Israel se prepara para receber reféns sequestrados pelo Hamas

"Estou aqui para levar você para casa. Você está em um lugar seguro." Os soldados israelenses se preparam para receber mulheres e crianças reféns, que poderiam estar profundamente traumatizadas após o sequestro por milicianos do movimento islamista palestino Hamas em 7 de outubro.

Os soldados receberam um manual sobre trauma e informações sobre primeiros suportes médicos. Mas até mesmo as primeiras palavras que dirão aos reféns foram escolhidas cuidadosamente. Especialistas advertem que muitos tardarão a se recuperar.

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Segundo o acordo de trégua que entrará em vigor às 7h locais desta sexta-feira (24), um primeiro grupo de 13 reféns será libertado pela tarde, em troca de prisioneiros palestinos, após sete semanas de cativeiro.

A pedido das autoridades, especialistas em maus-tratos infantis do Instituto Haruv de Jerusalém prepararam diretrizes detalhadas sobre como tratar os menores assim que forem liberados.

"Quando os soldados se encontrem com a criança", diz o manual visto pela AFP, "devem se apresentar educadamente e expressar frases tranquilizadoras como 'estou aqui para cuidar de você'".

Além da assistência médica de urgência, os militares são incentivados a averiguar e levar consigo os alimentos favoritos da criança, seja pizza ou schnitzel [milanesas] de frango. Caso contrário, deverão se apresentar com pão, queijo e frutas.

Muitos dos reféns perderam familiares e os militares deverão evitar responder a perguntas dos pequenos sobre o destino de seus parentes, mesmo se souberem a resposta.

O ataque cometido em 7 de outubro pelo Hamas no sul de Israel deixou 1.200 mortos, a maioria civis assassinados por milicianos do grupo islamista, segundo as autoridades israelenses. Nesse dia, os combatentes também sequestraram cerca de 240 pessoas, que foram levadas para a Faixa de Gaza.

Desde então, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e, segundo o movimento islamista, 14.854 pessoas morreram nos bombardeios e na ofensiva israelense contra o território palestino.

"Cada pergunta deve ser respondida da seguinte forma: 'Meu trabalho é levar você a Israel, para um lugar seguro, onde pessoas que você conhece estão lhe esperando e responderão a todas as suas perguntas'", diz o manual. Qualquer entrevista com meios de comunicação está proibida.

O manual se inspirou nas experiências de outras vítimas de sequestros, como as do grupo islamista Boko Haram na Nigéria, explicou Ayelet Noam-Rosenthal, uma das autoras.

"Precisamos de elementos comuns de linguagem" que sejam compatíveis com o trauma, assinalou à AFP. "Devemos fazer tudo o que for possível para não provocar traumas adicionais", acrescentou.

Ainda há muitas perguntas sem resposta sobre o tipo de apoio que será necessário aos menores.

"Ninguém sabe se as crianças e os pais serão liberados de forma separada ou juntos", afirma Moty Cristal, um militar reformado.

Além disso, tampouco "sabemos se as mulheres sofreram violência sexual durante o cativeiro", acrescenta. "Dada a natureza dos ataques, só podemos nos preparar para o pior", continua.

A AFP pôde confirmar as identidades de 210 reféns. Pelo menos 35 deles são menores e 18 têm menos de 11 anos.

"Crianças foram sequestradas logo depois de terem visto seus pais sendo brutalmente assassinados", declarou à imprensa Zion Hagai, presidente da Associação Médica de Israel. "Não apenas vivem esse trauma, mas estão sofrendo em um lugar desconhecido, escuro e assustador."

Um dos reféns mais jovens é um bebê de nove meses que se chama Kfir Bibas. Foi sequestrado junto com seu irmão Ariel e seus pais Yarden e Shiri no kibutz de Nir Oz, perto da fronteira com Gaza. Shiri aparece em um vídeo de 7 de outubro com seus filhos nos braços, cercada por homens armados.

O manual do instituto Haruv e os especialistas alertam que os profissionais de saúde também estão vulneráveis.

Ofrit Shapira-Berman, psicanalista e professora da Universidade Hebraica, conheceu um adolescente em uma sessão de assessoramento para vítimas do 7 de outubro que ouviu seus pais e suas duas irmãs gritando no telefone antes de serem assassinados.

"Estou aqui sentada e tento utilizar minha experiência para ajudar você", disse a psicanalista em um vídeo. "Esse menino vai precisar de nós durante muitos anos", garantiu.

"Faço o melhor que posso e depois saio [do consultório] e começo a chorar porque isso supera a minha imaginação".

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