Implante na medula espinhal permite a paciente com Parkinson andar quase normalmente
14:16 | Nov. 06, 2023
Um homem com mal de Parkinson em estágio avançado recuperou quase totalmente a capacidade de caminhar, graças a eletrodos implantados em sua medula espinhal, informou um grupo de pesquisadores nesta segunda-feira (6).
A façanha médica pode ser uma tecnologia "revolucionária" para as pessoas que lutam para se mover, apesar desse debilitante transtorno cerebral.
O tratamento foi desenvolvido por pesquisadores suíços que já haviam usado implantes na medula espinhal para ajudar que várias pessoas com paraplegia voltassem a andar.
O paciente, Marc, um homem de 62 anos que vive na França, sofre de mal de Parkinson há aproximadamente 30 anos. Assim como mais de 90% das pessoas com Parkinson avançado, Marc tem grande dificuldade para caminhar.
Os chamados episódios de "congelamento", durante os quais os pacientes ficam temporariamente impossibilitados de se mover, expondo-os a risco de quedas, são particularmente "terríveis", disse Marc à AFP.
"Se você tem um obstáculo ou se alguém passa na sua frente, inesperadamente, você começa a 'congelar' e cai", disse Marc, que não quis revelar seu sobrenome.
Muitos aspectos do mal de Parkinson ainda são desconhecidos, e o tratamento desses sintomas tem-se mostrado difícil. Podem afetar seriamente a vida dos pacientes, às vezes deixando-os acamados ou presos a uma cadeira de rodas.
Então, quando surgiu a oportunidade de se submeter a uma cirurgia invasiva na Suíça com o objetivo de resolver o problema, Marc não hesitou em aproveitar a oportunidade.
"Agora posso andar de um ponto a outro sem me preocupar em como chegarei lá", disse.
"Posso dar um passeio, fazer compras sozinho. Posso fazer o que quiser", acrescentou.
A equipe suíça de pesquisadores implantou um sistema complexo de eletrodos chamado "neuroprótese" em pontos-chave ao longo da medula espinhal de Marc.
"Desenvolvemos uma neuroprótese que reduziu os problemas de marcha, os problemas de equilíbrio e o congelamento da marcha", disse a equipe liderada pela cirurgiã Jocelyne Bloch e pelo neurocientista Gregoire Courtine.
Os dois já haviam feito um avanço usando implantes na medula espinhal que permitiram que pacientes paraplégicos voltassem a andar.
A pesquisa mais recente, publicada na revista Nature Medicine, funcionou, segundo quase o mesmo princípio.
No caso de pacientes paralisados, o trauma provém de um acidente, que corta a comunicação entre o cérebro e a medula espinhal. Para Marc e outros pacientes com Parkinson, essa comunicação ainda existe, mas o sinal cerebral é afetado pelo desaparecimento progressivo dos neurônios que geram a dopamina, que é um neurotransmissor.
Nesse caso, a neuroprótese teve de fazer mais do que simplesmente enviar um estímulo elétrico que provocasse o movimento. Também teve de assumir o papel do cérebro na geração desse estímulo no momento adequado para que o movimento resultante correspondesse aos desejos do paciente.
"A ideia é medir os movimentos residuais, ou seja, a intenção de andar, com pequenos sensores que se encontram nas pernas", disse Courtine à AFP.
"Graças a isso, sabemos se a pessoa quer balançar, ou parar, e podemos ajustar o estímulo de acordo", disse Courtine, pesquisadora do Instituto Federal Suíço de Tecnologia em Lausanne.
A neuroprótese foi testada primeiro em primatas e depois implantada em Marc, que a usa aproximadamente oito horas por dia há quase dois anos.
Marc disse que agora consegue andar com muito mais facilidade e que até planeja uma viagem ao Brasil. Ainda assim, completou, o esforço exige concentração, principalmente ao subir escadas.
Mas até que ponto este implante pode ajudar muitos outros pacientes com Parkinson que lutam para andar todos os dias? A doença afeta os pacientes de diferentes maneiras.
A equipe suíça ampliou seu experimento para um grupo de seis pacientes com Parkinson.
O implante invasivo é bastante caro, o que limita o acesso de muitos pacientes.
Bloch e Courtine lançaram uma "startup" chamada Onward para investigar sua futura comercialização. Mas mesmo chegar a este ponto já representa "um grande avanço potencial", de acordo com David Dexter, diretor de pesquisa do Parkinson's UK.
"Este é um procedimento bastante invasivo, mas pode ser uma tecnologia revolucionária para ajudar a restaurar os movimentos em pessoas com Parkinson avançado", disse Dexter, enfatizando que são necessárias mais pesquisas.
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