminados. Na Alemanha, o percentual chegou a 51%. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IAW), da Universidade de Tübingen, também se dedicou ao tema há cerca de um ano. De acordo com um estudo, 51% dos entrevistados relataram ter sofrido discriminação – entre os profissionais altamente qualificados de países não europeus, foram dois terços. Para pouco mais de 5%, a discriminação foi um motivo para deixar a Alemanha. Autor: Stephanie Höppner
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