Guiana espera 'sensatez' em controvérsia territorial com a Venezuela
O presidente da Guiana, Irfaan Ali, disse, neste sábado (18), que espera que "a sensatez" prevaleça na controvérsia territorial com a Venezuela, mas assegurou que seu governo dá "passos" em qualquer cenário, ao que Caracas respondeu, qualificando-o de "belicista".
"Penso que a sensatez vai prevalecer, penso que a paz desta região deve ser importante também para a Venezuela (...), mas não damos nada por certo", comentou Ali durante coletiva de imprensa.
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O presidente guianense questionou um referendo que o país vizinho fará em 3 de dezembro, no qual consultará se dá a nacionalidade venezuelana aos moradores do Esequibo, um território de 160.000 km2 rico em petróleo e recursos, disputado pelos dois países, e se declara a área como um novo estado.
"Estamos nos assegurando de dar todos os passos necessários, tomar todas as medidas, para garantir que nossa integridade territorial e nossa soberania estejam protegidas", acrescentou.
O governo da Venezuela, que está em plena campanha pelo referendo, acusa a gigante energética ExxonMobil de "financiar" Ali para "roubar" o Esequibo, que a Guiana administra apesar de uma disputa territorial com o país vizinho de mais de um século.
Ali considerou as propostas do referendo como "violações aos princípios mais fundamentais da lei internacional" e "uma ameaça para a paz e a segurança na América Latina e no Caribe".
O governante guianense assegurou que seu governo falou do assunto com "parceiros", inclusive "membros do Conselho de Segurança" da ONU, em alusão aos Estados Unidos, embora não tenha dado mais detalhes.
"Acreditamos que a Venezuela não agiria de forma imprudente. No entanto, se agirem de forma imprudente (...), já contactamos nossos aliados estratégicos", informou.
A Guiana defende um laudo arbitral realizado em Paris em 1899, mas a Venezuela o rejeita e reivindica um tratado assinado em Genebra em 1966 com o Reino Unido, antes da independência guianense. A controvérsia está nas mãos da Corte Internacional de Justiça (CIJ), cuja jurisdição Caracas não reconhece.
A reivindicação recrudesceu com a descoberta de jazidas petrolíferas na região, que aumentaram as reservas da Guiana em pelo menos 10 bilhões de barris, superando as de Kuwait e Emirados Árabes.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, propôs uma reunião com Ali apesar das tensões crescentes.
Altos funcionários do governo venezuelano divulgaram esta semana pelas redes sociais uma caricatura na qual Ali carrega uma maleta cheia de dólares com logos da ExxonMobil.
Ali se disse disposto a ter conversas como "bom vizinho", mas destacou que a controvérsia territorial deve ser decidida na CIJ.
"Falou o empregado belicista da ExxonMobil (...) para ameaçar a Venezuela", reagiu na rede social X, antigo Twitter, a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, em resposta às declarações de Ali.
Maduro "tem sido muito claro: NÃO PROVOQUEM A VENEZUELA! Não temos medo de seus amos imperiais, dos quais herdou grosseira arrogância. O sr. Irfaan já proferiu sentença contra a Venezuela. E agora pretende amedrontar nosso povo com seus chefes militares do Comando Sul. Em 3 de dezembro haverá referendo e em 4 de dezembro continuaremos livres e independentes! O sol da Venezuela nasce no Esequibo!", publicou Rodríguez.
Neste domingo, as autoridades venezuelanas farão uma simulação do referendo.