Encurralado, Netanyahu não tem outro caminho que não seja destruir o Hamas

O ataque surpresa do Hamas contra Israel abalou os alicerces do governo de Benjamin Netanyahu, que já estava sob pressão devido a complicações políticas e judiciais, e agora está compelido a focar em uma única tarefa: desmantelar a infraestrutura do Hamas na Faixa de Gaza.

A mudança nas prioridades políticas é explicada pelo trauma coletivo causado pela operação realizada por uma organização classificada como terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia, que deixou pelo menos 1.200 mortos em Israel, a maioria civis, incluindo muitas mulheres e crianças.

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Isso sem mencionar a captura de dezenas de civis, levados como reféns para Gaza.

"Netanyahu está encurralado. Todos estão pressionando ele, até mesmo dentro de seu partido, o Likud", disse um renomado especialista em política israelense, Akiva Eldar, à APF.

Segundo este especialista, até mesmo o apoio dado a Netanyahu pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não constitui uma "carta branca".

"Bibi [apelido popular de Netanyahu] se vê obrigado a destruir a infraestrutura do Hamas. Mas se isso significar que as crianças de Gaza começarão a morrer de fome, a opinião pública mundial, até agora favorável a Israel, mudará", afirma Eldar.

Uma operação militar contra Gaza apresenta outros riscos.

"A resposta deve ser proporcional aos horrores cometidos pelo Hamas, mas Netanyahu não pode se dar ao luxo de se responsabilizar pela morte de mil soldados e dos reféns", destaca.

O primeiro-ministro à frente do governo mais à direita da história de Israel também deve evitar a paralisia do país, como a que ocorreu durante os 34 dias da guerra contra o Hezbollah libanês em 2006, alertam os economistas.

Uma paralisia é provável, de acordo com uma fonte militar israelense, uma vez que o exército não está preparado para combater em três frentes: Gaza no sul, o Hezbollah no norte e um eventual levante na Cisjordânia ocupada, no leste.

Netanyahu e um dos principais líderes da oposição, o centrista Benny Gantz, anunciaram nesta quarta-feira a formação de um governo de emergência que permanecerá em funções até o fim da guerra.

Em seu primeiro discurso à frente do novo governo, o mandatário prometeu "esmagar" o Hamas e afirmou que qualquer membro dessa organização poderia ser considerado "um homem morto".

A entrada de Gantz no governo "reduzirá as tensões, sem mudar nada na essência", avalia o cientista político e ex-deputado trabalhista Daniel Bensimon.

"Netanyahu está com os dias contados e ele sabe disso. Não sobreviverá a essa crise. Sua carreira política está acabada. Em Israel, algo assim não acontecia desde a fundação do próprio Estado em 1948", acrescenta.

"Haverá uma comissão de investigação [sobre o ataque do Hamas]. Será terrível. Ele cairá junto com seus ministros nos aterros da História, com essa marca vergonhosa na testa: a do maior fracasso político e militar de Israel. E ele sabe disso", acrescenta.

Reuven Hazan, professor de ciências políticas na Universidade de Jerusalém, prevê que os protestos em massa contra a reforma judicial impulsionada por Netanyahu, que há meses divide a sociedade israelense, ganhem mais força quando as armas se calarem.

Toda a estratégia de Netanyahu em relação ao Hamas desmoronou e a opinião pública "fará ele pagar muito caro, quando esse pesadelo terminar", afirma.

"Sua concepção estava errada", diz Hazan, observando que o Hamas, no comando de Gaza desde 2007, e Netanyahu, homem forte de Israel desde 2009, "chegaram ao poder quase ao mesmo tempo e foi durante esse período que os islamitas conseguiram se fortalecer até este ponto".

De fato, as seis guerras desencadeadas pelos disparos de foguetes do Hamas desde 2005, quando Israel se retirou de Gaza, não foram de qualquer utilidade para o Estado hebreu.

"Cometemos um erro monumental ao imaginar que uma organização terrorista poderia mudar seu DNA", declarou na terça-feira o general Yaakov Amidror, ex-consultor de segurança nacional, referindo-se à retirada israelense do enclave.

Uma posição que levanta a questão mais urgente do momento, formulada pelo Jerusalem Post: "Será talvez o momento de voltar a ocupar a Faixa de Gaza?".

O Hamas afirmou que sua ofensiva visava pôr fim aos "crimes da ocupação" israelense nos territórios palestinos.

"Quando você entra em Gaza, nunca sabe como sairá", adverte Akiva Eldar. "Esse é todo o dilema de Netanyahu. Resta ver se ele será suficientemente racional para tomar a decisão correta", conclui.

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