Milei fala com papa e inicia transição presidencial na Argentina
O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, conversou nesta terça-feira (21) com o papa Francisco, e o convidou a visitar o país após meses de relações tensas, e também iniciou a coordenação de uma transição "ordenada e responsável" com o atual mandatário em fim de mandato, Alberto Fernández.
Os contatos de Milei com Fernández e o pontífice argentino aconteceram em um dia de evidente otimismo no mercado financeiro pela eleição do economista ultraliberal, com uma alta de 17,7% do índice que reúne as principais ações negociadas na bolsa argentina.
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Milei recebeu um telefonema do papa Francisco, a quem ele havia dedicado comentários ofensivos pelos quais disse ter se desculpado antes de ser eleito.
"Sua Santidade, o papa Francisco, se comunicou com nosso futuro mandatário para felicitá-lo e expressar seus desejos de união e progresso para nossa pátria", detalhou o escritório do presidente eleito.
Em diversas ocasiões, Milei chamou Francisco de "o maligno na Terra que ocupa o trono da casa de Deus". Também o classificou de "nefasto" e "imbecil", e o criticou por "promover o comunismo".
Agora, o presidente eleito "agradece as palavras do sumo pontífice", diz a nota.
"Ele telefonou para me felicitar, valorizou minha coragem nessa luta e me disse 'coragem e sabedoria'. E eu lhe disse: 'coragem eu tenho e estou trabalhando na sabedoria'", declarou Milei posteriormente, em uma entrevista publicada no YouTube.
O presidente eleito revelou que convidou o papa para ir à Argentina. "Disse a ele que seria recebido com todas as honras de um chefe de Estado e de líder espiritual dos argentinos, porque o catolicismo é a religião majoritária na Argentina", acrescentou.
"Não só não me surpreendeu, como contribuiu para colocar a relação da Argentina com a Santa Sé no lugar que lhe corresponde e do qual nunca deveria ter saído", comentou José Ignacio López, um velho amigo de Francisco e analista eclesiástico, à AFP.
Ainda nesta terça, Milei manteve sua primeira reunião com o presidente Alberto Fernández para coordenar a transição de governo, assim como a posse, marcada para 10 de dezembro, confirmou o escritório do presidente eleito. O encontro durou quase duas horas e não houve declarações à imprensa.
"As equipes técnicas estão iniciando conversas com todas as áreas do gabinete nacional a fim de empreender uma transição ordenada e responsável", diz o comunicado de Milei.
A Bolsa de Valores de Buenos Aires fechou em alta de 17,7% nesta terça-feira, primeiro dia útil após o segundo turno presidencial em que Milei venceu com 55,7% dos votos o ministro da Economia, o peronista Sergio Massa.
As ações da petrolífera estatal YPF lideraram este aumento, com valorização de 36,5%. Esta é uma das empresas que o presidente eleito anunciou que iria privatizar no âmbito de uma ampla reforma do Estado.
"Tudo o que puder estar nas mãos do setor privado estará nas mãos do setor privado", garantiu Milei após a vitória. O presidente eleito também prometeu reduzir o gasto público em 15%.
As outras ações que impulsionaram o desempenho da bolsa foram as da companhia telefônica privada Telecom Argentina (33,8%).
Segunda-feira foi feriado na Argentina e os mercados não funcionaram. Mas as ações argentinas listadas em Wall Street já haviam disparado, com a YPF na liderança (+40%).
A taxa de câmbio informal, conhecida como "dólar blue", teve um salto de mais de 13%, sendo negociada a 1.075 pesos por dólar. O câmbio oficial, por sua vez, fechou em 371,50 pesos por dólar, continuando sua trajetória ascendente como resultado das microdesvalorizações diárias.
Ainda em outubro, o "blue" já havia ultrapassado a barreira psicológica dos 1.000 pesos, mas depois voltou a cair, girando em torno de 950.
A Argentina aplica um sistema de controle cambial desde 2019, com diversas taxas de câmbio funcionando em paralelo, uma situação que Milei pretende eliminar.
A inflação anualizada atingiu 143% em outubro e a pobreza atinge 40% da população.
"O país enfrenta há muitos anos uma deterioração cada vez maior dos seus desequilíbrios macroeconômicos estruturais", alertou a economista Elisabet Bacigalupo à AFP, que, no entanto, considera que o presidente eleito "tem muitas oportunidades que pode capitalizar".
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