Naufrágio ou tráfico de migrantes? Venezuelanos desaparecem na rota de San Andrés
14:12 | Nov. 23, 2023
"Disseram a eles que era mais seguro", lamenta Livia Peruzzini, parente de pelo menos cinco das 38 pessoas - 35 delas venezuelanas - que desapareceram há um mês enquanto navegavam na rota migratória da ilha colombiana de San Andrés para a Nicarágua, uma alternativa à perigosa travessia do Darién em direção aos Estados Unidos.
As famílias dos desaparecidos estão convencidas de que seus parentes não sofreram um naufrágio, mas podem ter caído nas redes de tráfico de migrantes que operam na área, e pedem que seja mantida a busca pelos ocupantes do barco que partiu em 21 de outubro de San Andrés.
"Estamos certos de que nossos familiares estão vivos e podem estar em qualquer uma das ilhas da costa colombiana ou em outros países como Nicarágua ou Costa Rica", disse à AFP Pieruzzini, de 55 anos, na cidade venezuelana de San Cristóbal, estado de Táchira, fronteiriço com a Colômbia.
Sua filha grávida, seu genro, sua neta de sete anos e um sobrinho embarcaram na viagem saindo de Guanare (estado de Portuguesa, oeste da Venezuela) para atravessar a fronteira para a Colômbia pela cidade de Cúcuta e seguir para San Andrés. Eles pagaram a uma das agências que proliferam na internet, anunciando essa viagem como uma espécie de opção 'VIP' diante do temido Estreito de Darién.
"Adquiriram pacotes de viagem que, com referência de amigos que já haviam viajado com eles (...), disseram que era mais seguro e mais curto", explicou Pieruzzini, chorando.
O percurso de 150 km de lancha de San Andrés até Corn Island, na Nicarágua, surgiu como uma alternativa para evitar a temida travessia a pé por Darién, um corredor de 266 km entre Colômbia e Panamá, controlado por grupos criminosos e com graves riscos por sua difícil topografia. O restante do caminho para os EUA é feito por terra.
A Colômbia registra cerca de 400 pessoas resgatadas este ano na rota de San Andrés, sendo 89 delas menores de idade, além de 25 prisões por tráfico humano. Na terça-feira, 14 migrantes foram resgatados depois de terem sido deixados à deriva por barqueiros que fugiram quando estavam prestes a ser interceptados pela guarda costeira, informou a Marinha colombiana.
A viagem pode custar cerca de 1.500 dólares por pessoa, mas é feita em embarcações precárias, sem sistemas de navegação e sem as condições necessárias para garantir a segurança dos passageiros.
"Eles se expõem a naufrágios, abandono, desaparecimento de embarcações, entre outras situações que colocam em risco sua segurança, integridade e vida", afirmou na semana passada o defensor do povo da Colômbia, Carlos Camargo, ao alertar sobre um aumento no número de migrantes que escolhem essa rota.
Os desaparecimentos, destacou, demonstram que "não é uma rota migratória segura". "Em muitos casos, os migrantes são abandonados em ilhotas, sem seus pertences", acrescentou.
A Venezuela viveu um enorme êxodo nos últimos anos, com 7,5 milhões de pessoas fugindo de sua devastadora crise, segundo estimativas da ONU.
"Estamos desesperados (...), precisamos resolver esta situação que nos afeta e não conseguimos nem dormir. É muito difícil saber que, ao tentar buscar uma vida melhor, isso nos aconteceu", declarou à AFP José Gómez, de 27 anos, que tem uma irmã e um sobrinho de nove anos desaparecidos.
Gómez conta que investigadores privados contratados pelas famílias não receberam permissões para a busca.
Edison López, engenheiro de 44 anos, pede às autoridades da vizinha Colômbia e de outros países que "esgotem todas" as opções em busca dos desaparecidos e que "investiguem diligentemente os operadores clandestinos" que oferecem o 'tour' de San Andrés "para que isso não siga acontecendo".
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