Morte de Kennedy completa 60 anos e ainda alimenta fascínio, mistério e teorias

Biden liberou série de arquivos secretos do governo relacionados ao assassinato de Kennedy, mas 15 mil documentos permanecem parcial ou totalmente sigilosos. O que foi divulgado não esclarece em definitivo todas as dúvidas sobre o caso

Era uma ensolarada sexta-feira, 22 de novembro de 1963, com uma multidão espalhada pelas ruas para ver a carreata do presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy ,seguir do aeroporto Love Field, em Dallas, por uma rota de dezesseis quilômetros que serpenteava pelo centro de Dallas a caminho do Trade Mart, onde o presidente deveria discursar durante um almoço.

No conversível aberto já estavam o motorista e o segurança, o governador do Texas, John Connally e sua esposa, Nellie. Os Kennedy entraram e sentaram-se atrás deles, depois de cumprimentar a multidão.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

Naquela época, Kennedy e os seus conselheiros políticos preparavam-se para a próxima campanha presidencial. Embora não tivesse anunciado formalmente a sua candidatura, era evidente que Kennedy iria concorrer e estava confiante nas suas possibilidades de reeleição.

No fim de setembro, o presidente viajou para o oeste, discursando em nove Estados diferentes em menos de uma semana. Kennedy usava a viagem para sondar temas como a educação, a segurança nacional e a paz mundial na candidatura em 1964.

Kennedy e seus conselheiros acreditavam que vencer na Flórida e no Texas seria essencial para ganhar a futura eleição. A viagem fazia parte de uma turnê de dois dias por cinco cidades do Texas, onde o presidente americano enfrentava disputas com outras lideranças democratas no Estado, então considerado um bastião anti-Kennedy.

A viagem era a primeira aparição pública de Jackie Kennedy, que não queria ir. Ela ainda se recuperava da perda do terceiro filho, Patrick, que nasceu prematuro e morreu dois dias depois.

A morte

O carro aberto saiu da Main Street em Dealey Plaza por volta das 12h30min. Ao passar pelo Texas School Book Depository, tiros reverberaram repentinamente na praça. As balas atingiram o pescoço e a cabeça do presidente e ele caiu sobre Jackie Kennedy. O governador levou um tiro nas costas.

O carro partiu para o Parkland Memorial Hospital, a poucos minutos de distância. Mas pouco poderia ser feito pelo presidente. Um padre católico foi convocado para administrar a extrema-unção, e às 13 horas, John F. Kennedy foi declarado morto. Embora gravemente ferido, o governador Connally se recuperaria.

O corpo do presidente foi levado para Love Field e colocado no Força Aérea Um. Antes de o avião decolar, Lyndon B. Johnson, de rosto sombrio, ficou no compartimento apertado e lotado e prestou juramento, administrado pela juíza do Tribunal Distrital dos EUA, Sarah Hughes, se tornando o novo presidente. A breve cerimônia aconteceu às 14h38min.

O atirador

Menos de uma hora antes, a polícia havia prendido Lee Harvey Oswald, um funcionário recentemente contratado no Texas School Book Depository. Ele estava detido pelo assassinato do presidente Kennedy e pelo tiroteio fatal, pouco depois, do patrulheiro J. D. Tippit em uma rua de Dallas.

A morte do atirador

Na manhã de domingo, 24 de novembro, Oswald estava programado para ser transferido da sede da polícia para a prisão do condado. Os telespectadores de toda o país que assistiam à cobertura televisiva ao vivo de repente viram um homem apontar uma pistola e disparar à queima-roupa. O agressor foi identificado como Jack Ruby, dono de uma boate local. Oswald morreu duas horas depois no Hospital Parkland.

Arquivos secretos revelados

Em dezembro de 2021, Joe Biden liberou uma série de arquivos secretos do governo relacionados ao assassinato de Kennedy. Um lote de arquivos com 1.491 documentos, 958 dos quais são da CIA, foram publicados pelos Arquivos Nacionais e Administração de Documentos (Nara, na sua sigla em inglês) — o que corresponde a menos de 10% dos 15.834 documentos que permaneceram parcial ou totalmente sigilosos até agora, e não esclarece em definitivo todas as dúvidas sobre o caso.

Cinema explora teorias de que Kennedy foi vítima de conspiração 

John Fitzgerald Kennedy (JFK) foi assassinado durante desfile em carro aberto. Na época era a pessoa mais poderosa do mundo. Tinha 46 anos, tinha aparência de galã. Era uma figura romântica, convertida em personagem trágico. Foi morto em circunstâncias que ainda hoje levantam dúvidas e alimentam conspirações. Os ingredientes são farta matéria-prima de filmes, livros, séries, documentários.

Kennedy ainda estava vivo quando o escritor britânico J.J. Marric escreveu sobre seu ficcional detetive Gideon buscar pistas a respeito de um complô para assassiná-lo.

O enredo tem personagens atraentes, romance, poder, intriga, mistério e tragédia. A relação com Jacqueline Kennedy, a ligação com Marilyn Monroe, maior estrela de Hollywood naquele tempo, se não em todos, são componentes extras de fascínio.

Quando o crime completou 50 anos, uma década atrás, o cineasta Oliver Stone falou em entrevista à AFP. "O que continua a causar interesse é que (o assassinato) nunca foi realmente elucidado". Ele é diretor do filme JFK - A pergunta que não quer calar (1991), talvez a maior produção hollywoodiana sobre o tema e que dá combustível às teorias de que o ex-presidente foi vítima de uma conspiração.

A Comissão Warren, responsável pela investigação oficial do assassinato, "é um mito, na melhor das hipóteses", disse Stone na ocasião. "Como resultado, qualquer pessoa inteligente deve se fazer essas perguntas, e isso foi feito, sem descanso, durante 50 anos", acrescentou 10 anos atrás.

