Argentina: protestos contra decreto de Milei seguem pela madrugada

Manifestantes se reuniram em diversas cidades argentinas após decreto de Milei que altera mais de 360 leis e normas do país "para desregulamentar economia"

Manifestantes se reuniram em diversas cidades argentinas na noite dessa quarta-feira, 20, em atos contra decreto do recém-eleito presidente Javier Milei. Os protestos seguem madrugada adentro nesta quinta-feira, 21.


Emitido na quarta-feira, durante pronunciamento transmitido pela TV, o decreto de Milei altera ou revoga, de uma só vez, mais de 360 leis. O texto dá amplos poderes ao presidente para "desregulamentar a economia", e "torna sem efeito todas as restrições à oferta de bens e serviços, assim como toda exigência normativa que determine preços de mercado, impeça a livre iniciativa privada ou evite a interação espontânea entre oferta e demanda".

Após o anúncio, protestos surgiram espontaneamente em diversas partes do país. A maior movimentação foi na capital, Buenos Aires: houve panelaços em vários bairros da cidade, e milhares de pessoas se reuniram em frente ao Congresso do país.


O objetivo do protesto é pressionar os parlamentares a rejeitar o decreto — o texto tem validade imediata, mas precisa ser aprovado pelo Legislativo. Leis sobre questões trabalhistas, inquilinato, de saúde, previdenciárias, e mesmo o Código Civil foram alvos de Milei, medidas que são encaradas pelos manifestantes como prejudiciais à população.

Entre as palavras de ordem, ouvia-se a expressão "a casta somos nós", alusão à campanha de Milei, que usou o termo ao dizer que não se aliaria à elite econômica do país. Outros manifestantes usavam a frase "a pátria não se vende", em referência à intenção do presidente argentino de privatizar a maior parte das empresas estatais. Também havia chamados a uma greve geral e pela manutenção das políticas de assistência social.

O decreto determina "emergência pública em matéria econômica, financeira, fiscal, administrativa, previdenciária, tarifária e social", com duração até 31 de dezembro de 2025. Em seguida, o texto lista centenas de leis revogadas ou alteradas.

Segundo Axel Kicillof, governador da província de Buenos Aires, ainda na quarta-feira Milei convocou os governadores de todas as províncias do país para pedir apoio ao decreto. De acordo com Kicillof, no entanto, o presidente se recusou a detalhar as medidas que proporia. Para ele, Milei "destruiu direitos dos trabalhadores" e "rifou aos clubes de futebol e ao patrimônio dos argentinos". "Tudo isso sem passar pelo Congresso, que poderia debater [as medidas do decreto]".


Nem o Senado nem a Câmara dos Deputados argentina deram prazo para colocar o projeto em discussão. Caso não seja votado em dez dias, o decreto perderá a validade.

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