Rebeca Andrade, a ginasta de ouro do Brasil
08:48 | Out. 17, 2023
Antes de chegar ao topo da ginástica artística, Rebeca Andrade percorreu um caminho difícil. Para a sorte do Brasil, ela ela nunca desistiu e agora promete trazer várias medalhas de ouro para o país em sua estreia nos Jogos Pan-Americanos de 2023, em Santiago.
A paulista de 24 anos chega à capital chilena como uma das estrelas do evento, com as ausências da americana Simone Biles e da rainha do salto triplo, a venezuelana Yulimar Rojas.
Rebeca vem de conquistar cinco das seis medalhas do Brasil no Mundial de Ginástica Artística da Antuérpia: ouro no salto, superando Biles; prata no individual geral, na competição por equipes e no solo; e bronze na trave de equilíbrio.
"E pode vir mais que eu amo, tá? Eu amo! Vem, vem vem. Muito ouro!", prometeu.
No Mundial, ela mostrou que seu sucesso durante a pausa de Biles desde os jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, não foi por acaso.
"Temos um sentimento que cresce entre as duas para dar o melhor. Adoro tê-la como competidora. É incrível de ver, será extraordinária", disse a estrela americana sobre Rebeca.
Mas o caminho para se tornar uma estrela não foi fácil. Nascida em Guarulhos, Rebeca Andrade cresceu em uma casa humilde sustentada sozinha pela mãe, Rosa Santos, empregada doméstica e mãe de oito filhos.
A ginasta de 1,54 metro de altura entrou pela primeira vez em um ginásio aos quatro anos de idade, graças a um projeto social da prefeitura de sua cidade.
"A Rebeca chegou com a tia no ginásio, toda tímida. Quando pedi a ela para dar um salto, logo vi um talento incrível, que precisaria ser lapidado. E foi isso o que fizemos com ela", lembrou sua então professora, Mônica dos Anjos, em 2021.
Muitas vezes, sua presença nos treinos esteve em risco por falta de dinheiro para o transporte. Mas ao ver sua habilidade, seus irmãos mais velhos se ofereciam para acompanhá-la durante uma caminhada de duas horas.
Não demorou muito para que ela ganhasse o apelido de "Daianinha de Guarulhos", em alusão a Daiane dos Santos, primeira ginasta brasileira a ser campeã mundial (2003) e sua inspiração.
Aos nove anos, foi treinar durante uma temporada em Curitiba e, um ano depois, se tornou atleta do Flamengo.
"Diziam 'você é doida de deixar sua filha ir embora'. Mas eu tive a sabedoria e a mente aberta para deixá-la seguir seus sonhos", disse sua mãe ao portal UOL.
Rebeca, que quer se dedicar às artes cênicas quando se aposentar, começou a mostrar resultados muito rápido.
Em 2012, aos 13 anos, em seu primeiro campeonato profissional, conquistou o Troféu Brasil de Ginástica Artística superando lendas como Daniele Hypóluto e Jade Barbosa.
Seu nome começou a ganhar destaque, embora sua carreira tenha tenha sido interrompida algumas vezes por lesões no joelho que a obrigaram a passar por três cirurgias entre 2015 e 2019.
Após sua primeira operação, ficou em décimo lugar nos Jogos Olímpicos do Rio 2016. Para Tóquio, contou com um pouco de sorte: nova cirurgia e oito meses de recuperação, mas o adiamento do evento por conta da pandemia de Covid-19 lhe deu tempo para se preparar.
Sem Simone Biles, Rebeca se transformou em revelação ao levar o ouro no salto e a prata no individual geral, tornado-se a primeira brasileira a conquistar duas medalhas na mesma competição.
"Sempre vi minha história como um processo de superação, porque passei por coisas muito difíceis", afirmou então.
Em suas apresentações, ela homenageia suas raízes, de um Brasil popular, negro e discriminado. Em Tóquio, dançou ao ritmo do funk "Baile de favela", de MC João, e "Tocata e Fuga em Ré Menor", de J.S. Bach, com o popular ritmo carioca.
Essa música, com a qual quis mostrar "do que o negro é capaz", a acompanhou também nos Mundiais de Kitakyushu 2021 e Liverpool 2022, onde obteve, respectivamente, as medalhas de ouro no salto e no individual geral.
Na Antuérpia, estreou uma nova coreografia: uma mistura de "End of time", de Beyoncé, com o funk "Movimento da Sanfoninha", da cantora Anitta.
Rebeca também protagonizou na Bélgica uma imagem histórica: um pódio só com ginastas negras, ao lado das americanas Simone Biles e Shilese Jones.
"É maravilhoso. Eu amei. Wakanda Forever!", disse em referência ao filme Pantera Negra, que também poderia ser seu apelido.
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