Stone voltou ao caso Kennedy na série de TV The Untold History of the United States, em 2012. Ele salienta que o filme JFK tinha intenção de questionar a versão oficial. "Decidiu-se que Oswald era o culpado, e provas foram criadas para apoiar a tese", afirmou.

Ele ressalta, todavia, que o filme tem caráter ficcional, embora parta de fatos reais. "Era um filme dramático, e não um documentário. Tive de misturar personagens e situações para poder dizer tudo em três horas", explicou.

O filme foi um sucesso e arrecadou US$ 205 milhões nas bilheterias do mundo todo.

Presidentes dos Estados Unidos assassinados

Os Estados Unidos tiveram quatro presidentes assassinados:

  • Abraham Lincoln, morto em 15 de abril de 1865, seis dias após a rendição do principal general dos estados sulistas na Guerra de Secessão.  Robert E. Lee. Na noite de 14 de abril, Lincoln foi baleado por John Wilkes Booth, ator e espião confederado, no teatro Ford, em Washington DC. Morreu na manhã seguinte.
  • James Garfield, morto em 19 de setembro de 1881. Ele foi baleado em 2 de julho de 1881 por Charles J. Guiteau, advogado que desejava ser funcionário público na estação de trem Baltimore & Potomac, em Washington D.C. Garfield sobreviveu ao tiro, mas morreu após dois meses e meio em decorrência de infecção causada no atendimento médico.
  • William McKinley, morto em 14 de setembro de 1901, oito dias depois de ser baleado pelo ativista anarquista de origem polonesa Leon Czolgosz, em 6 de setembro, durante visita à Exposição Panamericana em Buffalo, estado de Nova York.
  • John F. Kennedy, em 22 de novembro de 1963, assassinado por Lee Harvey Oswald quando se deslocava em carro aberto em Dallas, no Texas.

Polêmicas do governo Kennedy 

O governo John Kennedy passou por diversas crises e é lembrado por uma série de episódios essenciais na história do século XX.

Baía dos Porcos

Em 1961, o presidente aprovou a malfadada tentativa de invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, organizada por cubanos exilados contrários ao regime castrista.

Crise dos mísseis

Em 1962, a União Soviética instalou mísseis atômicos em Cuba, o que gerou uma grave crise política que quase desembocou em um terceiro conflito mundial.

O presidente americano e seu ministro da defesa, Robert McNamara, foram responsáveis por articulações essenciais visando a retirada dos mísseis que ameaçavam o país. Em 1963, o presidente assinou um tratado com o Reino Unido e a União Soviética, no qual os países se comprometiam a proscrever seus testes nucleares.

Aliança para o Progresso

Em 1961, o presidente lançou a Aliança para o Progresso, um programa voltado para a cooperação financeira e técnica com os países da América Latina tendo por objetivo o desenvolvimento econômico destas nações.

O governo americano temia o surgimento de condições favoráveis à eclosão de uma rebelião aos moldes da revolução cubana, que havia culminado com a adoção do comunismo.

Direitos civis

Na mesma época, o presidente defendeu políticas antidiscriminatórias e antirracistas, o que lhe rendeu considerável apoio por parte do movimento negro. Foi auxiliado nesse empreendimento por seu irmão, Robert Francis Kennedy, secretário de justiça e ativista por direitos civis.

Corrida espacial

Sua administração também se preocupou com a corrida espacial, tendo o presidente declarado em 1961 a sua intenção americana de enviar homens à lua.

Quem foi John F. Kennedy

Nascido em uma família católica de proeminentes políticos vinculados ao Partido Democrata, realizou os primeiros estudos em diversas instituições, como a Edward Devotion School e a Dexter School.

Em 1927, mudou-se com a família para o Bronx, em Nova York. Matriculou-se em Harvard em 1936, tendo se formado em relações internacionais em 1940. Sua tese, intitulada "Porque a o Reino Unido dormiu", analisava a falha da Inglaterra em não tomar atitudes para evitar a eclosão da Segunda Guerra Mundial.

Quando os Estados Unidos declararam guerra ao eixo, ingressou na marinha. Em 1943, o torpedeiro em que estava sofreu um ataque do exército japonês, e Kennedy, ferido, ajudou a resgatar a tripulação, tendo sido condecorado por seu serviço. Findada a guerra, concorreu ao cargo de deputado em 1946.

Em 1952, foi eleito senador pelo estado de Massachusetts. No ano seguinte, casou-se com a jornalista Jacqueline Lee Bouvier, com quem teve dois filhos, Caroline, nascida em 1957, e John Junior, nascido em 1960. Na mesma época, realizou uma cirurgia nas costas e começou a escrever o livro "Profiles in Courage", que lhe renderia o prêmio Pulitzer em história de 1955. A obra traçava a trajetória heroicizada de oito senadores americanos que haviam contestado orientações partidárias e pressões empresariais para seguir suas convicções políticas.

Em 1960, foi escolhido para ser candidato democrata à presidência. Concorreu contra o candidato republicano Richard Nixon, um forte opositor e com grandes chances de vitória. As campanhas foram marcadas pelos primeiros debates presidenciais televisivos, nos quais Kennedy se saiu surpreendentemente bem.

Em sua campanha, o democrata condenou a debilidade da administração Eisenhower-Nixon frente à ameaça soviética e clamou por renovação política. No mesmo ano, foi eleito presidente dos Estados Unidos por uma pequena margem de votos, tornando-se o primeiro católico a governar o país e o mais jovem presidente norte-americano.

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

assassinato JFK John Kennedy

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar