Civilização Upano: cientistas descobrem cidades de 2.500 anos na Amazônia
As primeiras plataformas teriam sido construídas entre 500 anos antes de Cristo e cerca de 300 ou 600 anos depois, cobrindo a época do Império RomanoUm grupo de arqueólogos que atua nas profundezas da floresta amazônica descobriu uma rede de cidades com aproximadamente 2.500 anos. A região costumava ser densamente povoada por membros de uma civilização agrária, que até agora era desconhecida.
O sítio, de mais de 1.000 quilômetros quadrados, está localizado no Vale Upano, no Equador Amazônico, na parte oriental dos Andes. De acordo com a pesquisa publicada na última quinta-feira, 11, pela revista Science, foram descobertos assentamentos estruturados, com ruas largas e estradas longas e retas, praças e aglomerados de plataformas monumentais.
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O estudo, intitulado “Two thousand years of garden urbanism in the Upper Amazon“, mostra que essa é a descoberta da maior e mais antiga rede urbana de características construídas e escavadas na Amazônia até agora.
"Não é só uma aldeia, mas uma paisagem inteira que foi domesticada pelo homem", explicou Stéphen Rostain, diretor de investigações do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) francês e principal autor do estudo.
Em uma série de escavações, há 25 anos, o arqueólogo francês identificou os primeiros rastros desta civilização denominada "Upano". Durante seus trabalhos, ele encontrou centenas de montículos de terra.
De acordo com o cientista, as estradas, as quais ele compara às ruas da cidade de Nova York, eram utilizadas pelos povos para fins comerciais, mas também cerimoniais.
Algumas das cidades descobertas têm uma grande via central, parecida com as do sítio arqueológico de Teotihuacán, no México, que as pessoas usavam para se reunir, pois se tratavam de localidades "densamente povoadas", com "vários milhares de habitantes", segundo Rostain
Em 2015, uma empresa contratada pelo escritório do patrimônio equatoriano sobrevoou a região com um Lidar ("Laser imaging detection and ranging"), um aparelho de teledetecção a laser, incorporado a um avião, que permite fazer uma varredura do terreno através das espessas copas das árvores.
"Eliminando a cobertura vegetal, pode-se restituir o verdadeiro modelo do solo em centenas de quilômetros quadrados, algo que não era possível no terreno", explicou o pesquisador.
As imagens revelaram mais de 6.000 montículos, plataformas de terra retangulares que constituíam os pilares das residências e as protegiam da umidade do solo.
"Não esperava algo tão espetacular. Para um arqueólogo, é um verdadeiro 'El Dorado' científico", completou Rostain.
As primeiras plataformas teriam sido construídas entre 500 anos antes da nossa era e cerca de 300 ou 600 anos depois, cobrindo a época do Império romano. Um estudo estatístico está sendo realizado para se obter uma estimativa mais precisa.
Montículos de 8 a 10 metros de altura evidenciam a construção não de casas, mas de espaços coletivos para festas ou rituais.
Por outro lado, campos pequenos mostram que se tratava de uma sociedade agrária, que "tirava proveito do menor espaço vazio", disse o cientista, que trabalha no laboratório de Arqueologia das Américas.
Ao registrar os cômodos, ele se deparou com muitos vestígios domésticos: grãos, pedras para moer, utensílios e jarros de cerâmica para beber cerveja de milho.
"Não se trata de uma sociedade nômade, mas de uma sociedade estratificada, provavelmente com uma autoridade e engenheiros para traçar estradas", afirmou Stéphen Rostain.
Esta descoberta demonstra, segundo ele, "que não havia unicamente autóctones caçadores-coletores arcaicos na Amazônia, mas também populações urbanas complexas", apesar de que uma "certa arrogância ocidental tenda a encaixar as civilizações dos povos florestais no selvagismo".
"Chegou o momento de reconsiderar esta opinião depreciativa da Amazônia", concluiu.