Lula critica 'falta de flexibilidade' da UE em cúpula do Mercosul
18:38 | Dez. 07, 2023
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva denunciou, nesta quinta-feira (7), a "falta de flexibilidade" da Europa nas negociações comerciais com o Mercosul, durante uma cúpula do bloco marcada pela disputa entre Venezuela e Guiana pelo Essequibo.
O governo brasileiro, que exerce a presidência do Mercosul até o fim deste ano, esperava concluir nesta quinta, na cúpula do Rio de Janeiro, o acordo de livre-comércio com a União Europeia (UE), que é negociado há mais de duas décadas e que criaria a maior área de livre-comércio do planeta.
Mas as negativas expressadas nos últimos dias por França e Argentina enterraram essas expectativas.
Como culpados, Lula citou o "protecionismo" do presidente francês Emmanuel Macron e a "falta de flexibilidade" da UE em suas exigências que, na sua visão, atrapalham o crescimento dos países em desenvolvimento do Mercosul.
"Nós ainda temos muito para crescer, nos industrializar", afirmou Lula na cúpula realizada no Museu do Amanhã da capital fluminense, junto dos presidentes de Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia.
Para o chefe de Estado brasileiro, o texto negociado até agora "é mais equilibrado" embora "insuficiente", e "as resistências da Europa ainda são muito grandes".
A porta-voz da diplomacia francesa reiterou hoje as exigências ambientais da UE, particularmente em matéria de desmatamento.
"Corresponde à Comissão Europeia trabalhar para obter essas garantias de nossos parceiros do Mercosul", disse Anne-Claire Legendre.
Mas Lula não deu o acordo por enterrado. "Não desista nunca", disse ele ao presidente paraguaio Santiago Peña, que assume o comando do Mercosul em janeiro.
Para a ONG ambiental Greenpeace, "a boa notícia para o planeta é que o acordo [de livre-comércio] ainda não foi assinado".
A crise entre Venezuela e Guiana também entrou na agenda do bloco comercial do Cone Sul.
"Se uma coisa não queremos aqui na América do Sul é guerra, nós não precisamos de guerra", disse Lula a seus pares.
O presidente brasileiro ressaltou que o Mercosul "não pode ficar alheio" à situação no Essequibo, região rica em petróleo disputada por Venezuela e Guiana, e pediu a aprovação na cúpula de uma declaração conjunta para pedir a mediação da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
De qualquer maneira, o Mercosul conseguiu apresentar uma conquista concreta na cúpula do Rio: um acordo de livre-comércio com Singapura.
O tratado comercial, que segundo Lula "tem potencial de estimular a atracão de investimentos", é o primeiro do bloco em mais de 12 anos, após o assinado com o Egito, e o primeiro com um país asiático.
"Se for um enclave do Mercosul para a região é importante. E acho que é um sinal: não estamos estagnados", comentou o mandatário uruguaio Luis Lacalle Pou.
Mas Lacalle Pou, que promove uma maior abertura do bloco que permita a negociação de acordos bilaterais sem o consentimento de todos os membros, desafiou seus parceiros a serem honestos em suas posições sobre possíveis negociações comerciais com a China.
"É preciso fazer comércio para fora, se não estamos fritos", disse, ao lamentar que o Uruguai tem um saldo negativo na balança comercial com os outros países do Mercosul.
"Que nos seja dito: 'Não existe a mínima vontade de avançar em um tratado de livre-comércio com a China'. Então mostramos todas as cartas, sabemos o que está em jogo e o que esperar", declarou.
Uma das novidades desta cúpula é a presença da Bolívia pela primeira vez como membro pleno, que finalmente deu as boas-vindas ao país andino após oito anos de espera.
"É uma conquista muito grande do Mercosul", disse Lula sobre a entrada da Bolívia, uma potência gasífera e detentora de grandes reservas de lítio.
Esta cúpula é a última do presidente em fim de mandato da Argentina, Alberto Fernández, três dias antes de entregar o poder ao ultraliberal Javier Milei, que é bastante crítico ao funcionamento do Mercosul.
Estou "pessoalmente triste com a partida do nosso querido Alberto Fernández", disse Lula. "Lamentavelmente você merecia melhor sorte", declarou ao colega.
Para o pesquisador da London School of Economics, Bruno Binetti, "tanto a chegada de Milei como o fracasso do acordo com a UE trazem dúvidas sobre o futuro do bloco".
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