Israel ordena que todos os palestinos saiam do norte de Gaza: milhares fogem em meio ao caos
14:57 | Out. 13, 2023
As Forças Armadas de Israel ordenaram que todos os palestinos vivendo na porção norte da Faixa de Gaza devem se retirar da região e ir para sul do território para "preservar vidas civis", sugerindo uma provável invasão da região. Ao menos 1,1 milhão de pessoas moram na área indicada.
Milhares de civis já começaram a deixar Gaza a pé, de carro, em motos e caminhões. O movimento em massa de civis é caótico e perigoso, já que é feito por apenas uma estrada, em uma das regiões mais densamente povoadas da Cidade de Gaza. O Hamas rejeitou o ultimato e pediu para que os palestinos "se mantenham firmes".
A ordem foi enviado pelo Exército de Israel para aos líderes do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU e do Departamento de Segurança e Proteção em Gaza pouco antes da meia-noite, horário local. A ONU foi informada de que o marco que dividia o norte do sul era Wadi Gaza (Rio Gaza).
A área compreende a Cidade de Gaza, que o exercito israelense chamou de "uma área onde ocorrem operações militares" e onde anunciou que "continuará a operar de forma significativa".
"As Nações Unidas consideram impossível que tal movimento ocorra sem consequências humanitárias devastadoras", disse em comunicado o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric. "A ONU apela veementemente para que qualquer ordem desse tipo, se confirmada, seja revogada, evitando o que poderia transformar a atual tragédia em uma situação calamitosa."
"A mesma ordem foi aplicada a todos os funcionários da ONU e àqueles abrigados em instalações da ONU - incluindo escolas, centros de saúde e clínicas", disse Dujarric.
"As Forças de Defesa de Israel pedem a retirada de todos os civis da Cidade de Gaza de suas casas para o sul, para sua própria segurança e proteção, e que se desloquem para a área ao sul de Wadi Gaza, conforme mostrado no mapa. A organização terrorista Hamas travou uma guerra contra o Estado de Israel, e a Cidade de Gaza é uma área onde ocorrem operações militares. Essa evacuação é para sua própria segurança", descrevia o comunicado.
Em uma declaração no Telegram, o grupo terrorista Hamas, que controla o enclave palestino da Faixa de Gaza, disse aos palestinos para não atenderem às exigências israelenses de fugirem do norte da Faixa de Gaza para o sul. "Israel está se concentrando na guerra psicológica para atacar nossa frente doméstica e expulsar cidadãos", disse o Ministério do Interior de Gaza.
Em resposta, o principal porta-voz militar de Israel, o Contra-Almirante Daniel Hagari, disse que a responsabilidade pelo que acontecer aos residentes de Gaza que não deixarem a metade norte do enclave recairá "sobre a cabeça daqueles que lhes disseram para não se retirarem", ou seja, o Hamas.
Já na manhã desta sexta-feira, 13, os militares israelenses sugeriram que não há um prazo rígido para sua ordem de evacuação. "Entendemos que isso levará tempo", disse aos repórteres o contra-almirante Daniel Hagari, porta-voz militar chefe. "Estamos analisando os números". Ele disse que Israel estava "controlando seus ataques" a fim de proporcionar uma passagem segura para o sul, dentro do possível, mas disse: "É uma zona de guerra".
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), a agência da ONU para refugiados palestinos, disse em um comunicado no site de mídia social X que havia transferido seu centro de operações e sua equipe internacional para a parte sul de Gaza.
A agência, que tinha 220 mil pessoas abrigadas em 92 de suas escolas, pediu a Israel que protegesse os civis nas escolas e abrigos, que, segundo ela, "devem ser protegidos em todos os momentos e nunca devem ser atacados segundo o direito humanitário internacional".
O Conselho de Segurança da ONU está programado para realizar uma reunião de emergência na tarde de sexta-feira, 13, em um formato de consulta fechada.
O Conselho ainda não emitiu uma declaração sobre o conflito entre Israel e o Hamas porque uma declaração requer a aprovação de todos os 15 membros, e houve divisões sobre a linguagem que condenaria o ataque do Hamas, mas não abordaria as queixas palestinas e o cerco de Gaza.
Invasão terrestre em Gaza prestes a ocorrer
Dias após o ataque terrorista sem precedentes do Hamas no sábado, 7, Israel está se preparando para uma grande operação militar de invasão por terra na Faixa de Gaza.
Com pelo menos 1,2 mil mortos em Israel, e 2,7 mil feridos na mais letal incursão ao território israelense da História, o premiê israelense Binyamin Netanyahu, está sob enorme pressão para mandar tropas ao enclave. Ele já respondeu com bombardeios aéreos que mataram pelo menos 1,1 mil palestinos em Gaza.
Há pouca discussão no novo governo de coalizão, que deve aprovar os planos militares, sobre a necessidade de desmantelar o Hamas - para garantir que nunca mais o grupo terrorista possa ameaçar Israel e que os responsáveis pela morte de mais de 1,3 mil civis israelitas sejam caçados, dizem as autoridades.
Em discurso televisionado na última quarta-feira, 11, Netanyahu, prometeu "esmagar e destruir" o Hamas. "Todo membro do Hamas é um homem morto", acrescentou.
A ONU revelou que 338.934 pessoas foram deslocadas na Faixa de Gaza em meio aos bombardeios israelenses. Dezenas de pessoas também estão desaparecidas ou mantidas como reféns pelo Hamas.
Não há dúvida de que uma grande operação está por vir. Perto da fronteira, já existem tropas e tanques israelitas em grande quantidade, e o país convocou 360 mil reservistas.
Famílias já tentam fugir para o sul
Apesar da ordem do Hamas para que as famílias não se retirem do território, muitas têm preferido não arriscar suas vidas em um possível novo e maior ataque de Israel. Nesta sexta-feira, 13, vídeos publicados nas redes sociais já mostram diversas famílias se mobilizando para deixar o norte de Gaza. As estradas que conectam norte e sul do território palestino estariam lotadas.
A falta de combustível para os veículos, por conta do embargo feito por Israel, é um desafio para quem tenta se locomover. De acordo com a ONU, a região tem apenas algumas horas restantes de abastecimento de combustível. Muitas cidades também estão cheia de escombros dos bombardeios anteriores e há muitas crianças a serem levadas - quase metade da população tem menos de 18 anos. (Com agências internacionais)